Em depoimento ao STF, Zambelli nega ter pedido a hacker para fazer minuta de prisão de Moraes
Hacker Walter Delgatti e a deputada federal Carla Zambelli participaram de audiência feita pelo STF nesta segunda-feira (7)
Brasília|Beatriz Oliveira* e Rute Moraes, do R7, em Brasília
Em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta segunda-feira (7), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) negou ter pedido ao hacker Walter Delgatti para invadir o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para registro de alvarás de soltura e um mandado de prisão falso contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Ambos prestaram esclarecimentos à Justiça nesta noite.
Preso em 2019 no âmbito da Operação Spoofing, que investigou a chamada “Vaza Jato”, o hacker retornou ao cárcere há pouco mais de um ano ainda pela mesma investigação.
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Ao ser interpelada por seu advogado de defesa, Daniel Bialski, sobre ter “instigado” ou pedido diretamente ao hacker para elaborar a minuta, a parlamentar negou. Além disso, disse não ter enviado o documento ao jornalista Paulo Capelli, do portal Metrópoles, que também prestou depoimento na mesma audiência.
No depoimento, Zambelli disse que nunca faria uma “brincadeira jocosa” com o ministro, principalmente porque já enfrentava, à época, processos na Corte. Por orientação de seu advogado, a deputada se negou a responder os questionamentos do advogado do hacker, Ariovaldo Moreira.
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Em depoimento, Delgatti confessou ter entrado nos servidores e na intranet do CNJ. Segundo ele, Zambelli solicitou a invasão e afirmou que era um pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele explicou também que os alvarás de soltura foram apenas testes para emitir o mandado de prisão de Moraes, pois ele não tinha conhecimento o suficiente sobre como esses documentos eram feitos.
O hacker disse ainda que a deputada e o ex-presidente prometeram um emprego em troca do mandado de prisão do ministro, mas que o acordo não foi cumprido, o que Zambelli também negou. No depoimento, ele relata ter explicado a Bolsonaro que poderia ser condenado caso atendesse ao pedido. O ex-presidente teria respondido “fique tranquilo que eu te dou uma anistia, um perdão presidencial”.
Além de hackear o CNJ, Delgatti confirmou que acessou o sistema do Banco Central e fez bloqueio de bens e quantias da conta bancária de Moraes, também, a pedido de Zambelli.
Depoimentos das testemunhas
Na audiência marcada para às 14h, testemunharam o jornalista Paulo Bruno Cappelli, o marido de Zambelli, Antonio Aginaldo de Oliveira e o primo de Walter, Thiago Delgatti.
O marido da deputada, Coronel Aginaldo de Oliveira, disse em depoimento que ele e a mulher receberam, em agosto, Walter Delgatti, o advogado de defesa dele, Ariovaldo Moreira, e o filho de Ariovaldo em casa. Segundo ele, Zambelli iniciou uma conversa na qual Delgatti falava que se tivesse acesso às urnas eletrônicas poderia comprovar a possibilidade delas serem fraudadas.
Ainda nessa visita, Ariovaldo teria insinuado “quanto custava a democracia”, afirma a testemunha. Ele diz que Zambelli respondeu que a democracia poderia ser salva sem valor financeiro.
A deputada teria contado sobre a reunião do ex-presidente Jair Bolsonaro e Delgatti ao marido, que afirma não saber de mais detalhes, além de que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, também estaria presente no encontro.
Além disso, foi colhido o depoimento de Thiago Delgatti, que está preso. De acordo com as investigações, os mandados de soltura inseridos no sistema do CNJ seriam para beneficiar Thiago. Durante a audiência, ele afirmou que não está ciente de nenhum alvará de soltura.
*Sob supervisão de Thays Martins