Três capitais amazônicas têm os piores índices de qualidade do ar do Brasil
Porto Velho tem índice de poluição 54,7 vezes maior que o recomendado pela OMS
Brasília|Jéssica Gotlib, do R7, em Brasília
Três das sete capitais da região Norte lideram o ranking de pior qualidade do ar do Brasil nesta quinta-feira (29): Porto Velho, Rio Branco e Manaus. As cidades, localizadas em região de floresta Amazônica, registram índices que variam de insalubre, no caso das duas últimas, a perigoso, considerada a capital rondoniense. É o mais alto grau de alerta dado pela IQAir, companhia suíça de monitoramento da qualidade do ar.
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Ao longo de toda a semana, a classificação de Porto Velho na medição do instituto variou entre os dois piores graus da escala: muito insalubre e perigoso. A concentração de poluentes na região é 54,7 vezes maior que o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). E os níveis ruins não são recentes, pelo menos desde 29 de julho a cidade experimenta graus ‘insalubres’ de partículas locais. A título de comparação, o nível de fumaça em Porto Velho é sete vezes superior ao observado em São Paulo hoje.
“Nunca tinha vivenciado uma situação em todos os anos que mora em Rondônia. É o caos total, uma experiência amarga, estão destruindo tudo, nossas reservas, nossas matas, nossos rios, nossos peixes. É o pior momento da história do estado, afetando nossas crianças, nossos idosos, inclusive, me incluo, passando por muitas dificuldades para respirar e tentar sobreviver. É fumaça por todo lado, dentro de casa, na rua, não tem local sem fumaça. Olho ressecado e sem lágrimas. Tudo seco e sem água”, conta o diretor, ator e produtor Chicão Santos, 61 anos, morador de Porto Velho.
Ele conta que, mesmo sem sofrer de problemas de saúde crônicos, como bronquite ou asma, tem se sentido mal em meio a tanta fumaça e poluição. “Não tem muito o que fazer. É tentar sobre viver a esse absurdo. Não temos para onde correr. E estamos pedindo a Deus para mandar chuva... Só a chuva poderá nos salvar”, diz.
Além disso, o clima hostil atrapalha inclusive as atividades culturais que ele promove. “Estamos trabalhando com um evento e com baixa participação, pois o povo não está saindo de casa. O melhor remédio é beber muita água e tomar banho para refrescar ou amenizar. Mas é uma situação complicada”, ressalta.
Capitais são exemplo do que ocorre em toda a região
Em Rio Branco, os níveis são um pouco mais baixos, mas ainda assim, ultrapassam em 23,2 vezes as recomendações da OMS. Em uma situação que também se repete pelo menos desde o mês passado. Já em Manaus, a piora é mais recente, com as taxas saindo de zonas moderadas de poluição a partir de 10 de agosto e alcançando uma qualidade do ar 8,8 vezes pior que a recomendada nesta quinta.
Os três municípios estão em situação de emergência pelas queimadas que se intensificaram neste mês e têm planos de contingência que citam monitoramento e alerta para casos de poluição do ar. Entretanto, os documentos não preveem ações efetivas para quando a situação ultrapassa os níveis críticos de poluição.
Os estados de Amazonas e Rondônia também decretaram emergência em razão das queimadas deste ano. Em termos de políticas públicas, o Brasil está atrasado em relação aos países vizinhos, como a Colômbia, mostrou estudo feito pelo Instituto Ar em parceria com o Instituto Alana.
Isso deixa a população vulnerável a eventos extremos, especialmente os idosos e as crianças, como explica JP Amaral, gerente de Natureza do Instituto Alana. “A nível de proteção individual, é estimular medidas como a ventilação do ar, manter a toalha molhada, umidificador de ar, evitar atividades ao ar livre”, comenta.
Já em relação às políticas públicas, a situação pede medidas urgentes. “O Brasil está muito atrasado na questão de monitoramento da qualidade do ar. As estações que existem são poucas, só dez estados e em poucas estações por estado. Precisamos melhorar”, reforça.