Gonçalves Dias diz que protegeu gabinete presidencial e determinou prisão de invasores no 8 de Janeiro
Ex-ministro do GSI também explicou que estava desarmado e à paisana, pois 'não esperava encontrar aquela situação'
Brasília|Fabíola Souza, do R7, em Brasília
O general Gonçalves Dias afirmou em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura os atos de 8 de janeiro na Câmara Legislativa do Distrito Federal, nesta quinta-feira (22), que atuou para proteger o gabinete presidencial — ao qual se referiu como "o núcleo central do poder palaciano" — e determinou a prisão dos invasores durante o 8 de Janeiro.
A declaração foi feita durante a sessão da CPI que apura as invasões no começo do ano. O general disse que cuidou pessoalmente de manter o gabinete da Presidência da República intacto. "Preservamos todo o 4º andar, as salas do gabinete pessoal do presidente da República, e bloqueamos o acesso aos anexos do Palácio. E repito: sem nenhuma gota de sangue", ressaltou.
O militar ressaltou que em 8 de janeiro estava desarmado e à paisana, quando está vestido em traje civil, pois havia saído de casa sem saber que tipo de circunstância encontraria. "Jamais esperei encontrar aquela situação", disse. Segundo Dias, seu objetivo era retirar os manifestantes do Palácio do Planalto "o mais rápido possivel".
Dias também relatou que viu os manifestantes descer do prédio do Ministério da Justiça para o Palácio do Planalto. "Claro que tive ímpetos de reagir, de confrontar. Contudo, readquirindo o autocontrole, concentrei-me na minha missão: não deixar que devassassem o núcleo central do poder palaciano, o gabinete do presidente da República, que fica no 3º andar", declarou.
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De acordo com o ex-ministro-chefe do GSI, no palácio foram presos 182 invasores que estavam nos corredores. "E foram presos a partir de minhas determinações", garantiu.
Defesa
O general Gonçalves Dias leu um discurso no início da sessão e relatou que em novembro de 2022 foi convidado para assumir o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República do governo Lula. Em 1º de janeiro de 2023, tomou posse do cargo e pediu o afastamento do posto em 19 de abril. "Saí por causa da divulgação imprecisa e desconexa de vídeos gravados no interior do Palácio do Planalto durante a invasão ao prédio, em 8 de janeiro de 2023", declarou.
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O militar é general de divisão do Exército brasileiro. Concluiu a Academia Militar das Agulhas Negras na arma da Infantaria em 1975. Entre os anos de 2003 e 2010, coordenou a segurança da Presidência da República. Em 2011, como general de divisão, comandou a 6ª Região Militar em Salvador, na Bahia.
Acampamento
Segundo o militar, o governo Lula "herdou" o acampamento no quartel-general do Exército, em Brasília. Para ele, essa situação não deveria ter sido permitida desde o início, pois era "incômoda e ilegal". "Estávamos decididos a pôr fim aos acampamentos", relatou.
Reunião
O general enfatizou que, no dia 6 de janeiro, sexta-feira, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal realizou uma reunião com diversos órgãos e setores encarregados da segurança e da prevenção de distúrbios na Esplanada e não convidou o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência para participar. "Isso é público, já foi dito e descrito em reportagens", apontou.
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"Dia 6, portanto, já me encaminhando para encerrar o expediente no Palácio do Planalto, telefonei para o diretor-adjunto da Abin, Agência Brasileira de Investigação, o senhor Saulo Moura da Cunha. Troquei ideias genéricas sobre a segurança palaciana. Não falamos de nenhum esquema especial para o dia 8 de janeiro, domingo, porque não havia nenhuma informação que nos indicasse que ocorreria o que ocorreu. Deixei o Palácio do Planalto por volta das 18h", relembrou o general.
Adulteração de documento
Gonçalves Dias disse que os dois documentos produzidos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre alertas de riscos de ataques em 8 de janeiro passaram por ele antes de serem enviados ao Congresso Nacional e ao Ministério Público Federal (MPF) e foram editados.
"Eu sempre falei no GSI, principalmente nessa semana [do dia 8 de janeiro], que todo o documento que passasse por lá tinha que ser a expressão da verdade. E aí, nós temos dois casos que devem ser separados", afirmou o general.
Segundo ele, a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso Nacional solicitou o que a Abin tinha produzido de informação referente a semana que compreendia o dia 8 de janeiro. A agência então respondeu com um compilado de mensagens de aplicativo que citava o "ministro do GSI" entre os destinatários dos informes.
"Eu não participei de nenhum grupo de WhatsApp, eu não participei do grupo, eu não sou na realidade o difusor daquele copilado de mensagens. Então o documento não condizia com a verdade", disse o militar.
Ainda segundo Dias, o "documento foi acertado e enviado para a CCAI". Posteriormente, o MPF também solicitou o relatório, que foi enviado sem a referência de que o ministro do GSI estava entre os destinatários das mensagens.