Ferramenta alvo de operação da PF ficou em uso por dois anos e meio, diz Abin
Programa foi comprado por R$ 5,7 milhões de empresa israelense e permitia o monitoramento de até 10 mil celulares em 12 meses
Brasília|Edis Henrique Peres e Rafaela Soares, do R7, Brasília
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) informou que a ferramenta de geolocalização que é alvo de investigação da Polícia Federal nesta sexta-feira (20) ficou em uso por cerca de dois anos e meio. O software FistMile permitia o acesso ao sistema de rede de telefonia brasileira e foi invadido diversas vezes por servidores da própria agência para uso ilegal e sem autorização.
O programa foi comprado por R$ 5,7 milhões da empresa israelense Cognyte, com dispensa de licitação, no fim do governo Michel Temer, em 2018, e em fevereiro deste ano passou por uma apuração da Corregedoria-Geral da Agência, que resultou em sindicância. “Desde então, as informações apuradas nessa sindicância interna vêm sendo repassadas pela Abin para os órgãos competentes, como Polícia Federal e Supremo Tribunal Federal", afirma.
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Segundo a agência, ela vem cumprindo as decisões judiciais, incluindo as expedidas na manhã desta sexta, que determinaram o afastamento cautelar de servidores investigados. “A agência reitera que a ferramenta deixou de ser utilizada em maio de 2021. A atual gestão e os servidores da Abin reafirmam o compromisso com a legalidade e o Estado democrático de Direito”, declara.
Entenda
De acordo com informações da Polícia Federal, a ferramenta permitia o monitoramento de até 10 mil celulares a cada 12 meses, bastando digitar o número da pessoa para ter acesso às informações. A aplicação também criava históricos de deslocamento e alertas em tempo real da movimentação dos aparelhos cadastrados.
Os alvos monitorados pelo sistema seriam adversários da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como jornalistas, políticos, policiais e advogados. Nesta quinta-feira (19), dois servidores da Abin, Abin Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky, foram presos em uma operação da Polícia Federal, sob a suspeita de terem usado o sistema de espionagem sem autorização.
As investigações revelam que Colli e Yzycky sabiam das ilegalidades e teriam coagido colegas para evitar possíveis demissões. A polícia também afastou cinco pessoas de cargos da agência e cumpriu 25 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, em São Paulo, em Santa Catarina, no Paraná e em Goiás. Os agentes encontraram mais de US$ 171 mil em espécie na residência de um dos afastados do cargo, em Brasília.
Os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
Balanço da operação
Busca e apreensão
• 17 mandados no Distrito Federal
• 1 mandado em Alexânia (GO)
• 1 mandado em São Paulo (capital) e 1 em São José dos Campos (SP)
• 1 mandado em Curitiba (PR) e 1 em Maringá (PR)
• 1 mandado em Florianópolis (SC), 1 em São José (SC) e 1 em Palhoça (SC)
Total: 25 mandados
Prisão preventiva
• 2 mandados no Distrito Federal
Afastamento
• 5 mandados no Distrito Federal