Kataguiri se desculpa por críticas à criminalização do nazismo
Em sessão na Câmara, deputado se disse arrependido e agradeceu à comunidade judaica por apontar seus erros através do diálogo
Brasília|Isabella Macedo e Carlos Eduardo Bafutto, do R7, em Brasília
O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) se pronunciou durante a sessão desta terça-feira (15) da Câmara dos Deputados sobre a conduta que teve durante um podcast do canal Flow na segunda-feira (7) da semana passada, em que criticou a criminalização do partido nazista na Alemanha.
O deputado disse durante a sessão que "ao ouvir a fala do Monark deveria ter, imediatamente, repudiado a possibilidade de legalização de tal partido". Ele se disse liberal e apoiador do Estado de Israel e da comunidade judaica e que seus eleitores esperavam que ele reagisse a qualquer fala de tal natureza.
"Não foi o que eu fiz, lamentavelmente. Além de não ter repudiado de pronto a fala do Monark ainda respondi, de maneira atabalhoada, uma pergunta da deputada Tábata [Amaral (PSB-SP)], dando a impressão de que era favorável à livre circulação do ideário nazista e contrário à lei alemã que criminalizou qualquer forma de expressão nazista, quando na realidade o que eu queria defender era o acesso às obras históricas relacionadas ao nazismo para que os seus horrores fossem expostos e essa ideologia fosse definitivamente derrotada", alegou.
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O deputado se disse contra a ideologia nazista e que repudia qualquer forma de autoritarismo, em especial o totalitarismo. "Sou também, e sempre serei, um defensor da causa judaica e do Estado de Israel. A comunidade judaica, aliás, foi extremamente generosa comigo. Em vez de embarcar no linchamento que me foi imposto, as lideranças da comunidade apontaram meus erros e me chamaram para o necessário diálogo", disse o deputado.
"Diversos judeus proeminentes, com sua costumeira sabedoria e apego aos estudos, fizeram com que eu percebesse o erro cometido e a necessidade de vir a público pedir desculpas", discursou. "Eu agradeço imensamente o apoio e a postura da comunidade judaica, a quem novamente peço perdão pela minha falha, e peço perdão também aos meus eleitores, que independentemente de seus credos, têm toda razão em expressar sua insatisfação com a minha postura", acrescentou.
O deputado agradeceu a líderes judeus que, segundo ele, apontaram seus erros através do diálogo. Kim disse ainda que visitou nesta terça-feira o Memorial do Holocausto.
Processos judiciais
Antes da sessão de hoje na Câmara, Kim anunciou a abertura de ações judiciais contra 17 pessoas e quatro veículos de comunicação que retrataram declarações dele em relação ao nazismo. Em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais, o deputado afirmou que está sendo alvo de "canceladores".
Foram acionados judicialmente o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), a filósofa Márcia Tiburi, o historiador Jones Manoel, o jornalista Palmério Dória, o youtuber Henry Bugalho e os administradores dos perfis Rosa Conservadora, Senhora Rivotril, Família Direita Brasil, Bolso Regrets, Jornalismo Wando, Thiago Brasil, Marcello Neves, Veronica do @vedaytos, Flávia Maynarte, Dilmãe Tá On e Sergio Amadeu.
Kim também anunciou processos contra a Band News, The Intercept Brasil, Nexo Jornal e Blog da Cidadania. Em relação aos veículos de comunicação, ele pretende pedir direito de resposta e indenização.
Investigações
A Procuradoria-Geral da República vai investigar declarações feitas durante o podcast. Augusto Aras determinou que seja apurado o crime de apologia do nazismo pelo deputado federal Kim Kataguiri e pelo apresentador conhecido como Monark, que defendeu a possibilidade da criação de um partido nazista no Brasil.
Outra investigação foi aberta pela Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, por meio da Coordenação Geral de Apoio aos Programas de Defesa da Cidadania, na última sexta-feira (11) sobre as condutas de Kim e os outros dois participantes do podcast Flow, o influencer Bruno Aiub, o Monark, e o comentarista Adrilles Jorge.