Em reunião com rainha da Dinamarca, Lula agradece devolução de manto indígena
Item considerado sagrado estava no país europeu desde o século 17 e voltou ao Rio de Janeiro em julho deste ano
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta sexta-feira (4), no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), a rainha da Dinamarca, Mary Donaldson. Na conversa, o petista aproveitou para agradecer o país a devolução do manto Tupinambá, peça sagrada para a comunidade indígena, em julho deste ano. O item, que estava na nação europeia desde o século 17, saiu do Museu Nacional da Dinamarca e agora está no Museu Nacional, no Rio de Janeiro (RJ). A cerimônia de recepção oficial do manto foi feita pelo governo federal em setembro, com participação de Lula.
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No encontro com a rainha dinamarquesa, que contou também com os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Nísia Trindade (Saúde), foram discutidas cooperações nas áreas de saúde, energia e desmatamento. O assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, também esteve na reunião.
Lula convidou a Dinamarca para a Aliança Contra a Fome, que o Brasil vai lançar em novembro, no Rio, durante a cúpula do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo e é presidido pelo Brasil neste ano. A monarca estava com o ministro do Clima e Energia, Lars Aagaard, e a embaixadora da Dinamarca, Eva Bisgaard.
A rainha solidarizou-se com as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul entre abril e maio deste ano e deixaram 183 mortes, até a última atualização das autoridades locais. Cerca de 2,4 milhões de gaúchos foram afetados pelas fortes chuvas, em 478 municípios, 96% do estado. Mary também demonstrou solidariedade ao Brasil em relação aos incêndios florestais e à seca.
Os diretores da empresa dinamarquesa de saúde Novo Nordisk, com firma em Montes Claros (MG), anunciaram investimento de R$ 864 milhões na unidade até 2025. A intenção é modernizar a linha de produção de insulina e implementar projetos de sustentabilidade na estrutura da empresa. A planta foi inaugurada em 2007 e é uma das principais fornecedoras de insulina para o SUS (Sistema Único de Saúde).
Brasil e Dinamarca têm parcerias, além de comércio, em áreas como energia e meio ambiente. De janeiro a agosto deste ano, segundo o Palácio do Planalto, o fluxo comercial entre os dos países chegou a US$ 1,5 bilhão, dos quais US$ 345,7 milhões foram de vendas de produtos brasileiros. O Brasil comprou US$ 1,1 bilhão da nação europeia.
Entre os produtos adquiridos da Dinamarca, estão itens farmacêuticos, como medicamentos veterinários. O Brasil exporta ao país, principalmente, produtos alimentícios, farelos de soja, medicamentos, estruturas flutuantes e madeira.
Manto Tupinambá
O item indígena foi feito há cerca de 400 anos e passou 335 anos na Dinamarca. Confeccionado com milhares de penas vermelhas de pássaros guará e com 1,80m de altura, o manto é considerado sagrado para a etnia Tupinambá. Representantes da comunidade participaram da cerimônia de recepção oficial, no mês passado.
No evento, Lula afirmou que o retorno do item “representa a retomada de uma história que foi apagada, uma história que precisa ser contada e preservada”. A devolução da vestimenta faz parte de um movimento global de retorno de artefatos a países colonizados.
“Trata-se do primeiro item indígena de simbolismo espiritual a voltar ao país depois de tantos anos ausente. Talvez, para os não-indígenas, seja difícil imaginar a dimensão espiritual que o manto sagrado tem para os Tupinambás. É forte e muito bonito conhecer o seu real significado, que para nós é uma obra artística de rara beleza, mas para o Tupinambá é uma entidade”, completou Lula, na ocasião.