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R7 Brasília

Especialistas discordam sobre impactos da falta de consenso da América Latina sobre Venezuela

Continente está dividido entre quem aceita, quem refuta e quem não reconhece nem endossa a reeleição de Maduro, como o Brasil

Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília


Reeleição de Maduro é contestada Divulgação/Governo Bolivariano da Venezuela – 9.8.2024

Especialistas em ciência política, relações internacionais e política internacional consultados pelo R7 discordam se a falta de consenso na América Latina sobre as eleições venezuelanas pode afetar as relações econômicas entre os países da região. Há, no continente, ao menos três opiniões — algumas nações já aceitaram a suposta reeleição de Nicolás Maduro, como Bolívia e Cuba; outras já negaram, como Argentina, Chile, Paraguai e Peru; ainda, um terceiro grupo não nega nem aceita a vitória do chavista, como Brasil, Colômbia e México. Os estudiosos ouvidos pela reportagem também dividem-se em três linhas (leia mais abaixo).

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A reeleição de Maduro é contestada por parte da comunidade internacional e pela oposição venezuelana, representada no pleito de 28 de julho pelo candidato Edmundo González — que se autodeclarou vencedor das eleições na última segunda-feira (5). Ele diz ter recebido ao menos 70% dos votos. Estados Unidos e União Europeia também não reconhecem a vitória do presidente.

O CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão venezuelano responsável pelo pleito, proclamou a reeleição de Maduro no dia seguinte à votação. No entanto, como as autoridades da Venezuela não apresentaram as atas das eleições, com os dados completas das urnas, o resultado não é aceito.

Os governos de Brasil, Colômbia e México emitiram duas notas conjuntas em defesa da divulgação das informações — o primeiro texto é de 1º de agosto, quatro dias depois das eleições venezuelanas, e o segundo comunicado foi divulgado na última quinta (8).


Embora Lula tenha declarado que não há nada “anormal” nem “grave” no processo eleitoral do país vizinho, a posição oficial do Executivo brasileiro é de não endossar nem refutar a vitória de Maduro enquanto as autoridades venezuelanas não divulgarem as informações.

Divergências

Para o cientista político João Felipe, é improvável que a situação na Venezuela cause mudanças substanciais nas relações econômicas do Brasil com as demais nações latinas. “As ligações comerciais entre esses países são moldadas por uma série de fatores. Embora as questões diplomáticas do momento possam criar tensões, é pouco provável que causem grandes rupturas nos acordos comerciais estabelecidos ao longo dos anos. A diplomacia, os interesses econômicos e as necessidades pragmáticas dos países muitas vezes superam as diferenças políticas”, avalia.


Felipe relembra que a Venezuela está suspensa do Mercosul desde agosto de 2017. “É um ato que o Brasil apoia”, acrescenta, ao citar as “inconsistências democráticas” do governo de Maduro. “Conflitos de opinião são comuns mesmo entre governos de orientação política semelhante [como é o caso do Brasil de Lula e o Chile de Gabriel Boric]. Divergências sobre a soberania regional não têm impactado os acordos ou relações bilaterais”, completa.

Já o internacionalista e especialista em comunicação política João Cândido pondera que a divisão dos países da América do Sul sobre a reeleição de Maduro pode afetar as relações regionais ao criar um ambiente de desconfiança e instabilidade política. “Essa fragmentação pode dificultar a cooperação em iniciativas regionais, como acordos comerciais e projetos de desenvolvimento econômico”, analisa.


Para Cândido, as ligações comerciais e econômicas podem estar em risco. “A falta de consenso pode levar a sanções, embargos ou boicotes, que prejudicam o fluxo de comércio e investimentos entre os países. A estabilidade política é crucial para a manutenção de relações econômicas saudáveis, e a falta de unidade pode minar essa estabilidade”, comenta.

Consequências para o Brasil

O advogado especialista em política internacional Luizio Rocha acredita que o fato não afeta o contexto do continente. “Mesmo com a divisão, países como Chile, México e Colômbia demonstram um nível de maturidade institucional e compromisso com a democracia que difere significativamente da situação na Venezuela. Esses países possuem políticas econômicas responsáveis, que separam suas relações comerciais da instabilidade política venezuelana”, argumenta.

No entanto, Rocha avalia que a divergência pode influenciar as relações brasileiras com países latinos que já refutaram a reeleição de Maduro, como a Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.

“O governo de Javier Milei, que assumiu uma postura firmemente contrária ao regime de Maduro, poderia usar essa divergência como um ponto de conflito, impactando as relações comerciais entre Brasil e Argentina. Portanto, embora as relações comerciais sejam robustas, a diplomacia brasileira precisa considerar essas nuances para evitar potenciais repercussões econômicas e políticas”, completa.

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