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Ministério Público abre inquérito para investigar serviço público de saúde do DF

Órgão alerta para déficit de profissionais e superlotação na rede; quatro crianças morreram por suspeita de negligência desde abril

Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília

Hospitais Públicos do DF
Polícia investiga casos de suposta negligência Dênio Simões/Agência Brasília Data: 02/3/2017

O MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) abriu um inquérito civil público para investigar o serviço público de saúde no DF. Em nota oficial, o órgão diz que, “com base nos procedimentos de acompanhamento dos hospitais e das UPAs (unidades de pronto atendimento) fica evidente o déficit de profissionais, a superlotação e a situação de desassistência” na rede.

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O órgão avalia que a situação é agravada pela epidemia de dengue e pelo aumento no número de casos de gripe. “O inquérito civil público tem o objetivo de levar o Distrito Federal a tomar providência para sanar esses déficits”, ressaltou o MPDFT.

No começo desta semana, o Ministério Público do DF apontou que a falta de leitos de internação na rede pública faz com que pacientes cheguem a ficar sete dias internados nas UPAs do DF. Em casos extremos, alguns pacientes ficam 30 dias nas enfermarias, sendo que a orientação do Ministério da Saúde é que as UPAs acolham e estabilizem os enfermos em até 24 horas.

Uma das UPAs com sobrecarga é a do Recanto das Emas, em que Enzo Gabriel, de 1 ano, morreu após esperar quase 12h por atendimento. Nesta quinta-feira, a Secretaria de Saúde, Casa Civil e Iges realizaram uma coletiva de imprensa, mas negaram que haja uma crise na saúde pública. A rede, segundo a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, tem um déficit de 158 pediatras.


Polícia investiga negligência

A vítima mais recente de suposta negligência na rede pública foi Aurora, que morreu devido a complicações logo após o parto. Ao R7, a mãe da bebê, Isadora Cristina de Souza Saeta, de 27 anos, afirmou que a morte ocorreu por erro médico. “Se ela não está nos meus braços, foi por pura negligência”, reclamou. A Secretaria de Saúde diz que Aurora permaneceu sob “cuidados intensivos” depois do parto.

A mãe, depois de tentativas dos médicos de induzir o parto por mais de 24h, passou por uma cirurgia cesárea de emergência e a bebê nasceu sem batimentos cardíacos. Aurora passou por reanimação e chegou a ser internada por dois dias, mas não resistiu às complicações.


Desde abril, ao menos outras três crianças morreram após passar pela rede pública de saúde do DF. As vítimas são Anna Julia Galvão, 8 anos; Jasminy Cristina de Paula Santos, 1 ano; e Enzo Gabriel, 1 ano, que ficou cerca de 12 horas na UPA do Recanto das Emas esperando uma ambulância para ser levado a um leito de UTI (unidade de terapia intensiva).

Jasminy Cristina

A primeira morte foi a de Jasminy, também na UPA do Recanto das Emas. A família denunciou o caso à Polícia após ver o caso de Enzo Gabriel na mídia e afirma que houve negligência e demora no atendimento à menina. Segundo os pais, ela foi levada nas UPAs do Recanto e de Ceilândia e no Hospital Regional de Ceilândia e Taguatinga antes de morrer.


Os pais também tentaram atendimento pelo Samu, no dia 14 de abril, quando Jasminy estava passando mal, mas não havia ambulância para atender a bebê. Em mais uma tentativa, os pais levaram a criança até a UPA do Recanto das Emas no mesmo dia. Jasminy recebeu classificação laranja, mas a unidade só atendida pacientes com classificação vermelha.

A bebê passou o dia na unidade, mas à noite teve piora no quadro, com febre e baixa saturação. Uma médica chegou a pedir a internação da criança na ala pediátrica, mas Jasminy não resistiu e morreu na unidade. O caso é investigado pela 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas).

Anna Julia

O segundo caso foi registrado em 15 de abril, quando os pais de Anna Julia procuraram atendimento médico para a criança após ela apresentar tosse, dor nas costas, febre e dificuldade para respirar. Segundo a ocorrência registrada na Polícia Civil, a menina chegou por volta das 18h na UBS 7 da Ceilândia, mas foi atendida apenas às 3h da manhã do dia seguinte.

O relato acrescenta que os médicos pediram exames para ela no dia 16, mas Anna Julia teve piora no quadro e voltou novamente para ser atendida, desta vez na UBS 1, também de Ceilândia. Ela foi atendida às 2h da manhã, com pedido de outros exames. No entanto, quando o quadro de Anna Julia piorou e ela foi encaminhada ao HMIB (Hospital Materno Infantil de Brasília).

A ocorrência diz que a criança chegou ao hospital “em estado gravíssimo, quando o médico tentou fazer a sua intubação, ela veio a óbito”. O caso é investigado pela 24ª Delegacia de Polícia (Setor O - Ceilândia).

Enzo Gabriel

A última morte foi a de Enzo Gabriel, que morreu após aguardar mais de 12 horas por uma ambulância. Segundo Cícero Alves, pai da criança, a família esperava por uma ambulância da UTI Vida — que possui contrato de prestação de serviços com o Governo do DF — para Enzo Gabriel ser transferido para a UTI do Hospital Materno Infantil de Brasília.

O transporte foi solicitado na noite de 14 de maio, mas a ambulância só chegou às 7h do dia seguinte, quando o menino já estava morto. Enzo Gabriel havia sido diagnosticado com dengue aguda, pneumonia com derrame pleural (acúmulo de líquido entre os tecidos que revestem os pulmões e o tórax) e estava entubado enquanto aguardava a transferência. O caso também é investigado.

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