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Exclusivo: dupla presa com PM agiota entrou com R$ 800 mil em batalhão da polícia

Dois dos investigados fizeram o saque e levaram a quantia até uma unidade da PM, onde mudaram o dinheiro de carro  

Brasília|Kelly Almeida e Sarah Teófilo, do R7, em Brasília


Raiane fez o saque de aproximadamente R$ 800 mil em uma agência de Taguatinga
Raiane fez o saque de aproximadamente R$ 800 mil em uma agência de Taguatinga

O sargento da Polícia Militar do Distrito Federal Ronie Peter Fernandes da Silva, preso por suspeita de agiotagem, ameaça e lavagem de dinheiro, tinha uma rede de operadores que atuavam na tentativa de, nas palavras da polícia, “branquear” o dinheiro adquirido de forma ilegal. No dia 23 de setembro deste ano, a Divisão de Repressão a Roubos e Furtos da Polícia Civil do DF (DRF/CORPATRI) monitorou uma retirada de aproximadamente R$ 800 mil em uma agência bancária de Taguatinga. O valor foi sacado por Raiane Gonçalves Campelo, mas retirado da instituição por Alison Silva Lima. Os dois seguiram em carros separados para o estacionamento de um batalhão da PMDF, onde a bolsa com o dinheiro foi passada para o veículo de Raiane, um modelo de luxo da marca BMW, conforme apontam as investigações. 

O monitoramento controlado foi realizado pelos policiais com a anuência do Judiciário. Na ocasião, os investigadores não abordaram Raiane e Alison com o dinheiro para não atrapalhar o andamento da investigação. A ação da dupla, no entanto, foi registrada. O R7 e a TV Record tiveram acesso com exclusividade ao material que mostra a movimentação. Por volta das 14h de 23 de setembro deste ano, Raiane chega à agência bancária de Taguatinga. Ela entra com uma bolsa marrom pendurada no ombro.

Veja a chegada de Raiane ao banco:

Após conversar com o segurança, Raiane segue para o caixa, onde está um funcionário. Eles conversam por alguns momentos, e, em seguida, o homem junta o dinheiro para entregar à nutricionista. O montante de dinheiro, segundo a polícia, foi colocado na bolsa marrom que Raiane usava. Pelo valor sacado, a transação foi informada pelo banco a órgãos fiscalizadores, como o Coaf.

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Veja o momento em que a investigada chega ao caixa para fazer o saque:

Após fazer o saque, Raiane deixa a agência, mas quem sai do banco com a bolsa marrom onde está o dinheiro é Alison. O casal segue conversando até um carro popular estacionado em frente à agência bancária, onde um homem, ainda não identificado, aguarda no banco do carona. Alison sai e Raiane segue a pé para o carro dela, estacionado em outro local.

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Veja o momento em que a dupla sai da agência bancária com o dinheiro:

A dupla só volta a se encontrar no estacionamento da unidade de Curso de Altos Estudos e Aperfeiçoamento da Polícia Militar do DF (CAEAp), também em Taguatinga. 

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Raiane estaciona dentro da unidade policial, enquanto Alison deixa o carro na área externa. Os dois se encontram no estacionamento interno do CAEAp, onde Alison coloca a bolsa com o dinheiro no porta-malas da BMW de Raiane. Em seguida, ela deixa o local sozinha no carro.

Veja a movimentação dentro de um batalhão da PMDF:

Segundo investigações da PCDF, o grupo fez outros saques de valores altos, que ultrapassaram a quantia de R$ 500 mil. A polícia acredita que o dinheiro tenha sido usado na lavagem de dinheiro do grupo. Segundo o delegado Fernando Cocito, diretor da Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF/Corpatri), o sargento usava pequenas empresas e empresas de fachada, além da compra de carros de luxo em nome de outras pessoas, para fazer a lavagem do dinheiro.

Confira a declaração do delegado:

Operação SOS Malibu

Ronie, Raiane, Alison e outras três pessoas foram presas na última terça-feira (16) durante a Operação SOS Malibu, deflagrada pela DRV/Corpatri. Entre os presos também estão o irmão de Ronie, Thiago Fernandes da Silva, e o pai deles, Djair Baía da Silva. Um dos investigados seria preso em São Paulo, mas não foi encontrado.

A prisão temporária dos investigados venceu no último sábado (20). Com isso, quatro pessoas deixaram a prisão. Ronie e Thiago, no entanto, permanecerão presos por tempo indeterminado. A PCDF solicitou a conversão da prisão de temporária em preventiva e a medida foi autorizada pelo Judiciário. 

Investigações

As investigações contra o grupo começaram depois de denúncias recebidas pela Polícia Civil que apontavam Ronie e Thiago como autores de agiotagem e extorsão no DF. Segundo a polícia, a dupla tomava carros e imóveis das vítimas que não conseguiam pagar as dívidas e os juros cobrados. O movimento para o empréstimo do dinheiro era feito principalmente nas casas dos suspeitos, em Vicente Pires. Ronie usava o poder de policial para fazer as ameaças, e Thiago era o mais agressivo durante a cobrança das dívidas, indica a investigação.

Ao longo dos dois últimos anos, o grupo comprou oito veículos da marca Porsche, cada um avaliado em aproximadamente R$ 1 milhão. Foram movimentados mais de R$ 8 milhões nas contas deles. Segundo o delegado André Leite, coordenador da Corpatri, o militar atuava com agiotagem há, pelo menos, 15 anos e "agia com extrema violência" com as vítimas.

Veja a declaração do delegado:

Segundo as investigações, Ronie e Thiago são considerados os líderes do grupo criminoso. Djair, o pai, ajudaria na lavagem do dinheiro. Raiane, Alison, Nemanja Romanov e Alexandre Rodrigues de Souza são investigados pela sequência de transações e saques em contas de empresas de fachada. O objetivo do grupo seria dar aparência lícita aos valores adquiridos por meio de agiotagem. Eles também auxiliavam na ocultação dos valores, cedendo o nome para registro de veículos de luxo usados pelos irmãos Ronie e Thiago.

Veja aqui a atuação de cada um dos investigados, segundo as investigações.

Movimentações atípicas

Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontam movimentações atípicas que envolvem o sargento Ronie Peter e os outros investigados.

Conforme o Coaf, entre maio de 2017 e dezembro do ano passado, Ronie movimentou quantia superior a R$ 6 milhões em uma única conta-corrente. O valor chama atenção, já que o militar recebe salário de aproximadamente R$ 8.000 da PMDF. Conforme investigação, Ronie e Thiago ameaçavam as vítimas para obrigá-las a pagar os valores emprestados corrigidos com os juros, que chegavam a 10% ao mês.

O que dizem os investigados

Em nota, a defesa do sargento Ronie Peter informou que o cliente não teve "direito ao contraditório em razão de se tratar de uma investigação policial, que boa parte do procedimento investigatório tramita em sigilo", e que "tudo será esclarecido no curso do procedimento". Detalhou ainda que "podemos afirmar que foram intimadas pessoas apontadas nas investigações como vítimas, contudo, após esclarecerem as transações comerciais para a Autoridade Policial, estas não tiveram seus depoimentos formalizados e foram dispensadas sem qualquer registro."

O advogado de Thiago Fernandes, irmão de Ronie, informou que "jamais houve qualquer imputação de constrangimento, por quem quer que seja, mediante violência ou grave ameaça, com o fim de recebimento de vantagem econômica indevida ao investigado, elementos imprescindíveis à configuração do citado crime". A defesa disse ainda que "o investigado vem colaborando com as investigações, inclusive, no que tange à entrega de senhas de aparelhos eletrônicos".

A defesa de Raiane Gonçalves informou que, além de nutricionista, ela é "empresária do ramo imobiliário onde realiza compra e venda de imóveis e veículos de luxo" e que "no mês de junho de 2021 vendeu para Thiago Fernandes o veículo Porsche Carrera 911, de cor vermelha, pelo valor de R$ 740.000,00. À época da venda do veículo Thiago pagou parte do valor à vista e financiou o restante e que só descobriu a não transferência do referido veículo junto ao órgão de trânsito competente com os últimos acontecimentos". A defesa diz ainda que ela vendeu outros três carros para Thiago e que "os valores foram pagos através de transferência bancária de titularidade da empresa TR alimentos (um mercado em nome de Thiago e do pai)." 

Os advogados da nutricionista confirmaram dois saques feitos por ela, sendo um de R$ 800 mil e outro de R$ 530 mil. "Utilizando tais valores para realização de pagamentos diversos os quais possuem comprovantes e que estão à disposição da justiça", complementa a nota.

Em nota, a Polícia Militar do DF garantiu que "já instaurou um procedimento apuratório sobre o caso de imediato" e que "não compactua com qualquer desvio de conduta de seus integrantes". "Comprovado os indícios de irregularidades ou crime, todas as medidas cabíveis ao caso serão tomadas", pontuou. O R7 questionou a corporação sobre a entrada de Raiane e Alison em um batalhão da PMDF com aproximadamente R$ 800 mil e aguarda retorno.

Os outros investigados não foram localizados pela reportagem. O espaço segue aberto.

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