Logo R7.com
Logo do PlayPlus
R7 Brasília

Liderança do Brasil na transição energética pode influenciar países poluentes na COP30

País recebe a COP30 em Belém, no Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro

Brasília|Júlia Melo, do R7, em Brasília

O Brasil recebe a COP30, em Belém, no Pará Rodrigo Pinheiro / Agência Pará

O Brasil tem se destacado cada vez mais na transição energética, graças à sua matriz, que é uma das mais renováveis do mundo. Um relatório divulgado pelo Fórum Econômico Mundial em 2024 aponta que o país é uma das nações que mais avançam na implementação de ações voltadas para essa transformação. Além disso, o país está na 12ª posição do Índice de Transição Energética, sendo o primeiro entre os emergentes e o terceiro entre os participantes do G20.

LEIA MAIS

Com 49,1% de sua matriz energética proveniente de fontes renováveis, o Brasil supera a média mundial de 29% e a dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os dados são do relatório do Balanço Energético Nacional 2024 — elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética em parceria com o Ministério de Minas e Energia.

A participação de renováveis na matriz foi marcada pela manutenção da oferta de energia hidráulica, crescimento da produção eólica e solar fotovoltaica e redução de 1,9% na geração termelétrica, com destaque para a diminuição do uso do gás natural (-7,9%) e dos derivados de petróleo (-14,4%). O relatório aponta ainda que a contribuição de fontes renováveis para a geração elétrica atingiu 89,2%. Esse avanço é um marco importante e posiciona o Brasil como referência global no uso de energias limpas.

Essa posição pode impulsionar discussões cruciais na COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), influenciando países altamente poluentes a adotarem práticas mais sustentáveis. Um dos principais temas a serem debatidos no evento é sobre tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono. O encontro, que ocorre em Belém, no Pará, entre 10 e 21 de novembro, representa uma oportunidade histórica para o Brasil reafirmar sua liderança nas negociações sobre mudanças climáticas.


Para o professor, ambientalista e especialista em engenharia de controle da poluição ambiental Bernardo Verano, a conferência coloca de vez o Brasil no centro das discussões globais sobre preservação e sustentabilidade. Segundo ele, realizar o evento na Amazônia ressalta a relevância do bioma como regulador do clima global e fonte de biodiversidade, o que atrai investimentos para projetos de conservação e fortalece políticas ambientais.

“A COP30 oferece ao país a chance de reafirmar seu protagonismo global na luta contra as mudanças climáticas, promovendo um modelo que concilie desenvolvimento sustentável com a preservação ambiental”, afirma.


Importância da transição energética

Verano aponta que a transição energética é fundamental para a preservação ambiental, uma vez que contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa e mitiga os impactos do aquecimento global. O especialista destaca que a mudança para fontes renováveis também é crucial para diminuir a poluição do ar e da água, preservar recursos naturais e proteger ecossistemas essenciais para a biodiversidade global.

O ambientalista ressalta que o fato do Brasil ocupar uma posição de liderança nesse processo é um feito notável que reflete décadas de investimento em hidrelétricas, energia eólica, solar e biomassa. Para ele, a transição energética mundial apresenta oportunidades significativas para o país, que pode liderar o mercado global de hidrogênio verde, consolidar sua posição como referência em biocombustíveis e expandir a infraestrutura.


Além disso, o país tem a chance de valorizar a Amazônia como ativo estratégico no mercado de carbono, viabilizando soluções inovadoras para a conservação ambiental e o desenvolvimento econômico sustentável.

Planos para a COP30

A COP28, realizada em Dubai, concluiu o Balanço Global do Acordo de Paris. Já a COP29, em Baku, finalizou o “livro de regras” da conferência, com uma decisão sobre mercados de carbono e a adoção de uma meta de financiamento para países em desenvolvimento. Agora, o foco da COP30 será garantir a implementação desses acordos, com o objetivo de reverter o processo de desequilíbrio climático, que representa graves ameaças à vida no planeta.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, um dos principais objetivos da conferência em 2025 será assegurar que as novas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa dos países, conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), estejam alinhadas com o objetivo do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura média global a 1,5ºC em relação ao período pré-industrial.

Para o cumprimento dessas metas, será necessário garantir o financiamento adequado, principalmente para os países em desenvolvimento, que mais sofrem com os impactos das mudanças climáticas. Dessa forma, a COP30 deve dar continuidade ao processo iniciado na COP29 e finalizar um roteiro que viabilize US$ 1,3 trilhão por ano para apoiar essas nações.

A conferência também terá como foco a implementação de compromissos já estabelecidos, como triplicar a capacidade global de energias renováveis, dobrar a taxa de melhoria da eficiência energética, transitar para o fim dos combustíveis fósseis, acabar com o desmatamento e a degradação florestal até 2030 e intensificar a restauração dos ecossistemas. Outro tema central será a transição justa, que deve apontar caminhos para sua implementação e garantir que o combate às mudanças climáticas não agravam as desigualdades sociais e econômicas.

Desafios

Mesmo com avanço na transição, o Brasil enfrenta desafios importantes que podem impactar sua posição nas negociações internacionais, principalmente na COP30. O doutor em Sociologia Política e professor de Relações Internacionais Rafael Pons destaca que o país se encontra em uma posição delicada, devido a uma série de problemas internos e externos.

Segundo Pons, o país tem um “telhado de vidro” no que diz respeito aos problemas ambientais internos, como a crescente destruição da floresta amazônica, as queimadas, a desertificação e o garimpo ilegal. “Esses desafios domésticos podem manchar o discurso ambientalista brasileiro”, alerta.

O Brasil, por causa desses desafios domésticos, pode passar uma imagem muito equivocada lá fora, tendo em vista uma disparidade da prática interna com o discurso externo

(Rafael Pons, especialista em Relações Internacionais e Sociologia Política)

Em relação aos fatores externos, o especialista destaca a incerteza gerada pelo retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em janeiro de 2025. Segundo ele, uma possível retirada da potência do Acordo de Paris teria um impacto significativo nas negociações da COP30. Apesar disso, pode haver uma oportunidade para países europeus, como a França e a Alemanha, que, junto à China e à Índia, ambas tidas como grandes poluidoras, poderiam assumir uma liderança, impulsionando as discussões climáticas.

Papel diplomático

Mesmo diante dos desafios, Pons acredita que, com o protagonismo na transição energética, o Brasil pode desempenhar um papel importante nas negociações internacionais. Ele aponta que o país tem uma tradição diplomática forte na área ambiental.

“O Itamaraty vai proceder numa tentativa de costurar com os outros ministérios um posicionamento que consiga transformar o Brasil num país que tem a maior capacidade negociadora, de não apenas enfrentar os desafios, mas, sobretudo, de tentar fazer avançar muitos dos projetos discutidos na COP-29″, prevê o especialista.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.