Em delação, Lessa diz que tentativa de matar Marielle começou em setembro de 2017
O ministério Alexandre de Moraes derrubou o sigilo dos depoimentos do ex-policial militar
Brasília|Gabriela Coelho e Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O ex-policial Ronnie Lessa, preso por matar a vereadora Marielle Franco, afirmou em delação premiada que estavam tentando encontrar a vereadora desde setembro de 2017. Ela foi assassinada em 14 de março de 2018. “Mais ou menos, setembro; nós colhemos os dados, 50 colhemos tudo, pegamos o carro, armamento e começamos a ir em campo”, disse.
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“Eu e Macalé; a gente estava nessa missão aí a princípio só nós dois na execução, no mês de dezembro nós já estávamos cansados dessas tentativas que não surtiam efeito, a gente não chegava a lugar nenhum, a gente estava rodando em círculos, em vão; então nós fomos até os mandantes e propusemos que fosse mudada a estratégia que tinha sido montada, que tinha sido orientada por uma das pessoas que estavam por trás desse planejamento, e tentar mudar isso, porque o planejamento e a exigência era que não partisse da Câmara de Vereadores, volto a falar e já falei anteriormente que não partisse da Câmara de Vereadores; que daquele jeito ali já estava cansativo, que a gente queria mudar de qualquer jeito e a resposta foi não e não; então tivemos que manter aquilo ali”, afirmou.
Mais cedo, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aceitou um pedido de transferência do ex-policial para o complexo penitenciário de Tremembé, em São Paulo. Além disso, o ministro determinou que fosse retirado o sigilo da delação.
Também na delação, Lessa afirmou que o endereço da vereadora era em uma área de difícil acesso com policiais andando na calçada.
“Era um lugar difícil de monitorar; e o prédio em si, é um prédio que não dispõe de estacionamento, ou seja, a pessoa que mora naquele prédio não tem como guardar o carro ali, ou ela tem um carro guardado em uma garagem ou estacionamento qualquer longe dali, ou não tem carro; então isso acabou tornando a coisa um pouco difícil; se tornou difícil porque não dava para parar, o único lugar que poderia parar tinha um policial parado de serviço; era um lugar que não tinha como monitorar para saber se o carro dela estava dentro porque não tem garagem e também não sabia se ela tinha carro”, disse.
Irmãos Brazão
O ex-policial militar Ronnie Lessa afirmou na delação premiada à Polícia Federal que o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) está ligado ao assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, em 2018. A citação ao parlamentar foi o que motivou o deslocamento do caso do STJ (Superior Tribunal de Justiça) para o Supremo Tribunal Federal, visto que o parlamentar tem direito a foro privilegiado.
Apontados como mandantes do assassinato da vereadora, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa foram presos em março em uma operação da Polícia Federal, com participação da Procuradoria-Geral da República e do Ministério Público do Rio de Janeiro.
João Francisco Inácio Brazão, conhecido como Chiquinho, é deputado federal do União Brasil pelo Rio de Janeiro. Assim como Marielle, ele era vereador do município quando o assassinato ocorreu. O envolvimento do parlamentar fez com que as investigações fossem ao STF, já que Chiquinho tem foro privilegiado. A relatoria do processo foi distribuída por sorteio ao ministro Alexandre de Moraes, da Primeira Turma, por se tratar de uma ação criminal.
Domingos Brazão é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson, o ex-policial militar Ronnie Lessa afirmou aos investigadores, em delação premiada, que Domingos teria encomendado o crime.
Lessa teria afirmado que o crime seria uma vingança contra o ex-deputado estadual Marcelo Freixo e a ex-assessora dele, Marielle Franco. Os três, segundo os investigadores, travavam disputas na área política do estado.
O que diz a defesa
Em nota, a defesa de Domingos Brazão informou que as declarações são “mentirosas e não têm amparo em qualquer prova”.
“Não se tem prova dos encontros, não se tem prova de contato entre o intermediário e os Brazão, não tem prova de que houve a entrega de arma. Também não se tem prova de que existiria um projeto ou intenção de instalação de um condomínio. É apenas uma narrativa, sem comprovação”, diz o texto.
Os advogados de Rivaldo Barbosa afirmaram que Lessa mentiu “deliberadamente” na delação. “A disponibilização veio tardiamente, mas ainda em tempo para que todos possam ver como Ronnie Lessa mentiu deliberadamente. Pior, recebeu um prêmio antes do final da corrida”, informou a nota.