Polícia Civil pede quebra de sigilos de advogados do PT citados por PCC
Denúncia diz que advogados teriam recebido dinheiro da facção para atuar em nome do partido e de ONG em ação relativa a visitas em presídios federais
Brasil|Cesar Sacheto, do R7, com informações da Record TV
A Polícia Civil de São Paulo solicitou à Justiça a quebra do sigilo do advogado Geraldo Luiz Mascarenhas Prado, que representa o PT, do advogado Carlos Nicodemos e da ONG Instituto Anjos da Liberdade, do Rio de Janeiro, por suspeita de terem recebido R$ 1,5 milhão de um integrante da facção criminosa PCC para atuar em uma ação contra uma portaria do Ministério da Justiça impetrada no STF (Supremo Tribunal Federal).
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Os investigadores encontraram mensagens no aparelho celular de Décio Gouveia Luiz, conhecido como Décio Português, membro da facção preso em agosto deste ano, que revelariam o suposto objetivo do dinheiro repassado aos advogados e à ONG: derrubar restrições a visitas em presídos federais.
As mensagens detalhariam a forma de pagamento dos advogados: R$ 1 milhão foi destinado para uma pessoa chamada Nicodemos para entrar com a ação na Corte Interamericana de Direitos Humanos — um documento mostra que, em maio, o advogado Carlos Nicodemos, ingressou com petição na OEA (Organização dos Estados Americanos) contra portaria do Ministério da Justiça.
Outro trecho da mensagem revela que cerca de R$ 1,5 milhão seria pago para um advogado chamado Geraldo — em 22 de abril deste ano, o advogado Geraldo Luiz Mascarenhas Prado e outros dois colegas entraram com ação no STF para pedir a anulação da ação movida pela ONG e pelo PT por considerá-la inconstitucional. No processo, há uma procuração da presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann, para o advogado atuar em nome do partido.
O Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais da Polícia Civil de São Paulo), responsável pela operação que resultou na prisão de Décio Português, não fornecerá informações sobre o inquérito que corre em segredo de justiça.
PT repudia ligação com o crime
O PT afirmou, por meio de nota, que ajuizou uma ação contra a portaria para proteger os direitos de familiares dos presos. O partido disse também que desconhece supostas relações dos advogados e da ONG com organizações criminosas e repudia qualquer tentativa de associar o partido ao crime.
Advogados contestam denúncia
Em nota, o advogado Geraldo Luiz Mascarenhas Prado rebateu a denúncia de que teria recebido valores para atuar em favor do PCC, conforme reportagem de 4 de outubro do Jornal da Record, da Record TV.
O advogado considera "totalmente mentirosa" a informação de que foi contratado pela organização criminosa. "De forma absolutamente gratuita fui constituído advogado do Instituto Anjos da Liberdade para impugnar a Portaria 157/2019 do Ministério da Justiça que proibiu crianças e adolescentes de terem convivência com os pais presos".
Para Geraldo Luiz Mascarenhas Prado, "trata-se de uma afronta a todos os tratados de direitos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, e um desrespeito às garantias fundamentais da Constituição Brasileira".
O texto diz ainda que "a tentativa espúria de vincular a defesa dos direitos humanos à defesa da criminalidade não passa de uma ilação maliciosa muito em voga em tempos atuais de fake news. Quero crer que esses devidos esclarecimentos serão prestados ao público desse conceituado jornal", escreveu Geraldo Luiz Mascarenhas Prado.
Já o advogado Carlos Nicodemus afirmou que a mensagem não tem procedência e que entrou com um processo na OEA em nome da ONG Instituto Anjos da Liberdade.
ONG se manifesta
A advogada Flávia Pinheiro Fróes, presidente do Instituto Anjos da Liberdade, diz que a ONG é uma organização sem fins lucrativos fundada há 17 anos que atua em todo o Brasil na defesa de direitos fundamentais e do estado democrático de direito.
Nessa atuação, a ONG tem denunciado o caos instalado nos sistemas penitenciários estaduais que abriga hoje mais de 800 mil pessoas, sendo o Estado violador de tratados internacionais assinados pelo Brasil, para além das violações constitucionais e legais praticadas.
Em 2017, a ONG impetrou dois mandados de segurança, sendo o primeiro junto
à justiça federal de Brasília, contra a portaria do então diretor do DEPEN que proibia as visitas sociais de pátio, todas devidamente monitoradas, nas penitenciárias federais, tendo sido a segurança concedida.
Os advogados da ONG buscaram vários partidos políticos para denunciar a violação dos Direitos Humanos, tendo o PT, após deliberação, resolvido atuar com a arguição junto ao STF.
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O Instituto Anjos da Libertade repudia a "tentativa vil de criar embaraço ao julgamento, levando a opinião pública a contrariar o legítimo reconhecimento de direito fundamental, bem como tentar constranger ou intimidar o STF com tal espúria manobra midiática".
Capitão do penta investigado
A investigação também apura repasses de quantias por depósitos bancários, feitos por Décio Português, em nome do ex-jogador de futebol Cafu, capitão da seleção brasileira na conquista do pentacampeonato mundial na Copa de 2002.
De com as apurações iniciais, o ex-jogador teria vendido um terreno em Alphaville, no município de Barueri, para o suposto membro do setor de contabilidade da facção criminosa Décio Português, preso em agosto.