Ibaneis diz que Torres ‘quebrou confiança’ ao tirar férias antes do 8 de Janeiro e que PMDF errou
Governador do DF foi questionado se perguntou a Torres sobre o aumento de movimentação no acampamento e negou
Brasília|Gabriela Coelho, do R7, em BrasíliaOpens in new window e Giovanna Inoue
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afirmou nesta segunda-feira (13) ao STF (Supremo Tribunal Federal) que se Anderson Torres, então secretário de Segurança Pública do DF, estivesse à frente dos atos extremistas do 8 de Janeiro, o fato não teria ocorrido. Em depoimento como testemunha à Corte, Ibaneis disse que teve uma “quebra de confiança com Torres, uma vez que ele não sabia que Torres estava viajando para os Estados Unidos. Entretanto, Ibaneis disse acreditar que se o então secretário estivesse presente, o controle teria sido outro.
Leia também
Nesta semana, o STF começou a ouvir testemunhas indicadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) em ação penal que investiga os atos do 8 de Janeiro. Nesta leva, serão ouvidas apenas testemunhas.
“Com a participação dele, talvez a gente tivesse tido mais efetividade. Mas não posso atribuir a culpa só a ele. Fiz a exoneração dele [Torres] porque entendi que se ele estivesse à frente, não teria acontecido esse fato. Foi uma quebra de confiança. Ele havia me avisado dessa viagem mas não havia me dito da data. Só soube que estava lá quando liguei e ele estava nos EUA. Normal quando se tira férias é notificar. Sou eu que autorizo as ferias. Nesse caso, não fui eu”, disse.
Ibaneis disse ainda que foi surpreendido porque viu policiais militares confraternizando com os manifestantes e estranhou. “Vi isso nas imagens da televisão. Não consigo generalizar, mas que houve algum erro ali, certamente houve”.
Ibaneis foi questionado se perguntou a Torres sobre o aumento de movimentação no acampamento e negou. “Só fui questionar quando recebi uma mensagem do Flávio Dino na sexta à noite, que só consegui ler no sábado pela manhã. Entrei em contato com o Anderson, que me informou que estava nos Estados Unidos e me passou o contato do Fernando. Ele disse que estava acompanhando tudo e me passou um relatório de tudo que aconteceu de sexta para sábado. Encaminhei para o Dino. A informação que ele [Fernando] me passava era que estava tudo tranquilo”. Fernando era o secretário-executivo de Segurança Pública do DF no momento dos atos.
“No dia, recebi o contato do presidente do Senado [Rodrigo Pacheco (PSD-MG)] preocupado. Procurei o Fernando e ele disse que estava tranquilo. Fui à missa, almocei com a minha família. Liguei a TV e acompanhei a manifestação. Fiquei sabendo dos ataques por meio da televisão e soube que as coisas tinham saído do controle. Dei a ordem para tirar e prender os vândalos. Não tive contato com a cúpula da PM, só com o secretário. A partir daquele momento, ele não teve explicação e não falei mais com ele. Chamei secretários para minha residência e começou o processo de intervenção na segurança pública. Depois tive reunião com secretários. Acordei e já estava afastado”, disse.
Ibaneis disse que já tinha conhecimento de que ia acontecer a manifestação, mas não tinha relatório de inteligência apontando para violência do grupo. “Os acampamentos começaram após as eleições e la era área do Exército. Chegamos a marcar data para eles saírem, mas quando a operação começou, o Exército pediu para não ir adiante. Isso foi em 29 de dezembro de 2022 e o Exército pediu para suspender. Sempre foi preocupação nossa por ter bandeiras radicalizadas. A gente fazia um acompanhamento e o Exército nos repassava era que era pacífico e não tinha problema”.
Ibaneis disse que a PMDF “é bastante experiente” e nunca teve intercorrência. “Tenho confiança ampla e irrestrita. Fui surpreendido porque vi policiais confraternizando com manifestantes. Depois, já afastado, fui cuidar da minha defesa e não tive mais contato com ninguém. A Polícia Militar é uma das mais bem pagas do Brasil, temos equipamentos suficientes, inteligência. Não tinha motivo para desconfiar da PMDF porque ao longo de quatro anos sempre foi muito efetivo”.
Veja cronograma de depoimentos:
- Terça-feira (14) - 10h: Oitiva com o ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal Fabio Augusto Vieira;
- Quarta-feira (15) - 10h: Oitiva com Klepter Rosa Gonçalves, ex comandante da PM; e às 14h, oitiva com Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações;
- Quinta-feira (16) - 10h: Oitiva com Paulo José Ferreira de Sousa, chefe interino do Departamento de Operações da PM; e Marcelo Casimiro, do 1º Comando de Policiamento Regional; às 14h será ouvido Rafael Pereira Martins, chefe do Batalhão de Choque da PM, e Flávio Silvestre de Alencar, major da PM;
- Sexta-feira (17) - 13h: Interrogatório dos réus