CPMI do 8 de Janeiro quer reforçar investigação sobre Mauro Cid para chegar a Bolsonaro
Análise de informações financeiras e quebra de sigilo telemático vão pautar próximos passos, mas família do militar já está na mira
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
A investigação que mira o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), deve pautar o principal caminho da CPMI do 8 de Janeiro a partir de agora. É por meio do militar e do entorno dele que os aliados do governo querem chegar a Bolsonaro. Novos pedidos de quebra de sigilo, compartilhamento de investigação e convocação de familiares estão na mesa, assim como a apuração das visitas recebidas por Cid na prisão, cuja lista inclui 73 nomes.
A CPMI aguarda informações sobre Cid a partir da quebra de sigilo telemático e de dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) acerca de transações internacionais. A partir da análise desses documentos é que a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), deve definir se sugere reconvocar o militar ou parte para uma nova estratégia, como uma acareação, quando dois depoentes são colocados frente a frente para confrontarem diferentes narrativas.
Parlamentares da base governista apostam nas informações do Coaf para avançar nas investigações que envolvem Cid, já que o conselho detém acesso às transações financeiras internacionais. "Essas informações são essenciais para esclarecer os fatos, especialmente no que tange à possibilidade de que recursos internacionais tenham financiado o processo que culminou nos atos golpistas", diz o requerimento aprovado.
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O irmão do ex-ajudante de ordens, Daniel Barbosa Cid, também foi alvo da CPMI, com pedidos de informação à Receita Federal e ao Banco Central. Os parlamentares querem saber sobre o registro de empresas estrangeiras no nome dele. A movimentação vem a partir da suspeita de que o irmão de Mauro Cid teria operado uma "milícia digital" contra as eleições e disseminado fake news.
O cerco à família do militar pode crescer. Há na lista de requerimentos a quebra de sigilo financeiro de outros cinco familiares de Cid: as irmãs, Agnes e Karen; a esposa, Gabriela; o pai, general Mauro Cesar Lourena Cid; e a cunhada, Mauricea de Melo, proposta pela relatora.
Na justificativa, Eliziane argumenta: "É necessário saber os negócios que a família tem no exterior para, posteriormente, investigar o caminho do dinheiro que pode levar aos financiadores do golpe tramado".
Uma convocação da esposa de Cid também não está descartada, sobretudo depois que o ex-ajudante exerceu o direito de ficar em silêncio durante o depoimento à CPMI, na terça-feira (11). "É uma possibilidade que não se pode descartar. Foi muito ruim ele não ajudar a gente com essas informações. Essa possibilidade existe. A decisão vai depender do volume de informações que estamos aguardando com as quebras aprovadas", disse a relatora ao ser questionada pelo R7.
Gabriela Cid e a filha do general Eduardo Villas Bôas, Ticiana Villas Bôas, articularam atos extremistas para manter Jair Bolsonaro no poder depois da derrota nas eleições. Mensagens obtidas pela PF revelam que as duas trataram da invasão de Brasília e defenderam a queda do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A CPMI também acionou a Justiça por avaliar que Cid extrapolou o direito de ficar calado. No pedido, a comissão alega que ficou configurado o crime de impedir ou tentar impedir o regular funcionamento do colegiado. "O que se observou foi o desrespeito à decisão proferida pela ministra Cármen Lúcia (do Supremo Tribunal Federal), que lhe garantiu o direito ao silêncio apenas naquilo que o incriminasse. Cid não respondeu a nenhuma pergunta dos parlamentares, nem mesmo sobre a sua idade", disse o deputado Arthur Maia (União-BA), presidente da CPMI.
Outros contatos
Além de familiares, a CPMI tem nas mãos uma lista de 73 pessoas que visitaram Cid na prisão. Ele está preso desde 3 de maio por suspeita de envolvimento em um esquema de fraude em cartões de vacinação.
Na lista, estão pessoas do entorno de Bolsonaro, como o advogado do ex-presidente e ex-secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, o ex-ministro da Saúde e deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) e o coronel Jean Lawand Júnior, também investigado.
Um áudio encontrado no celular de Cid revelou conversas com o coronel Lawand, então gerente de ordens do Alto-Comando do Exército, que incentivavam a realização de um golpe de Estado. Lawand disse ao ex-ajudante que Bolsonaro precisava "dar a ordem" para que os militares pudessem agir. Parlamentares querem saber se a visita de Lawand a Cid ocorreu antes ou depois da revelação dos áudios.
Após tomar conhecimento do número de visitas recebidas por Cid na prisão, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu limitar o acesso apenas à mulher, filhos e advogados. Outros encontros só podem ocorrer se autorizados previamente pelo ministro.
Vínculo com Bolsonaro
A estratégia do governo é conseguir, a partir de Cid, vincular o planejamento dos ataques em 8 de janeiro às ações que precederam o episódio e ao ex-presidente Bolsonaro.
"Bastava que ele quisesse contribuir com a investigação, porque ele viu tudo, ouviu tudo e ele sabe de tudo. É incrível como onde havia um malfeito do Bolsonaro, lá estava Mauro Cid. É por isso que são tantos inquéritos que responde perante o Supremo Tribunal Federal", disse o deputado Rubens Pereira (PT-MA).
Uma convocação de Bolsonaro, segundo a própria relatora, "é uma possibilidade real". No entanto, algo que só deve ocorrer mais para a frente, quando uma linha de raciocínio mais clara for traçada na CPMI. Apesar disso, já há requerimento apresentado na comissão para convocar o ex-presidente.
Oposição
Enquanto isso, a oposição na CPMI trabalha para garantir convocações como a do ministro da Justiça, Flávio Dino. Antes, os parlamentares ligados a Bolsonaro conseguiram aprovar requerimentos para obter imagens de dentro do Ministério da Justiça. Eles querem monitorar as ordens dadas por Dino e apurar se houve omissão. Segundo o autor do pedido, o deputado Roberto Duarte (Republicanos-AC), isso "possibilitará compreender se havia contingente da Força Nacional de prontidão no Ministério da Justiça e o exato momento em que foi acionada para os ataques sofridos".
O objetivo da ala na CPMI é apontar omissão por parte do atual governo em agir contra as invasões e questionar prisões massivas de apoiadores que estavam acampados em frente ao quartel-general do Exército, questionando os resultados das eleições de 2022.