Haddad diz que acordo Mercosul-UE tem ‘assimetrias’, mas ‘faria muito bem para o mundo’
Parceria é discutida há mais de duas décadas; França é a maior crítica do texto atual
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (14) que o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, discutido há mais de 20 anos, é positivo para melhorar o cenário global, apesar de “assimetrias” presentes no texto. O presidente Luiz Inacio lula da Silva garante que a parceria será concluída até o fim deste ano.
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Se finalizado, o acordo formará uma das maiores áreas de livre comércio do planeta, com quase 720 milhões de pessoas, 20% da economia global e 31% das exportações mundiais de bens.
“É um acordo com algumas assimetrias, mesmo com as alterações e revisões propostas pelo Brasil. Contudo, volto à questão da economia e política. Economicamente, pode trazer perspectivas novas para o Mercosul. E acredito que, politicamente, faria muito bem para o mundo”, destacou Haddad, ao afirmar que vai à Europa no próximo mês discutir o assunto com representantes da França e Alemanha.
“Acredito que o acordo é um caminho a ser explorado. Quem sabe, agora depois das eleições [europeias] — que preocupavam muito, sobretudo a França, e deu no que deu [a coalizão do presidente francês, Emmanuel Macron, terminou o pleito em segundo lugar], um cenário preocupante de fragmentação da política francesa — Macron possa encontrar um caminho para fazer a França deixar de ser um obstáculo a esse acordo. É o principal impedimento hoje”, completou Haddad.
Posicionamento europeu
Em recente declaração exclusiva ao R7, o representante de Comércio e Agricultura da Comissão Europeia, Olof Gill, afirmou que “acredita firmemente” que o acordo “é da maior importância, política e economicamente”. “A Comissão Europeia acredita firmemente que um acordo entre a União Europeia e os quatro países do Mercosul é da maior importância, política e economicamente”, disse à reportagem, em entrevista por e-mail.
Durante agenda na 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em 25 de setembro, Lula afirmou que o acordo pode ser assinado em novembro. Na ocasião, o brasileiro se reuniu com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. “Eu nunca estive tão otimista. O Brasil está pronto para assinar. Agora, a responsabilidade é toda da União Europeia, porque durante 20 anos jogava a culpa [da não conclusão] num país do Mercosul. Nós estamos prontos”, disse.
Barreiras à conclusão
Um dos países europeus mais críticos ao acordo é a França. Os principais entraves são compras governamentais, pontos relacionados às mudanças climáticas e produção agrícola francesa. Quando veio ao Brasil em março deste ano, Macron afirmou que não defende o acordo e avaliou o texto como “péssimo”. Para ele, “precisa ser renegociado do zero”.
Na avaliação do europeu, o ato pode afetar negativamente a competitividade dos franceses em relação aos sul-americanos, principalmente, na questão agrícola. As negociações foram suspensas no início deste ano em função das eleições para o parlamento europeu, que ocorreram há quatro meses.
Em junho, durante encontro do G7 na Itália, Lula afirmou que o presidente francês se mostrou mais flexível em relação às tratativas do acordo. Macron, contudo, pediu para que o brasileiro esperasse as novas eleições no país, cujo segundo turno ocorreu na semana passada.
Alem disso, a lei europeia prevê a proibição da importação de produtos originários de áreas que foram desmatadas a partir de 2022, mesmo em regiões em que o desmatamento é legalizado. Em reação, o governo brasileiro, por meio do Ministério da Agricultura, enviou uma carta em que pede à União Europeia a suspensão da norma e a revisão da abordagem punitiva aos produtores que cumprem com a legislação vigente.
Segundo a proposta, são alvos da lei setores como soja, carne, madeira, borracha, café, cacau e óleo de palma. Em vigor desde 2012, o Código Florestal Brasileiro é considerado uma das leis de proteção ambiental mais rigorosas do mundo. Na retomada do governo Lula, o combate ao desmatamento foi estabelecido como uma das políticas prioritárias, assim como a adoção do programa de conversão de pastagens degradadas, que visa coibir o avanço da produção agropecuária sobre áreas ainda intactas.