Minuta do golpe, falha da PM e divergência com o Exército; confira o depoimento de Torres à PF
Ex-ministro da Justiça apresentou versão sobre os atos de 8 de janeiro e disse que houve 'falha grave' da Polícia Militar
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
Em dez horas de depoimento à Polícia Federal (PF), o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres explicou o motivo de não estar no Brasil no dia dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro e afirmou que houve “falha grave” na ação da Polícia Militar (PMDF) na tentativa de impedir a invasão dos prédios públicos.
Ainda segundo o ex-secretário, a minuta de um golpe de Estado encontrada pela PF na casa dele e que forçaria a alteração dos resultados das eleições é um documento “sem viabilidade jurídica [...] que, na verdade, já era para ter sido descartado”. Confira os principais pontos do depoimento:
'Falha grave' no planejamento da PM
Torres disse que não recebeu mensagens do ministro da Justiça, Flávio Dino, para informar da possibilidade de atentados na Esplanada dos Ministérios, mas confirmou que os atos estavam previstos no Protocolo de Ações Integradas (PAI) da Secretária de Segurança. Ele afirmou ainda que houve “falha grave” na execução operacional do plano, mas que essa não era responsabilidade da secretaria, e sim da Polícia Militar.
O ex-secretário disse ainda que nunca recebeu nenhum pedido do governador afastado Ibaneis Rocha (MDB) para que negligenciasse a segurança pública; "ao contrário, ele sempre foi muito preocupado com a manutenção da ordem”.
Ataque à sede da PF em 12 de dezembro
Torres disse que, no dia do ataque à sede da Polícia Federal, em 12 de dezembro, entrou em contato com o então diretor-geral da corporação, mas que o comando de operações táticas da PF já estava acionado para garantir a segurança física do prédio.
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Ele também afirmou que a Polícia Penal Federal agiu para que os manifestantes não entrassem no prédio. Além disso, enfatizou que, na manhã seguinte aos ataques, foi determinada a instauração de inquérito policial para apurar os fatos.
Em outro trecho do depoimento, Torres disse que, em 12 de dezembro, passou a considerar o acampamento em frente ao QG do Exército um “foco de criminosos” e que, assim que assumiu a Secretaria de Segurança, em 2 de janeiro, realizou reunião para a desmobilização dos manifestantes. No entanto, afirmou que encontrou resistência por parte do Exército contra as providências para a retirada do acampamento.
Fraude nas eleições e relação com Jair Bolsonaro
Torres disse que nunca questionou o resultado da eleição, que não acredita que houve fraude no processo eleitoral e que não conversou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a alternância de poder no Executivo.
Ele ainda comentou que teve pouco contato com Bolsonaro desde o início da campanha eleitoral. Nesse período, os assuntos do Ministério da Justiça eram tratados com o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), ou "em horários alternativos" com Jair Bolsonaro.
Torres também contou que, após a derrota nas urnas, Bolsonaro ficou "decepcionado, mas não inconformado", "introspectivo e aparentemente depressivo, desenvolvendo inclusive erisipela e passando por tratamento de saúde prolongado", o que fez com que o ex-presidente limitasse as visitas no Palácio da Alvorada.
Férias nos Estados Unidos
No depoimento, Anderson Torres disse que as férias nos Estados Unidos com a família foram planejadas com antecedência. A princípio, a família viajaria em julho de 2022, mas, “em razão da sobrecarga de trabalho, precisou remarcar para as férias escolares de janeiro de 2023”. Oficialmente, as férias de Anderson Torres começariam no dia 9 de janeiro, mas ele antecipou o benefício para o dia 6.
As passagens, segundo Torres, foram compradas no dia 21 de novembro, “época em que nem se cogitava a existência dessa manifestação [...], e que até esta data não havia nenhum episódio de violência desencadeada por manifestantes extremistas”.
Onde está o celular de Anderson Torres?
Sobre o celular que não foi entregue à Polícia Federal, Torres disse que perdeu o aparelho. A corporação chegou a pedir ajuda da Interpol para apreender o celular nos Estados Unidos.
Torres justificou a falta do aparelho ao dizer que, após ter a prisão decretada, "passou a ser procurado por uma infinidade de pessoas, ocasião em que resolveu desligar o celular e que não sabe onde ele se encontra". O ex-ministro disse que pode oferecer o login e a senha da nuvem para que a Polícia Federal acesse os arquivos.
Prisão
Preso preventivamente desde 14 de janeiro, Torres é investigado por omissão dolosa e conivência com os atos de vandalismo nas sedes dos Três Poderes, na capital federal. O inquérito foi aberto pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O ex-secretário continua detido no 4º Batalhão da Polícia Militar, no Guará.