G20: cenário internacional desafia potencial de influência do Brasil na agenda global
Em busca de um protagonismo internacional, o evento surge como oportunidade para o país liderar e dar visibilidade para temas-chave
Brasília|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília
Pela primeira vez, o Brasil está na liderança do G20, grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia e a União Africana.
Durante a reunião da cúpula do grupo que ocorre na semana que vem, no Rio de Janeiro, vai sair em defesa de temas prioritários, como a reforma da governança global, o desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental) e o combate à fome, pobreza e desigualdade.
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Em busca de um protagonismo internacional, o evento surge como oportunidade para o país liderar e dar visibilidade para discussões como emergência climática e taxação das grandes fortunas, tema que vem sendo defendido pelo Palácio do Planalto.
Apesar disso, o Brasil pode enfrentar dificuldades na liderança do grupo, entre elas conseguir alinhar e priorizar a agenda dos países do sul global com a de nações ricas.
Para especialistas ouvidos pelo R7, o Brasil tem potencial para influenciar a agenda e a governança global, mas de forma restrita.
Para a professora de direito internacional da USP (Universidade de São Paulo) Maristela Basso, existe a possibilidade que o governo brasileiro consiga promover um avanço em temas climáticos, de segurança e inteligência artificial.
“O Brasil tem potencial para fazer avançar uma agenda propositiva para os países do grupo, especialmente no que toca aos temas climáticos, de segurança e IA. Contudo, acaba se perdendo em retóricas inúteis, confusas e sem alinhamento com as grandes potências”, disse.
O economista e doutor em relações internacionais Igor Lucena explica que o foco na transição verde pode ser desviado após a vitória de Donald Trump, nos Estados Unidos. Para Lucena, o destaque do empresário estadunidense em energias fósseis pode tirar o destaque do Brasil no tema.
“Acredito que o Brasil vai ter uma influência muito diminuta do que ele esperava na cúpula. Isso porque, se a questão da transição verde era um fato que unia todos os países do G20, independente das visões de esquerda e direita, países democráticos ou não. Para o Brasil, a transição verde tem a sua maior importância, mas para os Estados Unidos, ela se torna irrelevante ou, pelo menos, um tema secundário”, comentou.
O especialista entende que a mudança no cenário estadunidense pode influenciar nas prioridades dos demais países, que vão procurar entender os impactos da futura gestão.
“O Brasil vai ter que fazer um esforço muito grande para que suas pautas, que são prioritárias — combate à fome e, principalmente, o meio ambiente — não sejam ofuscadas por uma mudança radical da política americana, que vai influenciar as prioridades dos outros países”, disse.
Nos dias 18 e 19 de novembro, o Rio de Janeiro será sede da Cúpula dos Líderes, momento dedicado a discussão de assuntos macroeconômicos e desafios globais.
Oportunidades
Apesar das dificuldades, a presidência do G20 traz oportunidades ao Brasil. Para Maristela, “a liderança traz visibilidade e oportuniza fazer avançar a agenda progressista e desenvolvimentista dos países em desenvolvimento”.
Em complemento, a especialista em políticas públicas Gabriela Sabino destaca a possibilidade do país ganhar destaque internacional, principalmente com o apoio a temáticas que envolvem o desenvolvimento sustentável e a justiça social.
“Ao mesmo tempo em que apoia o desenvolvimento sustentável e a justiça social, em escala globalmente relevante para o país brasileiro, hospedar a conferência de líderes globais do G20 - é uma oportunidade também para impulsionar o turismo nacional, destacando sua abundante diversidade cultural e econômica. Esta posição de liderança é crucial para posicionar o Brasil como um participante relevante nas determinações que moldam o futuro global”, comentou.
O que é e como funciona o G20
Criado na década de 90, o G20 foi fundado após uma sequência de crises econômicas que afligiram o mundo. O grupo, que possui presidências rotativas anuais, atua, principalmente, no apoio ao crescimento e desenvolvimento mundial “por meio do fortalecimento da arquitetura financeira internacional e via oportunidades de diálogo sobre políticas nacionais”.
Inicialmente, o grupo focava apenas em questões macroeconômicas gerais, mas ampliou a agenda para discutir temas como comércio, desenvolvimento sustentável, saúde, agricultura, energia, meio ambiente, mudanças climáticas e combate à corrupção.
Atualmente, além de 19 países dos cinco continentes, também fazem parte do fórum a União Europeia e a União Africana. O grupo compõe dois terços da população mundial, cerca de 85% do PIB global e 75% do comércio internacional.
O grupo é organizado em duas faixas paralelas de atuação, a Trilha de Sherpas e a Trilha de Finanças. A primeira, comandada por emissários dos líderes do G20, é focada em discutir pontos que formam a agenda da cúpula. Já a segunda, foca em assuntos macroeconômicos e é comandada pelos ministros das Finanças e presidentes dos Bancos Centrais dos países-membros.