Distrito Federal registra média de 13 mil trotes para o Samu e 360 mil para a Polícia Militar por ano
Órgãos destacam danos causados por acionamentos falsos; ligações de trote podem acarretar multa
Brasília|Do R7, em Brasília
O Distrito Federal registra uma média de 13 mil trotes no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e 360 mil na Polícia Militar por ano. O Samu recebe a cada ano quase um milhão de ligações e presta socorro em todo o DF. O órgão explica que, em cada ligação, o atendente tem uma média de 30 segundos a um minuto para entender a situação e tomar decisões importantes que salvarão vidas.
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No caso da Polícia Militar, quando há uma chamada indevida ou acionamento acidental, o policial que está atendendo o telefone gasta tempo ouvindo o que está acontecendo no ambiente para tentar entender se aquela pessoa não está sendo vítima de um sequestro, roubo ou alguma violência.
Chefe do Centro de Operações da Polícia Militar, tenente-coronel Ricardo Kotama, explica que toda essa análise demanda tempo. “Congestiona as nossas linhas e impede que uma chamada prioritária de uma emergência real seja atendida o mais rápido possível. Os recursos de qualquer instituição têm um número limitado e nós temos sempre que priorizar as pessoas em emergência e que correm risco de vida”, afirma.
Apesar do alto número ainda registrado em 2023, segundo os órgãos, os casos de trotes vêm reduzindo. De acordo com o diretor do Samu, Victor Arimateia, em 2023 foram 13 mil ocorrências, contra 15 mil ligações falsas em 2022. “Teve um declínio significativo. Mas o objetivo do serviço, como de qualquer serviço de atendimento pré-hospitalar móvel de urgência, é o trote zero”, detalha.
No caso do Samu, de quase um milhão e ligações, as que de fato são convertidas em intervenções móveis são 75 mil por ano. Isso porque um sistema foi estabelecido para direcionar o atendimento para aquele paciente que mais precisa, de acordo com avaliação feita pela equipe especializada da central de regulação, que conta com 23 postos de atendimento e cerca de 300 pessoas trabalhando na sede no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA).
Ao ligar no 192, o primeiro atendente é o técnico auxiliar de regulação médica, que muitas vezes já constata ligações que não são pertinentes ao Samu, podendo direcioná-las a outros órgãos, como a polícia ou os bombeiros. “É como se fosse um filtro, onde ele também já identifica a maior parte dos trotes, que geralmente param ali”, explica Arimateia.
Contudo, o diretor ressalta que há trotes que forjam situações de socorro e acabam disparando equipes sem necessidade. “Enquanto o telefonista esteve engajado nessa chamada, outras ficaram sem o atendimento devido ou acabaram recebendo uma unidade móvel que estava muito mais distante, o que compromete o tempo de resposta”, observa o diretor.
Outra forma de não desperdiçar recursos é o trabalho em conjunto com o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF). O bombeiro que fica na sede do Samu comunica à corporação ou ao próprio Samu se viaturas já foram enviadas ao local, para evitar atendimentos duplos.
Acionamento da PMDF
O filtro também existe no sistema operacional da polícia – os atendentes procuram identificar os números que ligam várias vezes para o 190.”Nós passamos a ter uma postura mais combativa, de tentar identificar os autores dessa chamada. Com isso, chegamos ao ponto de dizer que, hoje, o trote para a Polícia Militar atrapalha menos do que o acionamento indevido feito por empresas de segurança particular”, diz Ricardo Kotama.
A PMDF recebe aproximadamente 2 milhões de ligações por ano. São entre 160 mil e 180 mil ligações por mês; dessas, em torno de 30 mil são trotes, chamadas acidentais e acionamentos indevidos. Cerca de 10% desse número está relacionado a empresas de segurança que criam os conhecidos “botões do pânico” e vendem o acionamento da Polícia Militar de forma terceirizada – são de 3 a 4 mil acionamentos por mês.
“Hoje as empresas privadas tentam terceirizar o serviço de acionamento da Polícia Militar, algo que não poderia nem deveria acontecer. Quando a pessoa contrata esse serviço e testa para ver se, de fato, o que ela contratou está funcionando, ela está fazendo um acionamento indevido da central de emergência, inclusive o passível de multa”, alerta o policial.
“Esses equipamentos falham e acionam por inúmeros motivos. É um pássaro, um gato, o próprio balançar do vento numa janela; e aí a polícia está deslocando recurso, gastando tempo e deixando de priorizar um atendimento de uma emergência para, na verdade, verificar a falha de um equipamento.”
Contra a lei
As chamadas indevidas atrapalham desde o atendimento das demandas, ocupando as linhas telefônicas, até a assistência às vítimas, com o deslocamento de viaturas e equipes para onde não há ocorrências reais. A publicação do Decreto nº 44.427, que prevê punição com multa a autores de trotes, deve ajudar a coibir as ligações, garantindo os recursos – equipe e viatura – a quem realmente precisa de atendimento.
As multas podem chegar a R$ 4 mil, o equivalente a três salários mínimos, caso as forças de segurança pública sejam efetivamente acionadas e se desloquem para atender denúncias que venham a se comprovar falsas.
“Essa lei é considerada realmente um avanço significativo, uma vez que nos dá um resguardo legal para estabelecer a devida consequência para quem age dessa forma”, ressalta o diretor do Samu.