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R7 Brasília

Corpo que passou três dias em maca de hospital será enterrado

Familiares finalmente se despedirão de João Henrique, deixado fora da refrigeração após a morte em um hospital público do DF

Brasília|Jéssica Moura e Luiz Calcagno, do R7, em Brasília

Depois de morto, João Henrique dos Santos Silva foi deixado em uma maca, sem refrigeração
Depois de morto, João Henrique dos Santos Silva foi deixado em uma maca, sem refrigeração

O auxiliar de cartório João Henrique dos Santos Silva, 28 anos, que teve o corpo deixado em decomposição em cima de uma maca sem ar refrigerado por três dias no HRS (Hospital Regional de Sobradinho), no Distrito Federal, será enterrado nesta terça-feira (9). A cerimônia ocorrerá às 11 horas, no cemitério de Planaltina (DF). Ele morreu em 4 de novembro.

Familiares farão apenas um cortejo e uma oração. Não terão direito a velório nem de se despedir olhando o rosto do ente querido uma última vez.

João Henrique jogava vôlei com amigos na última quinta-feira (4) quando passou mal. Foi socorrido por um dos presentes e, em seguida, pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que o levou para o HRS. Por volta de 21h30, o médico informou aos parentes que, mesmo com os procedimentos para estabilizá-lo, ele não resistira a uma parada cardiorrespiratória. A Polícia Civil e a Secretaria de Saúde do DF investigam o caso.

Teste de Covid-19

O médico que atendeu a família informou que o hospital submeteria João a um teste de Covid-19 e, em seguida, o corpo seria retirado por funcionários do SVO (Serviço de Verificação de Óbito). “O corpo seria encaminhado para o SVO, para que se descobrisse o que havia ocasionado a parada cardíaca, já que ele era tão jovem. Para investigar se era genética, má-formação. Porém, para levarem o corpo para o SVO, eles deveriam fazer o exame. Recolheram a amostra no dia 4. Haveria um período de 24 a 48 horas para o SVO buscá-lo”, contou a irmã de João, Priscila dos Santos Silva, 34.


“Na sexta, eles disseram que o resultado não tinha saído. No sábado, a mesma coisa. No sábado à noite, conseguimos o contato do SVO. A pessoa que nos atendeu foi prestativa. Informou que o hospital não tinha liberado o corpo. Disse que ia ver o que conseguia descobrir. Ela falou com o Lacen [Laboratório Central de Saúde Pública], conseguiu o resultado do exame e disse que iria buscar o corpo”, contou a irmã.

No entanto, quando os funcionários do SVO chegaram à unidade para buscar o corpo de João Henrique, ele estava na mesma maca da noite de quinta, ainda com os plugues dos aparelhos de medição de batimentos cardíacos, e já em estado de decomposição, com larvas e moscas, segundo Priscila.


Burocracia

Ao verem o estágio do cadáver, os técnicos da SVO informaram que não poderiam levar os restos de João Henrique, o que deveria ser feito pelo IML (Instituto Médico-Legal). A pedido de agentes da Polícia Civil, o IML autorizou os funcionários do SVO a levar o corpo para o instituto, para que ele não ficasse mais tempo preso no hospital. “No dia seguinte, no domingo, mandei mensagem para ela [a atendente do SVO] de manhã. Ela pediu para ligar. Disse que o corpo não estava armazenado, que estava jogado sem armazenamento, sendo impossível fazer a necropsia para descobrir a causa. Ela tirou foto do corpo para provar como estava”, narrou a mulher.

“Depois de tudo, no domingo, quase na hora do almoço, o hospital, pela primeira vez, entrou em contato para avisar que o corpo tinha ido para o IML. Só que a gente sabia, pois o SVO nos havia informado”, continuou Priscila. Ela lamenta que na certidão do irmão esteja escrito “morte a esclarecer”. Ela lembra que o irmão morreu jovem, e que a família ficará sem uma resposta à fatalidade. “Não vamos saber a causa, pois o HRS foi negligente. Toda a chefia que esteve lá de quinta a domingo viu o corpo dele jogado, e ninguém se preocupou. Foi desumano”, desabafou.


A família questiona, também, a quantidade de exames de Covid a que o corpo foi submetido. Ele teria passado por três até a autorização da necropsia no IML. Todos deram negativo. Priscila irá ao IML acompanhar a liberação do corpo na manhã desta terça, para que os parentes possam, finalmente, se despedir de João Henrique. “O companheiro dele está muito mal. Meu pai nem levanta da cama. Minha mãe está à base de tranquilizantes. Na semana que vem é aniversário do meu pai. Eu e meu outro irmão estamos cuidando de tudo, pois alguém precisava ser forte”, lamentou a mulher.

Por meio de nota, a Secretaria de Saúde do DF afirmou que trata a investigação do caso como prioridade máxima. “A Pasta esclarece que, se forem constatadas falhas de protocolo, os responsáveis serão penalizados.” O caso está a cargo da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho 1).

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