Compromisso real com o ESG aumenta o valor de uma empresa, diz especialista
Boa governança, respeito ao meio ambiente e impacto social positivo aumentam valor das ações de uma empresa na Bolsa
Brasília|Carlos Eduardo Bafutto, do R7, em Brasília
O comprometimento com os aspectos do ESG (Environmental, Social and Governance, sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) pode aumentar o valor de uma empresa. É o que diz o professor da FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária) Fernando Dal-Ri Murcia.
De acordo com o especialista, como o mercado precifica antes, a ausência da gestão de riscos ESG impacta o preço dos ativos da empresa na Bolsa de Valores imediatamente, "e não apenas quando o risco se materializar no futuro". explica.
O especialista alerta também que, sob a ótica da gestão de riscos, a observância do ESG influencia o preço no mercado na medida em que aspectos relacionados à governança, ao meio ambiente e ao impacto social podem impactar os fluxos de caixa futuros da companhia.
"Sob a ótica da gestão de riscos, ESG faz sim preço no mercado na medida em que aspectos relacionados e governança, ao meio ambiente e ao social tem o condão de impactar os fluxos de caixa futuros da companhia", ressalta.
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Dal-Ri Murcia frisa que acionistas e credores do mercado de capitais buscam avaliar os riscos do investimento ao prover recursos às companhias. "Um princípio basilar das finanças corporativas é a relação risco/retorno, uma vez que o agente racional demandará retornos superiores à medida em que o risco aumenta", explica. "E isso possui efeito direto na empresa, pois o retorno demandado pelo provedor de capital é justamente o custo de capital da companhia", acrescenta.
Como exemplos de como o ESG influencia o valor de uma empresa, o especialista pontua os seguintes aspectos:
• Governança: riscos relacionados a fraudes, expropriação de acionistas, utilização não eficiente de recursos, relacionamento com partes relacionadas, falhas de controles internos etc;
• Ambiental: riscos relacionados a desastres ambientais [rompimento de barragens, afundamento de solo, derramamento de petróleo etc.], multas decorrentes de não compliance com a regulamentação, gestão de resíduos, eventos climáticos, emissões de GEE [Emissões de Gases de Efeito Estufa] etc; e
• Social: riscos relacionados aos colaboradores e terceirizados (trabalho escravo, assédio, discriminação, violência etc.), clima organizacional e qualidade do trabalho, cadeia de valor (clientes e fornecedores), comunidade local, sindicatos etc".
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Para Dal-Ri Murcia, os aspectos relacionados à sustentabilidade devem ser incorporados pelos administradores na gestão dos riscos. "De fato, sob uma perspectiva econômica, não é clara a distinção entre os riscos ESG e os riscos da própria atividade empresarial", afirma. Ele explica que em uma mineradora, por exemplo, na prática, não há diferenciação entre o tema do negócio e o ESG quando se fala em gestão adequada das barragens. "Essa diferenciação não existe, e nem deveria existir. Isso porque a 'verdadeira' sustentabilidade empresarial é aquela que está integrada e incorporada à estratégia, ao modelo de negócios e à gestão de riscos da companhia. Caso contrário, trata-se de mero greenwashing [falsa aparência de sustentabilidade, sem aplicação prática]", afirma.
"Isso porque a “verdadeira” sustentabilidade empresarial é aquela que está integrada e incorporada à estratégia, ao modelo de negócios e à gestão de riscos da companhia. Caso contrário, trata-se de mero greenwashing", completa.