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Expansão do Brics tem mais impacto político do que econômico, avaliam especialistas

Comércio do Brasil com novos membros do bloco chegou a US$ 44 bilhões em 2022, menos de um terço do negociado com a China

Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília

O presidente Lula com líderes do Brics durante cúpula do grupo na África do Sul
O presidente Lula com líderes do Brics durante cúpula do grupo na África do Sul O presidente Lula com líderes do Brics durante cúpula do grupo na África do Sul

Os negócios entre o Brasil e os seis países que passarão a integrar o Brics a partir de 2024 – Argentina, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes e Irã – somam US$ 44 bilhões (R$ 214 bilhões) por ano. Mesmo assim, especialistas afirmam que o crescimento do bloco terá mais impacto político do que econômico. Atualmente, o grupo é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

A intenção do Brasil é aumentar o diálogo com os países do Brics nas áreas comercial, financeira, tecnológica e política. Quanto mais integrado a esses países, melhores ficam as ligações comerciais e maiores são as chances de celebração de acordos bilaterais. É o que explica Denilde Holzhacker, doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e professora de relações internacionais.

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“De um lado, o Brasil ganha por fazer parte de um grupo mais amplo e por ter um peso grande dentro desse grupo. No caso dos países do Oriente Médio, que são exportadores de petróleo, isso traz uma aliança mais próxima com eles, o que pode significar maior cooperação nas áreas que são de interesse do Brasil, como energia e combustíveis. No caso da Argentina, essa é uma forma de o país ter outra opção para sair da crise econômica, o que traz reflexos positivos para o Brasil”, afirma.

No entanto, a professora afirma que há outras complexidades na nova configuração do Brics e que podem atrapalhar o Brasil. Com mais países no bloco, as influências das nações são dissolvidas. Além disso, há também preocupações com relação à imagem do Brasil diante dos países do Ocidente.

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“É um acordo que pode ser complexo, dependendo da trilha a ser percorrida por esses países do ponto de vista geopolítico. É importante o Brasil atestar que não está apoiando uma ação antiamericana, por exemplo, porque também temos interesses na relação com os Estados Unidos e com a União Europeia”, diz.

Na mesma linha, o ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Barbosa avalia que a expansão do bloco pode não ser interessante para o Brasil do ponto de vista geopolítico. “Esvazia-se a posição do país, e em troca o Brasil não ganhou nada, apenas um aceno em relação ao Conselho de Segurança da ONU, mas não tem nada certo ainda. O que vemos é que com a entrada de outros países, o Brasil vai ficar menos influente. Isso sem falar nas conotações ideológicas e no alinhamento com países autoritários”, comenta.

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O ex-embaixador lembra que, em outros momentos, o Brasil propôs discutir critérios para a entrada de novos países no bloco, no entanto cedeu à pressão da China, que busca aumentar influência global e impor sua liderança no grupo.

“A China mostrou que tem força, dobrou o Brasil e a Índia para conseguir o aumento no número de membros do grupo. Além disso, a Rússia também é beneficiada, por estar isolada por causa da guerra, ela busca ampliar a influência porque mostra que ela tem apoio”, conclui.

O economista e especialista em mercados internacionais, Alessandro Azzoni, declara que a expansão também pode significar mais divergências em um grupo que já tem dificuldades para tomar decisões devido à necessidade de entrar em consenso.

“Um grande problema é que tudo o que é discutido no Brics é por consenso. O Brasil era contra essa expansão, mas sem o voto do Brasil não poderia haver a inclusão dos novos membros. Só que o Brasil não quis ser o único a contrariar as decisões de outros países-membros. Então, acredito que nas próximas reuniões do Brics vai ser mais difícil entrar em consenso. E aí corre-se o risco de haver um desvirtuamento do bloco”, afirma.

O especialista aposta que a próxima discussão do bloco econômico pode girar em torno da “desdolarização” do comércio global. O assunto foi tratado em dois parágrafos da declaração negociada entre os governos de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O documento destaca a importância do incentivo ao uso de moedas locais nas transações dentro e fora do bloco. O tema, segundo o texto, vai ser analisado pelas áreas econômicas de cada país.

O índice de exportações do Brasil para os novos países do bloco ainda é baixo. Segundo levantamento da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o comércio bilateral com os novos membros do Brics representa US$ 44 bilhões ao ano. O valor corresponde a menos de um terço dos US$ 150 bilhões que o Brasil negociou com a China em 2022. O país asiático é o maior parceiro comercial do Brasil. O comércio bilateral com os Estados Unidos, o segundo maior parceiro comercial do país, foi de US$ 88 bilhões em 2022.

Dos novos integrantes, a Argentina somou US$ 28 bilhões em negócios com o Brasil em 2022. O país vizinho é o nosso terceiro maior parceiro comercial. Com os Emirados Árabes, o Brasil teve comércio de US$ 5 bilhões; com o Egito, de US$ 2,6 bilhões, e com o Irã, US$ 1,3 billhão. Do ponto de vista das exportações brasileiras, a Etiópia é o país menos expressivo, com com US$ 28,7 milhões em 2022, uma fatia de 0,009% do total da exportação brasileira.

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