Maioria dos partidos com pré-candidatos perdeu filiados
Dos dez partidos analisados, quatro cresceram e dois — PSD e Podemos — conseguiram dobrar de tamanho
Brasília|Isabella Macedo, do R7, em Brasília
Desde o fim do ano passado, os partidos existentes no Brasil começaram a se movimentar para lançar candidatos à Presidência da República ou a pensar como deverão se organizar para as eleições gerais deste ano. Segundo um levantamento do R7 com base nos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a maior parte das legendas que discutem pré-candidaturas viu o número de filiados cair desde dezembro de 2011. Dos dez principais partidos do país que pretendem lançar ou já apresentaram pré-candidatos, apenas dois (PSD e Podemos) tiveram crescimento significativo, mais que dobrando o número de filiados.
Em dezembro do ano passado, o TSE contabilizava mais de 16 milhões de pessoas associadas a algum dos 36 partidos registrados na Corte eleitoral. O levantamento realizado pela reportagem comparou os números de filiados de dez siglas que, até o momento, cogitam candidatura própria à Presidência: DEM, PDT, Cidadania, PL, PSD, PSL, PT, Podemos, MDB e PSDB.
DEM e PSL formalizaram a fusão das legendas no fim do ano passado para criar o União Brasil, mas ainda constavam como partidos diferentes no sistema do Tribunal e por isso foram contabilizados separadamente. O presidente Jair Bolsonaro foi eleito pelo PSL, mas deixou o partido em seu primeiro ano de mandato. Neste ano, Bolsonaro será candidato pelo PL.
Dessas siglas, apenas quatro cresceram na comparação entre dezembro de 2011 e dezembro de 2021: PT, PL, Podemos e PSD. Essas duas últimas legendas registraram um crescimento de mais de 200%. O número de filiados ao Podemos subiu de 120.826 para 407.915, um aumento de 238%. Já o PSD, criado em fevereiro de 2011, saltou de 131.157 filiados, no fim de 2011, para 405.764, em dezembro do ano passado — o equivalente a um crescimento de 209%.
O PL, o atual partido de Bolsonaro, subiu de pouco mais de 759 mil filiados para 761.560, número que representa menos de 1%. Já o PT, do ex-presidente Lula, registrou aumento de 5% nesses dez anos, passando de 1,524 milhão de filiados para 1,604 milhão.
Na avaliação do cientista político Leonardo Barreto, o crescimento do PSD pode ser explicado por ter nascido derivado de outro partido — o DEM — e com o objetivo de agregar pessoas insatisfeitas com as próprias siglas. A dissidência se deu em uma época, afirma ele, em que a fidelidade partidária era ainda mais dura.
Também conta a favor da agremiação uma liberdade maior em relação a seus braços locais. "Em uma entrevista logo quando o partido foi fundado, Gilberto Kassab [presidente da sigla] disse que o PSD não seria 'nem de direita, nem de esquerda, nem de centro'. E, de certo modo, a legenda se tornou uma reprodução do MDB no sentido de deixar que cada estado siga sua vida", apontou.
No caso do Podemos, que até 2016 se chamava PTN (Partido Trabalhista Nacional), a avaliação é de que o partido soube aproveitar o momento em que havia grande apoio à Operação Lava Jato. O número de filiados cresceu especialmente quando o ex-juiz Sergio Moro — agora filiado ao partido e pré-candidato à Presidência — assumiu o Ministério da Justiça no governo Bolsonaro. Com a ida definitiva de Moro para a política, em 2019, como ministro, e o apoio do Podemos ao ex-ministro, a avaliação é que o partido “soube fazer uma boa leitura do momento”, afirmou Barreto.
Por outro lado, MDB, DEM, PDT, PSDB e o antigo partido de Bolsonaro, o PSL, encolheram durante essa década. A maior queda no número de filiados foi justamente no PSL, em que os registros de filiação caíram 62%. A maior redução apresentada nos registros do TSE aconteceu em abril do ano passado, quando a sigla passou de 462.861 filiados para 76.776 – diminuição de mais de 500%.
No sábado (19), outros dois partidos que perderam eleitores filiados decidiram se federar para as disputas deste ano. PSDB e Cidadania deverão agir juntos pelos próximos quatro anos. Mesmo com a decisão de federação, os partidos continuam separados como agremiações distintas. A federação exige que as siglas atuem unidas no Congresso por quatro anos, mas diferentemente de uma fusão, não se tornam uma legenda só, mantendo sua autonomia.