Lula diz que PEC da segurança vai ‘exigir paciência’: ‘Apenas o começo de um grande debate’
Reunião com governadores sobre o tema durou cerca de quatro horas; alterações vão incluir ‘mudança de lei e de comportamentos’
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (31) que o debate sobre a PEC (proposta de emenda à Constituição) da segurança pública vai “exigir paciência”. Ao fim da reunião com governadores — que durou cerca de quatro horas, no Palácio do Planalto —, o petista destacou a importância da contribuição dos estados para a consolidação do texto. O encontro desta quinta (31) foi chamado por Lula para apresentação da proposta, construída pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
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“É um tema que vai exigir paciência. Primeiro para se discutir entre nós. O governo federal nunca se preocupou tanto em debater a segurança pública por causa da autonomia. E nem sempre o estado quer a ajuda do governo federal. O que nós queremos é unificar procedimentos e informações”, destacou, na fala de encerramento do encontro.
O presidente também reconheceu que a discussão sobre a elaboração da PEC não está esgotada. “Isso é apenas o começo de um grande debate. Enquanto eu for presidente, a gente não vai ter medo de fazer nenhum debate. O [ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo] Lewandowski está disposto a viajar a qualquer estado e discutir em qualquer fórum”, acrescentou Lula.
Discussão iniciada
Para o petista, a PEC apresentada nesta quinta (31) não é um “produto acabado”. “A reunião era para a gente aprender e para as pessoas falarem a visão que elas têm. A PEC é apenas uma chave que está abrindo uma porta para um debate que, se a coisa é da gravidade que todos vocês falaram, é o tema principal e precisa ser encontrada uma solução”, continuou.
Lula admitiu que a natureza dos delitos variam, a depender da localidade. “Os crimes são os mais diversificados possíveis e diferentes em cada região, em cada estado. E a gente tem que aprender isso para encontrar uma solução definitiva. Os crimes são sofisticados e a inteligência é sofisticada. As armas são sofisticadas, muitas vezes melhores do que todo o arsenal das polícias estaduais, às vezes melhores do que as próprias Forças Armadas. E, às vezes, são as próprias armas das Forças Armadas que são roubadas”, afirmou o presidente.
Segundo Lula, a efetivação das ações de combate ao crime organizado, um dos pontos-chave da PEC, vai depender de outras alterações. “É uma solução que vai passar por mudança de lei, de comportamento, que vamos tirar as instituições democráticas da sua caixinha de vidro, em que cada uma é separada, cada uma é dona da verdade e pensa que sabe tudo”, criticou.
Governador de Goiás
O petista aproveitou a fala final para “alfinetar” o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Mais cedo no encontro, Caiado afirmou que não vai colocar “câmera em policial meu de maneira alguma” e criticou a PEC da segurança, ao chamá-la de “inadmissível, usurpação de poder e invasão de prerrogativa”.
De maneira irônica, Lula declarou que Caiado deveria comandar as reuniões. “Tive a oportunidade de conhecer hoje o único estado que não tem problema de segurança, que é o estado de Goiás. Peço para o Lewadowski ir lá levantar, porque pode ser referência para todos os governadores. Em vez de eu chamar uma reunião, era o Caiado que deveria ter chamado a reunião, para orientar como se comporta para acabar com o problema da segurança. Imagine se todos nós tivéssemos a metodologia do Caiado. Possivelmente, a gente já tivesse muito mais soluções”, brincou.