Endurecimento de regras do governo Trump aumenta rejeição de vistos dos EUA a brasileiros
Com mais de 11% de recusas a vistos de turismo, brasileiros enfrentam um dos maiores índices de negação de vistos dos últimos anos
Brasília|Luiza Marinho*, do R7, em Brasília

A frustração de muitos brasileiros ao ter o visto americano negado é cada vez mais comum — e os números confirmam a tendência. Segundo levantamento do Viva América, assessoria de vistos, entre janeiro e maio de 2025, a emissão de vistos para brasileiros caiu 19,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 237,8 mil documentos.
Mesmo com números expressivos, o índice de recusas continua chamando atenção. Em 2023, a taxa de rejeição para vistos de turismo e negócios (B‑1/B‑2) chegou a 11,94%, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA. O cenário é agravado pelos longos prazos de espera: nos consulados brasileiros, a fila para a entrevista pode ultrapassar 500 dias.
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A situação ficou ainda mais delicada desde o início do atual mandato do presidente Donald Trump. De volta à Casa Branca desde janeiro deste ano, ele retomou políticas rígidas de imigração.
Em junho, o governo norte-americano instaurou uma versão ampliada do polêmico “travel ban”, restringindo a entrada de cidadãos de 12 países e impondo controles adicionais a outros sete. Estudantes e turistas passaram a ter seus perfis em redes sociais analisados, e pequenas infrações, como multas não pagas, podem resultar em negativa automática.
Principais fatores que levam à recusa de um visto não imigratório
- Falta de vínculos com o Brasil (como emprego estável, família ou patrimônio declarado);
- Perfis com potencial migratório, ainda que o pedido seja para turismo;
- Histórico financeiro insuficiente ou pouco claro;
- Erros ou informações incompletas no preenchimento do formulário DS-160;
- Perfil demográfico “de risco”, como jovens solteiros sem profissão definida.
O que fazer se o visto for negado
Para o advogado Bruno Lossio, especialista em direito internacional e imigração, a recusa não deve ser encarada como o fim da linha. Ele explica que o problema, muitas vezes, está na forma como a solicitação é apresentada.
“Na maioria das vezes, a negativa acontece porque o solicitante não conseguiu comprovar da melhor maneira que atende aos requisitos exigidos para aquele tipo de visto.”
Portanto, para ele, o segredo para transformar um visto negado em um visto aprovado está em entender exatamente o motivo da recusa inicial e, a partir disso, construir uma nova estratégia, mais forte e alinhada com a realidade do aplicante.
“O segredo está em adequar a narrativa, mostrando com documentos e provas que aquela pessoa tem um propósito legítimo para ir aos Estados Unidos, seja para trabalhar, empreender, estudar ou investir, e que ela preenche todos os critérios exigidos pela imigração americana. Ou seja, é a mesma vida, porém contada de forma diferente, mas com uma estratégia jurídica bem pensada.”
Sonho adiado
Rebeca Oliveira é advogada e sonhava com o dia que viajaria ao país norte-americano com o marido. Porém, a negativa interrompeu seus planos, mesmo após um processo longo e caro.
“Eu e meu marido sonhávamos comemorar nosso primeiro ano de casamento nos Estados Unidos. Seria a nossa primeira viagem internacional, algo que a gente planejava com muito carinho”, conta.
“Tivemos que viajar até Recife, que fica a mais de 1.000 quilômetros da nossa cidade, só para fazer a entrevista no consulado. Gastamos com consultoria para o passaporte, com passagens, hospedagem, e, no fim das contas, o visto foi negado. Ninguém explicou o motivo da recusa, mas desconfio que seja porque a gente nunca viajou para outros países antes. Foi uma frustração enorme, sem contar o desgaste emocional e o prejuízo financeiro.”
O advogado Gustavo Nicolau, também especializado em imigração, confirma que o principal motivo para a recusa é a desconfiança de que o solicitante queira morar ilegalmente nos EUA.
“Os motivos mais comuns para a negativa de um visto envolvem a divergência entre a intenção do solicitante e a finalidade do visto requerido”, explica. “Se o oficial, por meio de indícios ou falta de documentação apropriada, percebe que o solicitante tem a intenção de morar nos Estados Unidos, isso entra em conflito com a finalidade do visto, que é apenas o turismo.”
Segundo ele, não existe um prazo legal mínimo para reaplicar, mas a reapresentação de um pedido com os mesmos documentos em pouco tempo tende a resultar em nova recusa. O ideal, na avaliação de Nicolau, é fazer mudanças concretas no perfil apresentado.
“Em tese, é possível protocolar um novo pedido até 20 dias depois da negativa anterior. No entanto, é evidente que, se o solicitante reaparecer no consulado com um intervalo muito curto e os mesmos documentos, a chance de nova negativa é muito alta.”
*Sob supervisão de Leonardo Meireles
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