Lula diz que Brasil não negocia com França e que Macron deve brigar com UE sobre acordo com Mercosul
Presidente brasileiro comentou as críticas feitas pelo francês Emmanuel Macron sobre as negociações dos blocos
Brasília|Ana Isabel Mansur e Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (28) que o presidente da França, Emmanuel Macron, deve brigar com os negociadores e autoridades da União Europeia, não com o Brasil e o Mercosul em torno do acordo comercial entre os blocos econômicos.
“O Brasil não está negociando com a França, o Mercosul está negociando com a União Europeia. Não é um acordo bilateral, é um acordo comercial de dois conjuntos de países, de um lado o Mercosul e do outro a União Europeia”, disse Lula.
“Se o Macron tiver que brigar com alguém, é com a União Europeia, é com os negociadores. Eu estou tranquilo... Vamos continuar tentando conversar com a União Europeia, mas a briga do Macron é com a União Europeia e a minha é com o Mercosul”, acrescentou.
Macron, por sua vez, concordou com Lula em relação à natureza do acordo e disse que, sim, a França não negocia diretamente com o Brasil, mas sim com os demais países da União Europeia. O francês voltou a falar que o texto é antigo e uma das preocupações francesas é em torno da mudança climática.
"Lula teve toda a razão da natureza do acordo. Não é bilateral, são duas instituições. Cada um puxa brasa para a sua sardinha. Não é um problema entre Brasil e França. Eu tomei posição, que não tem nada a ver com a relação bilateral, mas é uma decisão de princípio: dizemos que somos todos loucos, porque fazemos acordos comerciais hoje como fazíamos há 20 anos, esse texto, por exemplo, é de 20 anos atrás, estamos fazendo apenas alterações pontuais."
As negociações em torno do acordo entre Mercosul e União Europeia se arrastam por cerca de 20 anos. Se concluído, o tratado vai formar uma das maiores áreas de livre comércio do planeta, com quase 720 milhões de pessoas, 20% da economia global e 31% das exportações mundiais de bens.
Um dos países europeus mais críticos ao acordo é a França. Os principais entraves são compras governamentais e pontos relacionados às mudanças climáticas. Na última quarta-feira (27), durante uma agenda com empresários em São Paulo, Macron disse que não defende o tratado e avaliou o texto como "péssimo". Para ele, "precisa ser renegociado do zero".
"É um péssimo acordo como ele está sendo negociado agora. Esse acordo foi negociado há 20 anos. Eu não defendo esse acordo. Não é o queremos", afirmou o francês. "Deixemos de lado um acordo de 20 anos atrás e construamos um novo acordo, mais responsável, prevendo questões como o clima e a reciprocidade", completou.
No início de março, Lula afirmou que o Mercosul não voltou atrás em relação ao acordo com a União Europeia e relatou que o Brasil "está pronto" para assinar os documentos. "Nós não voltamos atrás. Nós nunca avançamos o tanto que avançamos. O Brasil se preparou com a discussão com a União Europeia. Dificuldades que tinham foram acertadas com a União Europeia. Nós estamos hoje prontos para firmar o acordo com a União Europeia. Estamos prontos", disse o petista na ocasião.
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"Eu lamentei profundamente que o acordo não tenha sido firmado enquanto Sánchez era presidente da UE e eu, do Mercosul. Foi uma falta de oportunidade. Mas eu penso que ainda estamos na presidência e vamos assinar o acordo para o bem do Mercosul e para o bem da União Europeia", continuou à época.
A embaixadora Maria Laura Escorel de Moraes, que atua como secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores, confirmou que houve uma pausa nas negociações, mas que o processo não foi suspenso. "Essa pausa se dá em função das eleições no parlamento europeu. É um momento em que os técnicos continuam se falando, dos dois lados. Há um entendimento muito bom entre os dois lados, mas na prática há uma pausa para aguardar a eleição", pontuou.