Deputados da CPI dos Atos Antidemocráticos no DF avaliam que GSI falhou em 8 de janeiro
Depois de 29 sessões já realizadas, parlamentares começam a definir circunstâncias que possibilitaram invasão aos Três Poderes
Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, Brasília
O depoimento do militar filmado oferecendo água a manifestantes em 8 de janeiro, durante a invasão ao Palácio do Planalto, terminou dividindo os deputados distritais na CPI dos Atos Antidemocráticos, nesta segunda-feira (9), na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Alguns parlamentares avaliaram que o major José Eduardo Natale de Paula Pereira, que atuava no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) na época dos fatos, prestou um depoimento “esclarecedor” e que ele não tinha muitas alternativas para conter os manifestantes. Já outra parte do colegiado afirma que houve falha na atitude do major.
Na avaliação do presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), o depoimento de Natale contribui à CLDF, pois um grupo de deputados alegava que o major estava a serviço do Governo Federal para abrir a porta do Palácio do Planalto. “Ficou claro hoje que não houve abertura de nenhuma das forças do palácio. Ficou claro também que não teve sabotagem e que eles não amoleceram os trabalhos, mas não tinham as informações para montar o aparato que deveria ter sido montado [para impedir a invasão dos Prédios dos Três Poderes]”, afirma o distrital.
Ao colegiado, o major disse que chegou a ficar uma hora desarmado dentro do Palácio do Planalto tentando conter os manifestantes e que “temeu pela vida”, mas precisava cumprir o dever do seu cargo. Para Chico Vigilante, Natale era um cumpridor de ordens. “Ele foi lá cumprir o papel dele, correu o risco de ser morto pelos criminosos que estavam ali. A situação é prova clara de que alguém do GSI falhou e tem que ser responsabilizado por isso”, afirmou. Questionado sobre quem seria o culpado, o parlamentar destacou que estão em processo de investigação, mas o relatório final deve indicar a quem pertence “as falhas”.
Já o relator, deputado Hermeto (MDB) , disse que faltou planejamento na proteção da Esplanada. “Quem tinha que planejar não planejou, não colocou efetivo suficiente. Ele (major Natale) era um mero elemento de execução. Faltou estrutura, faltou soldados, e faltou batalhão da guarda presidencial para estar presente. Porque não é só a polícia militar [que deveria realizar a segurança], mas o Palácio do Planalto também tem as suas obrigações de manter a integridade do prédio”, declarou.
Individualização de condutas
O deputado Fábio Felix (PSOL), contudo, afirmou que não se convenceu com a defesa de Natale. “A técnica utilizada de distribuição de água dele não consta nos manuais de engajamento do exercício e isso ficou muito claro no resultado da sindicância que investigou o que aconteceu no GSI”, apontou. Na avaliação do parlamentar era necessário tratar os manifestantes da forma como estavam agindo. “Eles estavam destruindo e depredando. Tinha um grupo extremista atuando de forma violenta. E eu acho que a resposta daqueles agentes, tanto das Forças Armadas como também da Polícia Militar, no momento anterior, é uma resposta muito pacífica. Me parece que não agiram com a proporção que deveriam”, opina.
Já o distrital pastor Daniel de Castro (PP) declara a importância de individualizar cada um dos casos dos manifestantes. “Teve pessoas de três perfis, segundo o próprio Natale, os que estavam agressivos, os que estavam chocados e os que estavam tentando impedir as ações violentas e ajudando a polícia. Eles não podem ser julgados da mesma forma, com anos de prisão”, disse. Daniel avaliou que houve uma “facilitação” na entrada dos manifestantes dentro dos Prédios. “Trago a fala do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse que a porta [do Palácio do Planalto] não foi arrombada, mas aberta. E quem abriu? Essa é uma pergunta que merece resposta”, finaliza.