Brasília MPF pede ao STF que analise suposta interferência de Bolsonaro em investigação sobre Milton Ribeiro

MPF pede ao STF que analise suposta interferência de Bolsonaro em investigação sobre Milton Ribeiro

Ex-ministro da Educação é suspeito de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência

  • Brasília | Plínio Aguiar e Renato Souza, do R7, em Brasília

O presidente Jair Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro

Alan Santos / PR / 25.05.2022

O Ministério Público Federal (MPF) apontou possível interferência do presidente Jair Bolsonaro nas investigações sobre o caso do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e pediu que fosse enviada parte dos autos ao Supremo Tribunal Federal (STF). A reportagem procurou o Palácio do Planalto e aguarda retorno.

O juiz Renato Borelli, autor do mandado de prisão contra Ribeiro, atendeu ao pedido feito pelo MPF e enviou o material ao STF. O caso será relatado pela ministra Cármen Lúcia, que deve acionar a Procuradoria-Geral da República para se manifestar, como de praxe.

De acordo com o documento, o procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes pede que a investigação seja encaminhada à mais alta Corte do país de forma sigilosa para que seja apurada eventual ocorrência dos crimes de violação de sigilo funcional com dano à administração judiciária e favorecimento pessoal.

Trecho do documento em que o MP aponta suposta interferência na investigação da PF

Trecho do documento em que o MP aponta suposta interferência na investigação da PF

R7/Reprodução

"Outrossim, nesta oportunidade, o MPF vem requerer que o auto circunstanciado nº 2/2022, bem como o arquivo de áudio do investigado Milton Ribeiro que aponta indício de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro nas investigações, sejam desentranhados dos autos e remetidos, de maneira apartada e sigilosa, ao Supremo Tribunal Federal, em respeito ao art. 102, I, b, da Constituição da República, a fim de que lá seja averiguada a possível ocorrência dos crimes de violação de sigilo funcional com dano à Administração Judiciária (art. 325, § 2º, do Código Penal) e favorecimento pessoal (art. 348 do Código Penal)", diz o procurador.

O MPF destaca também indícios de "igual interferência" em relação ao tratamento dado pela Polícia Federal a Ribeiro, que "não foi conduzido ao Distrito Federal (não havendo sido tampouco levado a qualquer unidade penitenciária) para que pudesse ser pessoalmente interrogado pela autoridade policial que preside o inquérito policial, apesar da farta estrutura disponível para a locomoção de presos".

"Nesse ponto, destaque-se que a ausência de Milton Ribeiro perante a autoridade policial foi prejudicial ao livre desenvolvimento das investigações em curso, além de ferir a isonomia que deve existir no tratamento de todos os investigados", acrescenta o MP.

O delegado da Polícia Federal, Bruno Callandrini, que, à frente da Operação Acesso Pago, prendeu o ex-ministro, reclamou do tratamento dado ao ex-titular da pasta. Segundo o agente, o tratamento atrapalhou as investigações.

Em um texto enviado aos colegas que participaram da operação, Callandrini critica o fato de Ribeiro não ter sido transferido para a superintendência da Polícia Federal em Brasília, como determinado inicialmente pela Justiça, e pondera que o ex-ministro "foi tratado com honrarias não existentes na lei".

A transcrição de áudios encontrados no celular do ex-ministro e anexados ao processo que corre na 15ª Vara Federal do Distrito Federal revela que Ribeiro tinha medo de ser alvo de busca e apreensão da Polícia Federal.

Prisão do ex-ministro

Ribeiro foi preso em Santos (SP) na quarta-feira (22) na Operação Acesso Pago, da Polícia Federal, que apura tráfico de influência de pastores e corrupção para a liberação de recursos públicos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado ao Ministério da Educação (MEC).

Ao todo, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão e cinco prisões em Goiás, São Paulo, Pará e no Distrito Federal. O mandado de prisão de Ribeiro cita que ele é suspeito de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência. Além dele, foram presos os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, apontados como lobistas que atuavam no gabinete paralelo do MEC.


No dia seguinte, quinta-feira (23), Ribeiro deixou a prisão em São Paulo. A autorização foi dada pelo desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal (TRF-1). A determinação também vale para os outros presos na operação: os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, o ex-assessor Helder Diego da Silva Bartolomeu e o advogado Luciano de Freitas Musse.

Frases polêmicas

Enquanto esteve no comando do Ministério da Educação, entre julho de 2020 e março de 2022, Milton Ribeiro teve uma gestão marcada por uma debandada de funcionários do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e por denúncias de interferência no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Além disso, frases controversas levaram o ex-ministro ao Congresso para dar explicações sobre a atuação da pasta durante a pandemia de Covid-19 (veja abaixo).

Arte/R7

Ribeiro foi o quarto ministro a ocupar o MEC na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). O ex-ministro assumiu a pasta após a saída de Carlos Alberto Decotelli, que ficou apenas cinco dias no cargo depois de uma série de questionamentos sobre a veracidade das informações divulgadas em seu currículo. Ribeiro é pastor presbiteriano, teólogo e advogado e foi vice-presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Presbiteriano Mackenzie.

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