Governo inicia restrição de voluntariado e articula medicamento para yanomamis
As medidas foram anunciadas neste sábado (4) pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
O governo federal iniciou a restrição do número de voluntários nas terras yanomami, devido aos cuidados com os indígenas, e articula a suplementação alimentar, inclusive com medicamentos, para a população local. As medidas foram anunciadas neste sábado (4) pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, durante coletiva de imprensa após ter acompanhado as ações feitas em Boa Vista (RR).
"Estamos restringindo um pouco esse voluntariado, que está chegando de todos os lugares. Tem uma ansiedade, uma vontade de ajudar, mas a base, o movimento indígena local, o DSEI, a Funai, enfim, precisam de tempo para organizar esse apoio", afirmou Guajajara. "Nós entendemos que o voluntariado e essas ações são necessárias, mas é preciso o Estado, nesse momento, se fazer presente e assumir a responsabilidade dessas ações", completou.
Diante dos graves casos de desnutrição e de malária que atingem a comunidade dos yanomami, o Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública de importância nacional e a Polícia Federal (PF) abriu inquérito para investigar eventuais crimes, como genocídio e omissão de socorro, na região.
Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram que oito em cada dez crianças indígenas com menos de 5 anos na comunidade sofrem de desnutrição. O garimpo ilegal e a ausência de medicamentos e políticas de saúde agravam a situação da comunidade de 30 mil habitantes, localizada no meio da floresta amazônica.
Alimentos
De acordo com a ministra, o momento pede a seleção dos alimentos que são doados ao povo yanomami. "Não é o fato de ter mil cestas, uma tonelada de alimentos, cinco mil toneladas de alimentos que vai resolver a situação. Nesse momento, é identificar as prioridades e também garantir o alimento próprio que o povo yanomami come. Não é a cesta que vem com os itens da cesta básica."
Guajajara detalhou que o governo está fazendo um estudo para a compra de alimentos. "De produtores de outras terras indígenas ou mesmo na área yanomami, uma área que tenha produção de banana, melancia e outros alimentos. Agora estamos programando para fazer a compra local para levar os alimentos que é do hábito alimentar [dos yanomami]", disse.
"Além de pensar nos alimentos próprios, estamos agora com equipe de especialistas da saúde, uma equipe de nutricionistas, para além da suplementação alimentar, é preciso de um medicamento nutricional para restabelecer a saúde de muitos daqueles que já estão numa desnutrição crônica", acrescentou a ministra.
Garimpo
A ministra dos Povos Indígenas voltou a criticar o garimpo ilegal na região. "Para que a gente consiga sair dessa situação de emergência de saúde, é preciso combater a raiz, que é o garimpo ilegal. Não é possível mais que 30 mil indígenas yanomamis siga convivendo com 20 mil garimpeiros dentro do seu território, trazendo essa consequencia da contaminação da água", argumentou.
"Não se justifica que voos continuem sobrevoando o território yanomami, sendo que, no estado, não há nenhuma autorização para exploração de minérios. Então tudo que é garimpo e que está no território yanomami é considerado ilegal e, portanto, precisa ser retirado imediatamente", acrescentou Guajajara.
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Em visita ao território, em 21 de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o governo vai atuar para interromper o garimpo ilegal. "Mesmo que seja um trabalho que tem autorização da agência para fazer pesquisa, terá de fazer pesquisa sem destruir a água, sem destruir a floresta e sem colocar em risco a vida das pessoas que dependem da água para sobreviver", disse na ocasião.
De acordo com o relatório "Yanomami sob ataque: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo", entre 2016 e 2021 o garimpo ilegal aumentou 3.350% na região. A ação polui a água que é consumida pela população, porque lança mercúrio e outros produtos tóxicos nos rios, o que causa doenças aos moradores. Além disso, prejudica a produção de alimentos, com a destruição das florestas, o que gera aumento da caça ilegal e ocasiona o avanço da fome nas comunidades tradicionais.