Mistérios da ditadura ainda intrigam 50 anos após o golpe
Mortes, torturas e ocultações de corpos ainda estão por ser solucionados; Câmara busca respostas
Brasil|Do R7
A Câmara dos Deputados realiza audiência pública nesta terça-feira (1º) para tentar esclarecer as circunstâncias da prisão, morte e ocultação de cadáver do ex-deputado Rubens Paiva, morto durante a ditadura militar (relembre o caso). A audiência, que deve contar com a presença do general reformado do Exército José Antônio Nogueira Belham, é apenas uma das tentativas de resolver os inúmeros mistérios deixados pelo regime militar.
Em novembro do ano passado, o corpo do ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe de 1964, foi exumado, para tentar solucionar suspeitas de que ele foi assassinado. Apesar de Jango ter problemas de saúde, nunca ficaram claros os motivos de sua morte. A família do ex-presidente ainda aguarda a elucidação do que de fato ocorreu.
A morte de outro ex-presidente à época também deixou suspeitas. Senador casado durante o regime militar, Juscelino Kubitschek morreu em um acidente de carro na Rodovia Presidente Dutra, de acordo com a versão oficial.
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Em março deste ano, contudo, a Comissão da Verdade de São Paulo encaminhou um ofício à presidente Dilma Rousseff para pedir que a ditadura militar fosse responsabilizada pro sua morte. Segundo o vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, "JK foi vítima de conspiração, complô e atentado político”.
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Menos famoso que os ex-presidentes, o estudante da UnB (Universidade de Brasília) Honestino Guimarães é outra vítima da ditadura sem fim para a própria história. Detido no dia 10 de outubro de 1973, no Rio de Janeiro, Honestino nunca mais foi visto. Apenas 23 anos depois, no dia 12 de março de 1996, sua família receberia uma certidão de óbito, tendo como data da morte o dia 10 de outubro de 1973, mas sem a causa da morte.
Como Honestino, dezenas de militantes que lutavam contra a ditadura sumiram de uma hora para outra, sem justificativa ou com versões esdrúxulas para a morte. É o caso do jornalista Vladimir Herzog, que, segundo o governo militar, teria cometido suicídio nas dependências do II Exército , em São Paulo.
A fotografia que registra sua morte denuncia, contudo, que ele não tinha como se enforcar daquela forma, já que suas pernas ainda conseguiam tocar o chão. Em setembro de 2012, após recomendação da Comissão da Verdade, a Justiça de São Paulo determinou a mudança do registro de óbito de Herzog, para que a causa da morte do jornalista fosse alterada de asfixia mecânica para morte por "de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP".
Apesar de a Comissão da Verdade ter avançado na elucidação de detalhes sobre as causas de mortes como a de Herzog, a dificuldade em obter informações sobre um período tão obscuro dão a impressão de que algumas coisas nunca serão descobertas. Boa parte dos responsáveis diretos por torturas e mortes, por exemplo, talvez nunca sejam conhecidos.