Dino nega uso político da Polícia Federal e diz que indícios de 'Abin paralela' não surgiram agora
Na despedida como ministro da Justiça, ele afirmou que ninguém no Brasil tem imunidade contra investigações
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, negou nesta quarta-feira (31) o uso político do governo, por meio da Polícia Federal, para perseguir opositores. Ele declarou que os indícios da existência de uma Abin (Agência Brasileira de Inteligência) paralela não surgiram agora. Em sua despedida do governo, o titular da pasta afirmou que ninguém no Brasil tem imunidade contra investigações.
"Isso é falso. Eu tenho realmente repulsa à ideia de uso político das polícias e isso não aconteceu. Agora, não existe imunidade de jurisdição", disse Dino. "O que me parece é que indevidamente há pessoas que querem algum tipo de imunidade de jurisdição. No Brasil, nenhuma pessoa, nem o presidente da República, tem imunidade de jurisdição", completou.
Dino rebateu as críticas feitas por integrantes do governo de Jair Bolsonaro de que a gestão Lula utiliza da estrutura da União para persegui-los. A Abin é investigada pela Polícia Federal depois da revelação de um suposto esquema de espionagem ilegal de políticos e autoridades, durante a gestão do ex-presidente.
"A Polícia Federal não pode ser acusada porque não inventa investigação. As investigações nascem de indícios", lembrou o ministro, acrescentando em outro momento que os elementos não surgiram agora ou anteontem. "Os senhores [da imprensa] publicaram há três anos. E o que a PF vai fazer? Fingir que não viu?"
Na sequência, o ministro da Justiça divergiu da posição de Lula, que recentemente cobrou da Polícia Federal que não faça pirotecnia em operações e nem destrua as imagens de pessoas antes do julgamento. "Esse é o papel correto da polícia, e esse papel foi aquilo que o presidente da República disse publicamente, e nós estamos cumprindo. É uma polícia profissionalizada, técnica, mas que não faz espetáculo."
Abin
Lula exonerou nesta terça-feira (30) o número dois da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alessandro Moretti. A dispensa do cargo de diretor-adjunto da instituição foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União. O movimento ocorre depois de um novo desdobramento da Operação Última Milha, a Operação Vigilância Aproximada, que investiga um suposto esquema de espionagem ilegal envolvendo o ex-diretor-geral da agência Alexandre Ramagem e o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, entre outras pessoas.
Moretti é delegado de carreira da PF e foi diretor de Informação e Inovação da corporação no governo de Jair Bolsonaro. Lula decidiu manter o delegado da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa no comando da agência.
O professor universitário Marco Aurélio Cepik entra no lugar de Moretti. Ele não é servidor de carreira da Abin e atua como diretor da Escola de Inteligência, responsável pela formação e capacitação dos agentes da instituição.