Ministro Floriano Marques segue relator e vota pela inelegibilidade de Bolsonaro
Mais cedo, ministro Raul Araújo votou contra inelegibilidade; placar está em 2 a 1 pela condenação do ex-presidente da República
Brasília|Gabriela Coelho, do R7, em Brasília
O ministro Floriano Marques, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), votou nesta quinta-feira (29) para tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível. O julgamento continua com o voto de outros ministros. O placar está em 2 a 1 pela condenação do ex-presidente. Mais cedo, o ministro Raul Araújo divergiu do relator e votou contra a inelegibilidade de Bolsonaro.
A ação, que corre em sigilo na corte, apura a conduta de Bolsonaro durante a reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada em julho do ano passado. Na ocasião, o ex-presidente levantou suspeitas sobre as urnas eletrônicas, sem apresentar provas, e atacou o sistema eleitoral brasileiro.
No voto, o ministro afirmou que "o que se está a julgar não é uma ideologia, mas sim os comportamentos patológicos, o uso abusivo do poder". "Não é democrático querer metralhar, fulminar, extirpar qualquer ideologia, mas comportamentos abusivos devem ser coibidos", disse.
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Para o ministro, houve abuso de poder de Bolsonaro e desvio de finalidade na reunião com embaixadores.
“Houve abuso de poder político, pois o primeiro investigado usou todo o seu poder de presidente da República para emular sua estratégia eleitoral em benefício próprio, agindo de forma anormal, imoral e sobremaneira grave. Portanto, para mim, o abuso e o desvio de autoridade estão claros”, afirmou.
Floriano de Azevedo Marques identificou quatro linhas que classificariam o discurso de Bolsonaro como eleitoreiro: autopromoção, argumentação negativa aos adversários, martirização e desqualificação do sistema eleitoral.
O ministro defendeu a responsabilidade exclusiva do ex-presidente pela reunião com embaixadores e lembrou de depoimentos de testemunhas da defesa, como Carlos França, ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil.
“Analisando linha a linha, eu me convenci de que houve claro objetivo eleitoral, não no sentido apenas de questionar o sistema eleitoral sem provas ou consistentes evidências, mas de angariar proveitos eleitorais em desfavor de seus concorrentes”, disse.
Marques afirmou que a reunião com embaixadores foi feita de improviso, na residência oficial do presidente — circunstâncias que mostram que não se tratou de um mero ato regular de agenda presidencial.
Sobre o discurso de Bolsonaro, o ministro afirma que houve "claro objetivo eleitoral": "Isso se aproximou muito de um discurso de comício em praça do interior".
“Se um candidato a deputado estadual que fala as mesmas inverdades que presidente é censurado e tornado inelegível, e vamos combinar que potencial de candidato a deputado no Paraná é menor que de presidente, como a corte vai decidir que o mesmo teor do discurso não é suficiente para a sanção de inelegibilidade?”, disse Floriano.
O ministro relembrou ainda decisão recente do TSE que cassou o mandato do deputado federal Felipe Francischini por promover discurso com informações falsas sobre o processo eleitoral.
“Se um candidato a cargo de deputado federal é condenado por situação semelhante, votar contra inelegibilidade é uma pirueta no caso de presidente da República. Ataques infundados ao sistema eleitoral configuraram abuso de poder político e, por isso, podem levar à inelegibilidade ou cassação”, disse.