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Dia do Cerrado: fogo devastou 88,5 milhões de hectares do bioma em 39 anos

Área do bioma destruída por incêndios no período foi maior que extensão da região Sul, segundo levantamento feito pelo MapBiomas Alerta

Cidades|Victoria Lacerda, do R7, em Brasília


Fogo devasta 88 milhões de hectares do Cerrado em 39 anos, superando a Amazônia
Fogo devasta 88 milhões de hectares do Cerrado Rafael Coelho/IPAM - Arquivo

Entre 1985 e 2023, o fogo devastou 88,5 milhões de hectares do Cerrado, uma área de aproximadamente 885 mil km², maior do que toda a região Sul e quase da extensão da região Sudeste inteira. Os dados são de um monitoramento do MapBiomas Alerta. Nesta quarta-feira (11), é celebrado o Dia Nacional do Cerrado.

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A área do Cerrado perdida pelo fogo nesses 39 anos representa 43% da extensão total da região. O território da região consumido por incêndios no período foi maior do que em qualquer outro bioma. O segundo mais afetado foi a Amazônia, que teve 82,6 milhões de hectares devastados pelo fogo.

O Cerrado cobre 25% do território brasileiro e desempenha um papel vital na biodiversidade e no abastecimento de água do país. Conhecido como o “berço das águas”, o Cerrado é essencial para a regulação climática e hídrica, abrigando uma rica diversidade de flora e fauna. A maior parte da vegetação nativa está localizada no planalto central, onde o bioma é predominante.

O bioma está presente em Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal.


Desmatamento

Além dos incêndios, de 1985 a 2023 o Cerrado sofreu com o desmatamento de 38 milhões de hectares, o que resultou em uma redução de 27% da sua vegetação original. Quase metade do bioma foi alterada por atividades humanas, com 26 milhões de hectares dedicados à agricultura.

A vegetação nativa remanescente no Cerrado soma 101 milhões de hectares, representando 8% da vegetação nativa total do Brasil. Desses remanescentes, 48% estão concentrados na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde a área dedicada à agricultura aumentou 24 vezes desde 1985 e foi responsável por 41% do desmatamento do Cerrado nos últimos 39 anos.


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Atualmente, 55% da vegetação nativa restante no Cerrado estão em áreas com Cadastro Ambiental Rural autodeclarado. Segundo o Código Florestal Brasileiro, as propriedades rurais devem manter pelo menos 20% de sua área como vegetação nativa, chamada de Reserva Legal. No entanto, a parte excedente a esse percentual pode ser desmatada legalmente, o que representa um risco significativo para a preservação do bioma.


Como contornar a situação

Dhemerson Conciani, pesquisador do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), destaca a urgência de políticas públicas e incentivos financeiros para a conservação do Cerrado. “Se o desmatamento continuar nesse ritmo, as consequências para a regulação climática e para setores econômicos, como o agronegócio, que depende dos recursos hídricos do Cerrado, serão graves.”

Enquanto isso, 14,7% da vegetação remanescente estão em áreas protegidas, como unidades de conservação, terras indígenas e territórios quilombolas, que preservam mais de 93% de sua vegetação. No entanto, o desmatamento em terras indígenas do Cerrado aumentou 188% em 2023, em contraste com a redução de 27% no desmatamento nacional.

O fogo continua sendo uma ameaça crescente. Embora o Cerrado tenha se adaptado a queimadas naturais, as secas frequentes e as temperaturas extremas têm alterado o regime de fogo. O uso indiscriminado das queimadas compromete a biodiversidade e a integridade do ecossistema.

Vera Arruda, pesquisadora do IPAM, ressalta a necessidade de políticas públicas que promovam a conscientização, o monitoramento e leis rigorosas contra queimadas ilegais. “O manejo integrado do fogo, que inclui prevenção e uso controlado, é essencial para proteger o bioma e minimizar os riscos de incêndios.”

Incêndios em 2024

Entre janeiro e agosto de 2024, 4 milhões de hectares do Cerrado foram atingidos pelo fogo, com 79% desse total em áreas de vegetação nativa. Esse número representa um aumento de 85% em relação ao mesmo período de 2023. Em agosto de 2024, o estado de São Paulo registrou mais focos de calor do que a Amazônia, com mais de 81% dos focos ocorrendo em áreas agropecuárias, como plantações de cana-de-açúcar e pastagens.

A crise hídrica no Cerrado também se agrava. A área de superfície de água natural foi reduzida em 53% desde 1985, chegando a 696 mil hectares em 2023. Apesar de o Cerrado ser a fonte de nove das doze bacias hidrográficas brasileiras e abrigar grandes aquíferos como o Guarani, Bambuí e Urucuia, sua capacidade de retenção de água está comprometida pela expansão da agricultura e mudanças climáticas.

As áreas úmidas do Cerrado, que ocupam 6 milhões de hectares, também estão sob pressão, principalmente devido à expansão de pastagens e agricultura. O bioma perdeu 500 mil hectares de vegetação úmida entre 1985 e 2023, uma redução de 7%. Joaquim Raposo, pesquisador do IPAM, alerta que a expansão agrícola sobre essas áreas pode comprometer o abastecimento hídrico e aumentar a vulnerabilidade a desastres climáticos e perda de biodiversidade.

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