EUA respondem a Lula e dizem que Trump não é ‘imperador’ global: ‘Líder do mundo livre’
Mais cedo, petista afirmou em entrevista internacional que republicano não foi eleito para ser ‘imperador do mundo’
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

Os Estados Unidos responderam nesta quinta-feira (17) às críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente Donald Trump. A Casa Branca destacou que o republicano, além de ser “o líder do mundo livre”, age em defesa do povo norte-americano.
Mais cedo nesta quinta, Lula afirmou, em entrevista internacional (leia mais abaixo), que Trump foi eleito para governar os Estados Unidos, não para ser “o imperador do mundo”.
Não foi a primeira vez que o petista chamou o norte-americano de “imperador”. As críticas ocorrem na esteira da taxação de Trump a produtos brasileiros. Na semana passada, ele anunciou que vai cobrar 50% de todos os itens do Brasil comprados pelos EUA a partir de 1º de agosto.
“O presidente certamente não está tentando ser o imperador do mundo. Ele é um presidente forte para os Estados Unidos e também é o líder do mundo livre, e vimos uma grande mudança em todo o globo devido à forte liderança deste presidente”, declarou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, em coletiva de imprensa, ao ser questionada sobre a declaração de Lula.
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A porta-voz também citou a investigação sobre o Brasil aberta nesta semana pela Representação Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês). O objetivo é apurar supostas práticas comerciais desleais, envolvendo o Pix e medidas brasileiras de controle de desmatamento ilegal (leia mais abaixo).
“Há anos, sabemos que as regulamentações digitais do Brasil e as fracas proteções de propriedade intelectual minaram empresas de tecnologia e inovação dos EUA, e sua tolerância ao desmatamento ilegal e outras práticas ambientais coloca produtores, fabricantes, agricultores e pecuaristas americanos que seguem padrões ambientais mais rigorosos em desvantagem competitiva. Portanto, este presidente sempre age no melhor interesse do povo americano e dos Estados Unidos”, justificou a porta-voz de Trump.
Entrevista de Lula
Em conversa com a jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, o petista afirmou que está disposto a negociar a taxa imposta por Trump na semana passada.
Lula também voltou a defender a soberania do Brasil. “O Brasil deve cuidar do Brasil e cuidar do povo brasileiro, e não cuidar dos interesses dos outros”, destacou, ao reforçar o interesse em chegar a um acordo.
“O Brasil não aceitará nada que lhe seja imposto. Aceitamos negociação, e não imposição”, acrescentou Lula.
O petista afirmou, no entanto, que o republicano não está disposto a negociar. “Mas agora ele demonstrou que não está interessado [em negociar], porque acha que pode fazer tudo o que acha que quer com as tarifas”, declarou.
“Se o presidente Trump estiver disposto a levar a sério as negociações em andamento entre o Brasil e os EUA, estarei aberto a negociar o que for necessário. Mas o importante é que a relação entre os dois países não pode continuar assim”, completou Lula.
Tarifa de Trump
Em carta, enviada nominalmente a Lula na semana passada, Trump anunciou que, a partir de 1º de agosto, vai taxar em 50% todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos.
O texto foi publicado no portal do presidente norte-americano.
Segundo o republicano, a medida é uma resposta direta a supostos ataques do Brasil à liberdade de expressão de empresas norte-americanas e à forma como o país tem tratado o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além de inelegível até 2030, o ex-presidente é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.
Para o líder norte-americano, o julgamento e as investigações que envolvem o ex-presidente brasileiro configurariam uma “caça às bruxas” que deveria “terminar imediatamente”.
Investigação dos EUA
A apuração, anunciada pelos Estados Unidos, será feita com base na Seção 301 do Ato de Comércio, de 1974.
Segundo a USTR, a medida visa apurar se atos, políticas e práticas do governo brasileiro em áreas como comércio digital, serviços de pagamento eletrônico, como o Pix, tarifas preferenciais, combate à corrupção, proteção de propriedade intelectual, acesso ao mercado de etanol e controle de desmatamento ilegal são injustificáveis ou discriminatórios e impõem restrições ao comércio norte-americano.
A investigação questiona práticas brasileiras em seis frentes:
- Comércio digital e serviços de pagamento eletrônico: o governo norte-americano avalia que o Brasil possa estar retaliando empresas de tecnologia dos EUA por não censurarem discursos políticos, além de restringir sua atuação no país;
- Tarifas preferenciais: os EUA alegam que o Brasil concede tarifas mais baixas a alguns parceiros comerciais competitivos globalmente, o que colocaria exportações americanas em desvantagem;
- Combate à corrupção: há preocupações com a suposta falta de aplicação de medidas anticorrupção e de transparência, o que violaria normas internacionais de combate a subornos;
- Propriedade intelectual: o Brasil é acusado de não oferecer proteção e aplicação eficazes dos direitos de propriedade intelectual, o que prejudicaria trabalhadores americanos de setores baseados em inovação e criatividade;
- Mercado de etanol: os EUA afirmam que o Brasil recuou de compromissos de oferecer tratamento praticamente livre de tarifas para o etanol norte-americano, aplicando agora tarifas substancialmente mais altas;
- Desmatamento ilegal: segundo o USTR, o Brasil estaria falhando na aplicação de leis contra o desmatamento ilegal, o que impactaria negativamente a competitividade de produtores americanos de madeira e produtos agrícolas.
A Seção 301 do Ato de Comércio autoriza o governo norte-americano a investigar e responder a práticas consideradas injustificáveis ou discriminatórias por governos estrangeiros.
Como parte do processo, os EUA solicitaram consultas com o governo brasileiro e marcaram uma audiência pública para 3 de setembro. Interessados em participar devem enviar comentários por escrito e pedidos para falar na audiência até 18 de agosto.
Caso a investigação confirme as alegações, o governo dos EUA poderá adotar medidas de retaliação, como novas tarifas ou restrições comerciais, para proteger seus interesses.
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