A senadores, prefeito confirma que pastor pediu ouro em troca de verba no MEC
Ex-ministro Milton Ribeiro foi exonerado após revelação de atuação de pastores na liberação de recursos a cidades mediante propina
Brasília|Sarah Teófilo, do R7, em Brasília
Em depoimento na Comissão de Educação do Senado nesta terça-feira (5), o prefeito de Luís Domingues, no Maranhão, Gilberto Braga (PSDB), confirmou o pedido de um quilo de ouro, por parte de um pastor, em troca da liberação de recursos do Ministério da Educação para o município, que possui 7 mil habitantes. A solicitação ocorreu durante almoço em Brasília, em 7 de abril do ano passado, após uma reunião no prédio da pasta com a presença do ex-ministro Milton Ribeiro, que também é pastor.
A atuação de dois pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura, na liberação de recursos da Educação, mediante propina, foi relevada pelo jornal O Estado de S. Paulo, no mês passado. Posteriormente, também foi divulgado um áudio no qual o ex-ministro diz que dava prioridade a pedidos feitos pelo pastor Gilmar, por demanda do presidente da República, Jair Bolsonaro. O áudio foi publicado pelo jornal Folha de S.Paulo.
O prefeito Gilberto Braga já havia dito à imprensa que recebeu um pedido de um quilo de ouro do pastor Arilton. Aos senadores, ele detalhou que foi chamado para uma reunião no MEC, com outros prefeitos, principalmente gestores de cidades com obras inacabadas. Na ocasião, o ex-ministro fez uma palestra e se colocou à disposição para ajudar os municípios. À mesa, junto com Ribeiro, estavam os dois pastores.
Relatos de outros prefeitos aos senadores apontam uma mesma "operação", com falas de Milton Ribeiro no MEC e, posteriormente, um almoço (já sem a presença do ex-ministro) fora do ministério, no qual um dos pastores pedia dinheiro para liberar recursos.
Logo após as falas de Ribeiro, os prefeitos conversaram com uma equipe técnica da pasta, quando viam a possibilidade de liberar de recursos. No caso de Gilberto Braga, ele buscava dinheiro para uma creche inacabada. Logo em seguida, o pastor Arilton convidou os gestores municipais para um almoço no restaurante Dona Zélia, sem a presença do ex-ministro.
"Nesse almoço, tinha uma faixa de 20 a 30 prefeitos. A conversa era bem aberta. Ele [pastor Arilton] virou para mim e perguntou sobre as minhas demandas. Eu apresentei para ele e ele disse: 'Você vai me arrumar os R$ 15 mil para protocolar as suas demandas e quando os recursos estiverem empenhados você vai me trazer um quilo de ouro, porque a sua região é de mineração'. Eu não disse nem que sim nem que não, me afastei da mesa e fui almoçar", afirmou Gilberto.
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O prefeito de Luís Domingues disse que a conversa foi toda muito aberta, com todos escutando. Como ele saiu em seguida, disse não não ter ouvido o restante dos diálogos, mas pontuou acreditar que a mesma proposta deve ter sido estendida aos outros prefeitos. "O papo era aberto, conversa normal, sem pedir segredo", disse. Gilberto afirmou que não aceitou a proposta e que seu município nunca recebeu os recursos que precisava para concluir a obra da creche.