Declarações de Lula sobre papel dos EUA na guerra da Ucrânia geram incômodo em Washington
Presidente afirmou neste domingo (16), em Abu Dhabi, que os Estados Unidos contribuem para o prolongamento do conflito
Brasília|Carlos Eduardo Bafutto, do R7, em Brasília
As recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que os Estados Unidos contribuem para a manutenção da guerra entre Rússia e Ucrânia geraram incômodo em Washington, de acordo com uma fonte diplomática americana.
O petista também criticou o uso do dólar nas relações comerciais entre países e defendeu a criação de uma moeda única para uso do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. As falas foram vistas pelas autoridades americanas como um sinal de aproximação com a China e de distanciamento dos EUA.
Neste domingo (16), o petista afirmou em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, que os EUA e a Europa contribuem para o prolongamento do conflito na Ucrânia. "A paz está muito difícil. O presidente [da Rússia, Vladimir] Putin não toma iniciativa de paz, o presidente [da Ucrânia, Volodmir] Zelenski não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando contribuição para a continuidade desta guerra", disse.
A declaração ocorre um dia após o presidente ter defendido o fim do envio de armamentos para a Ucrânia e afirmado que os EUA precisavam "parar de incentivar a guerra".
Relação com a China
O presidente da República negou que a visita ao território chinês cause tensão política com o governo americano. "Tenho certeza de que a nossa relação com a China não é, necessariamente, capaz de criar nenhum arranhão com os Estados Unidos."
"Quando vou conversar com os Estados Unidos, eu não fico preocupado com o que a China vai pensar da minha conversa com os Estados Unidos. Eu estou conversando sobre os interesses soberanos do meu país. Quando venho conversar com a China, eu também não estou preocupado com o que o Estados Unidos estão pensando", argumentou.
De acordo com Lula, os acordos assinados pelo Brasil não têm viés ideológico e dizem respeito a interesses nacionais. "O Brasil tem que fazer acordos possíveis com todos os países. Nós não temos escolhas políticas, escolhas ideológicas. Nós temos uma escolha de interesse nacional — interesse do povo brasileiro, interesse da indústria nacional, interesse da nossa soberania", disse.