Bolsonaro pressionou ministros a disseminar notícias falsas sobre eleições, diz PF
'Vou entrar em campo usando o meu exército, meus 23 ministros', afirmou ex-presidente durante campanha em 2022
Brasília|Plínio Aguiar e Gabriela Coelho, do R7, em Brasília
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pressionou os ministros de seu governo, durante reunião realizada em 5 de julho de 2022, para que promovessem e replicassem, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado para fins ilícitos e dissociados do interesse público. "Vou entrar em campo usando o meu exército, meus 23 ministros", afirmou o ex-chefe do Executivo na ocasião. É o consta no relatório enviado pela Polícia Federal para embasar a operação realizada nesta quinta-feira (8).
A reunião foi convocada por Bolsonaro e contou com a presença de diversos ministros, como Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Walter Braga Netto (Casa Civil), segundo a PF.
O encontro tinha o objetivo de "reforçar aos presentes a ilícita desinformação contra a Justiça Eleitoral, apontando o argumento de que as Forças Armadas e os órgãos de inteligência do governo federal detinham ciência das fraudes e ratificavam a narrativa mentirosa apresentada pelo então presidente".
Os policiais federais obtiveram relatos da reunião após apreensão de computador na residência de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. "Tem acordo ou não tem com o TSE? Se tem acordo, que acordo é esse que está passando por cima da constituição? Eu vou entrar em campo usando o meu exército, meus 23 ministros", afirmou o ex-presidente no encontro.
"Nós temos que nos expor. Cada um de nós. Não podemos esperar que outros façam por nós. Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos acomodar. Eu não posso fazer nada sem vocês", completou.
A PF afirma também que houve coação. "Em seguida, o então presidente da República, Jair Bolsonaro, assinala, ostensivamente, o objetivo da reunião: coagir os ministros e todos os presentes, para que aderissem à ilícita desinformação apresentada".
"Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai vim (sic) falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado, eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me ti... demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar , o cara tá no lugar errado", disse o ex-presidente na ocasião.
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Operação
Bolsonaro é um dos alvos da operação que a Polícia Federal realizou na manhã desta quinta-feira (8) em dez estados para apurar a participação de pessoas na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de Direito, com o objetivo de obter vantagem política com a manutenção do ex-chefe do Executivo no poder. Foi determinada a apreensão do passaporte do ex-presidente, e os agentes aplicaram outras medidas restritivas a ele.
Entre os alvos, estão o ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e os ex-ministros Braga Netto (Casa Civil), Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (GSI) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa). A PF prendeu o ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República Filipe Martins e o ex-ajudante de ordens da Presidência da República Marcelo Câmara.
Ao todo, os agentes cumprem 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas.