Brasil vive risco de virar narcoestado? O que dizem especialistas em segurança pública
Especialistas discordam que o crime organizado e o narcotráfico tenham influência e poder suficiente, mas apontam perigo
Brasília|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília
LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA
Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Em meio à megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, e o esquema do PCC no setor de combustíveis, alegações de que o Brasil teria se tornado um narcoestado tomaram conta das redes sociais.
Apesar das discussões, especialistas discordam que o crime organizado e o narcotráfico tenham influência e poder suficiente a ponto de influenciar o governo.
📝O narcoestado são Estados onde as instituições e a economia dependem do tráfico de drogas e outras atividades ilícitas, alimentando a violência, crime organizado e corrupção. Também pode se referir a uma região sob o controle do crime organizado para fins de produção ou tráfico de drogas, onde não há autoridade política legítima. O termo já foi usado para descrever algumas regiões Colômbia, Guiné-Bissau, Suriname e México.
Veja mais
Especialistas em segurança pública ouvidos pelo R7 entendem que o Brasil não é um narcoestado, mas é visto como um ponto estratégico do tráfico internacional.
Para o advogado criminalista e especialista em segurança pública Jaime Fusco, o país funciona como um entreposto estratégico e um hub logístico do tráfico internacional, além de um ponto de “intercâmbio” operacional para organizações criminosas transnacionais.
“O país oferece rotas, infraestrutura, fronteiras extensas e vulneráveis e facilidades logísticas, mas ainda não há domínio sistêmico do Estado por cartéis que somente lucram com a venda de narcóticos, como ocorre em exemplos clássicos de narcoestado”, completou.
Apesar disso, Fusco diz acreditar que o país tem sinais “preocupantes” que exigem atenção. Entre eles o envolvimento de agentes públicos do alto escalão com organizações criminosas e o avanço de milícias e facções com acesso a estruturas do Estado e conhecimento interno das engrenagens do poder público.
O avanço das facções criminosas levou esses grupos a uma receita anual estimada de R$ 146,8 bilhões a partir de 2022, levando em consideração somente produtos como ouro, combustíveis, tabaco e bebidas, segundo dados do Fórum de Segurança.
Segurança pública
Cássio Thyone, membro do Fórum de Segurança Pública, explica que o Brasil tem características particulares em relação ao crime organizado e atualmente, existem regiões onde você tem mais ou menos influência dessas facções.
Com isso, ele entende que para enfrentar esses grupos, é necessário agir conforme as características particulares onde elas estão inseridas dentro dos das regiões onde elas prosperam.
“É tentar resolver isso usando muito mais inteligência, afetando a área financeira, como já tem acontecido. E esperar que isso a longo prazo dê resultados”, disse.
Thyone ressalta que os principais investimentos que devem ser feitos na área é a mudança na legislação, como endurecimento das penas e integração das forças de segurança.
A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Segurança Pública, por exemplo, tem por objetivo aprimorar a integração entre forças de segurança no país, segundo o governo federal. A medida, que funciona como um “SUS”, prevê o trabalho coordenado de polícias e órgãos de segurança federais, estaduais e municipais.
Apesar dos investimentos na área não se limitarem a recursos, o Brasil registrou uma despesa de R$ 3,7 bilhões em informação e inteligência em 2024. Já em policiamento, o total chegou a R$ 50,1 bilhões no mesmo ano.
Facções e terrorismo
Um projeto de lei que tramita na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados prevê equiparar facções criminosas ao terrorismo. Parlamentares da oposição tem se mobilizado para o texto ser aprovado, mas o governo já mostrou contra.
Na visão de Thyone, a classificação não é uma solução e pode indicar, ainda, risco à soberania do país. Ele explica que a possível lei pode abrir brechas para países como os Estados Unidos considerarem que existem grupos terroristas no Brasil.
“Por exemplo: você tinha grupos terroristas no Iraque, o Estado Islâmico e outros grupos por aí, o que mais ou menos cancelava, por exemplo, ações externas dos Estados Unidos para enfrentar um terrorismo que, segundo eles, afetava pouco o povo americano”, completou.
A movimentação ganhou força após a megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão contra o Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, na semana passada. A ação deixou ao menos 120 pessoas mortas, sendo dois policiais civis e dois militares.
Cenário de guerra
Mais letal da história do Rio de Janeiro, a megaoperação Contenção das polícias do Rio de Janeiro já contabiliza mais de 60 mortos, 81 presos e dezenas de armas e munições apreendidas. Ao mesmo tempo, a população das comunidades está assustada com tantos tiros
ESTADÃO CONTEÚDO
Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da RECORD, no WhatsApp







