Gilmar Mendes nega abusos em prisões do 8 de Janeiro e diz que não se comparam à Lava-Jato
Ministro entende que penas de até 17 anos de prisão são mensagem do STF de que não serão permitidos novos atentados à democracia
Brasília|Beatriz Oliveira*, do R7, em Brasília

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes afirmou que não há exageros nas prisões do 8 de Janeiro. Ao JR Entrevista, ele comentou as investigações e disse que os inquéritos não se comparam aos abusos cometidos durante a Operação Lava-Jato.
“Não se pode nem comparar. É preciso perceber que o tribunal, quando julgou naquele momento, estava julgando um atentado ao Estado de direito e um golpe de Estado pressentido”, disse o ministro. A íntegra da entrevista vai ao ar nesta quarta-feira (25), na RECORD News.
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Sobre as condenações de longos períodos, Gilmar interpreta como uma mensagem do Supremo de que não serão permitidos novos atentados à democracia.
Ele também menciona o inquérito das fake news, incorporado ao do 8 de Janeiro, como uma medida importante para conter a gravidade dos atos inconstitucionais.
“Naquele momento, já se falava de coisas que agora estão aí: o gabinete do ódio, a Abin [Agência Brasileira de Inteligência] sendo usada para investigar ministros e atacar. Então, foi nesse contexto que se abre esse inquérito, e ele serviu num primeiro momento até de contraponto para evitar que essas ações transcendessem limites razoáveis”, afirmou.
Questionado sobre o impacto da Lava-Jato na Justiça brasileira, o ministro classificou o caso como um aprendizado institucional. Segundo ele, na época, era necessária uma estrutura que combatesse a corrupção, no entanto, foram observados abusos nas investigações e uma possível força-tarefa conduzida por procuradores e por Sergio Moro, juiz responsável pelo caso.
Contudo, ele destaca a criação da posição de juiz de garantia como um resultado positivo da operação. Antes, a investigação criminal e o julgamento eram conduzidos pela mesma autoridade, porém, isso mudou em 2023. Gilmar avalia que esse sistema foi o que beneficiou a carreira política de Moro.
“O sistema político todo acabou sendo engolido por isso, porque é notório, como depois se viu, que havia um projeto político. Tanto é que Moro deixa a magistratura e se torna ministro de Bolsonaro”, comenta Gilmar.
Erros que levaram ao 8 de Janeiro
Gilmar entende que foi cometida “uma série de erros” quanto aos fatos que levaram ao 8 de janeiro. Tolerar as reuniões de opositores em frente aos quartéis foi uma dessas falhas.
“Não se exerce direito de reunião em frente a quartéis, como não se exerce direito de reunião em frente a hospitais, por razões diferentes, mas não faz sentido. Desde o fim do primeiro turno, essas pessoas vão para os quartéis pedindo intervenção militar. Quantos presidentes já tivemos, sucessões de presidentes, alternância de poder, sem nenhum problema, nunca ninguém discutiu, mas agora se coloca isso”, pontua o ministro.
*Sob supervisão de Leonardo Meireles
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