Mesmo exonerado, Milton Ribeiro irá ao Senado falar sobre suspeitas no MEC
Ida foi confirmada por parlamentares; ausência significaria admissão de culpa, sustenta presidente da Comissão de Educação
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Mesmo exonerado, o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro deve comparecer à Comissão de Educação do Senado nesta quinta-feira (31) para prestar esclarecimentos sobre o escândalo que envolve a atuação de pastores na liberação de verbas federais a municípios. A informação foi confirmada por parlamentares, que decidiram manter o convite mesmo com a troca do comando da pasta.
"A Comissão de Educação do Senado vai prosseguir com a apuração", confirmou o presidente do colegiado, senador Marcelo Castro (MDB-PI). "As denúncias são gravíssimas e todos os envolvidos serão ouvidos o mais rapidamente possível", completou.
Uma ausência, na avaliação de Castro, revelará uma "clara confissão de culpa acerca das denúncias de corrupção no ministério e será um convite à abertura da CPI do MEC", declarou o presidente da comissão.
O escândalo foi revelado em 22 de março, quando vazou um áudio do ex-ministro em que ele afirma que o governo prioriza repasse de verbas a partir de negociações com dois pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro. Os religiosos em questão seriam Gilmar Santos e Arilton Moura, que não têm cargo oficial no governo.
Os pastores atuavam desde o início da gestão de Milton e levaram dezenas de prefeitos para reuniões, tendo sido liberadas verbas em curto prazo após os encontros. Segundo as acusações, feitas até pelos próprios prefeitos, havia cobrança de propina para facilitar o repasse. A Polícia Federal investiga as denúncias por pedido da Procuradoria-Geral da República, por indícios de crimes de corrupção passiva, prevaricação, tráfico de influência e advocacia administrativa.
Milton Ribeiro nega a existência de um atendimento preferencial. Logo após a revelação do áudio, ele afirmou que a solicitação do presidente foi para que todos os prefeitos que procurassem o ministério fossem atendidos. "Não há nenhuma possibilidade de o ministro determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer qualquer município ou estado", diz a nota de defesa do MEC.
O próprio ex-ministro acertou a ida ao Senado com parlamentares quando ainda estava à frente da pasta. Mantendo a versão de que não cometeu crime algum, Ribeiro sustentou na carta de demissão que a saída "é única e exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política". "Jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário."
O tom da carta deve ser repetido na fala aos senadores. Apenas o ex-ministro será ouvido nesta quinta, em sessão marcada para as 9h15. "Será uma boa oportunidade para ouvir os esclarecimentos que ele terá a prestar sobre o esquema escabroso de corrupção no MEC", afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Depois da audiência, os senadores deverão marcar oitiva dos pastores, do presidente do FNDE, Marcelo Lopes da Ponte, e dos prefeitos envolvidos.