Polícia Federal tratou Ribeiro 'com honrarias não existentes na lei', reclama delegado
Policial que chefiou operação contra ex-ministro reclama que investigação foi obstaculizada e que Ribeiro teve tratamento diferenciado
Brasília|Augusto Fernandes, do R7, em Brasília
O delegado da Polícia Federal, Bruno Callandrini, que, à frente da Operação Acesso Pago, prendeu o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, reclamou do tratamento dado ao ex-titular da pasta. Segundo Callandrini, tal tratamento atrapalhou as investigações.
Em um texto enviado aos colegas que participaram da operação, Callandrini critica o fato de Ribeiro não ter sido transferido para a superintendência da Polícia Federal em Brasília, como determinado inicialmente pela Justiça, e pondera que o ex-ministro "foi tratado com honrarias não existentes na lei".
"A investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro. O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em São Paulo é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o inquérito policial deste caso com independência e segurança institucional", destacou o delegado.
Callandrini disse ter procurado a Coordenação de Inquérito nos Tribunais Superiores (Cinq) da Polícia Federal para questionar a manutenção de Ribeiro em São Paulo. "Falei isso ao Chefe do Cinq ontem, após saber que, por decisão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília, e manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton a Brasília à revelia da decisão judicial", frisou.
"O principal alvo [Milton Ribeiro], em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem a Brasília", acrescentou Callandrini.
Polícia Federal investigará suposta interferência
Nesta quinta-feira (23), a Polícia Federal informou que abriu investigação para verificar suposta tentativa de interferência na Operação Acesso Pago. De acordo com a corporação, surgiram "boatos" de que está em andamento uma tentativa de interferir nas diligências. A PF não informou quem estaria tentando realizar a intromissão.
A prisão de Ribeiro foi revogada nesta quinta-feira pelo desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Outras pessoas envolvidas na operação também ganharam liberdade. A falta de acesso por parte dos advogados ao processo que motivou a prisão dos investigados foi usada pelo magistrado como argumento para autorizar as solturas.
O ex-ministro é investigado por suspeitas de irregularidades no MEC. Os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos teriam articulado a liberação de recursos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) para municípios em troca de propina. Prefeitos ouvidos no Senado, na Comissão da Educação, confirmaram os pedidos e disseram ter havido até mesmo solicitação de pagamento em ouro.
Um relatório da Polícia Federal sobre as investigações apontou a existência de uma organização criminosa dentro do MEC. O Ministério Público Federal diz que o ex-ministro dava respaldo ao esquema.