Mulher de PM que matou a família recorreu à polícia antes do crime
Esposa e dois filhos teriam sido assassinados pelo sargento, que cometeu suicídio em seguida; ele estaria abalado com morte do pai
Brasília|Ricardo Faria, da Record TV, e Emerson Fonseca Fraga, do R7, em Brasília
A mulher do sargento da Polícia Militar suspeito de assassinar a família e cometer suicídio em seguida procurou ajuda da SBES/Caps (Subseção de Bem-Estar Social do Centro de Assistência Psicológica e Social), que presta atendimento à Polícia Militar do Distrito Federal, um dia antes do crime, revelou à Record TV o coronel Edvã Sousa, chefe do Centro de Comunicação Social da PMDF (Polícia Militar do Distrito Federal). O caso aconteceu em Planaltina (DF) na última quinta-feira (10).
Maria de Lourdes Furtado, de 50 anos, ligou para a subseção pedindo ajuda. Ela disse que o marido, o sargento Nilson Cosme Batista dos Santos, de 48 anos, estava muito abalado. "[Ela] falou que ele estava muito triste pelo fato do falecimento do pai dele. O pessoal falou assim: 'A senhora acha que é caso de internação a situação?'. Ela falou assim: 'Não, não é caso, mas eu queria que ele passasse por um tratamento'. 'Então a gente vai proceder dessa forma, sim, a gente vai fazer uma visita, a gente vai conversar com a senhora e vai conversar com ele.' Foi isso que foi dito, né? Só que no outro dia ocorreu toda essa fatalidade", disse o coronel.
O crime
Na tarde da quinta-feira (10), Nilson ligou para o batalhão onde trabalhava e disse aos policiais que mataria a família. A ligação aconteceu por volta das 18h. O sargento Cosme, como era conhecido, aparentava estar bastante nervoso ao dizer que mataria todos da casa, informou a PM. O policial que atendeu o telefonema chegou a ouvir disparos de arma de fogo. A corporação enviou uma equipe ao local imediatamente.
Do portão, os policiais chamaram por Nilson assim que chegaram à casa. Como não houve resposta e era possível ver fumaça saindo da residência, os PMs arrombaram a entrada e continuaram a chamar pelos moradores a partir do quintal e da garagem.
Pelas janelas, eles viram que o interior do imóvel estava em chamas e acionaram o Corpo de Bombeiros Militar. As portas e janelas estavam lacradas, por isso tiveram de arrombá-las na tentativa de resgatar possíveis sobreviventes.
Ao entrarem na sala da casa, os policiais se depararam inicialmente com um corpo caído no chão. Havia também um galão vazio, que cheirava a combustível inflamável. Em seguida, 12 bombeiros chegaram e se dividiram em duas equipes para combater as chamas e retirar os corpos, um a um.
O incêndio atingiu apenas um dos quartos da residência e consumiu um guarda-roupa, uma cômoda, uma TV e duas camas. O trabalho para conter as chamas durou cerca de uma hora.
Todos os corpos tinham perfurações de arma de fogo e estavam carbonizados. Perto de uma das vítimas havia uma pistola CZ 9 mm, que pertence à Polícia Militar. As vítimas foram reconhecidas e foi constatado que todas eram da mesma família: o sargento, a mulher dele, de 50 anos, e os dois filhos, de 21 e 16 anos.
O Instituto de Criminalística esteve na cena do crime para fazer a perícia ainda no fim da tarde de quinta-feira, em caráter de urgência. A 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina) apura o caso.
Os corpos foram liberados do IML (Instituto Médico-Legal) neste sábado (12) e serão sepultados juntos neste domingo (13), às 9h, no Cemitério Campo da Esperança, em Planaltina (DF). A PM informou que não haverá velório.
Vítimas
Por meio de nota, a Polícia Militar lamentou o episódio. "O sargento Cosme trabalhava regularmente no 14º Batalhão e tinha duas condecorações e vários elogios em seus assentamentos."
Inicialmente, a PM havia declarado que não tinha sido procurada nem havia recebido nenhuma informação do comportamento do policial para que pudesse adotar medidas imediatas como a suspensão do porte e o recolhimento da arma de fogo, o afastamento da atividade operacional e o atendimento médico-psiquiátrico.
O filho mais velho, Isaac Furtado dos Santos, de 21 anos, foi aprovado no PAS (Programa de Avaliação Seriada) da UnB (Universidade de Brasília), em 2019, para cursar engenharia química. Em nota oficial, a universidade lamentou a morte. O filho mais novo era Lucas Furtado dos Santos, de 16 anos.
Vizinhos falaram à Record TV sobre o comportamento da família. "Os filhos, normal como qualquer família tradicional. Normal. Não via nenhuma ação descontrolada por parte do militar. Era normal. Como uma família normal", disse uma moradora.
"Eu estive conversando com um amigo dele, que é soldado aposentado, tirou serviço junto com ele, que ele não era muito de entrosamento com ninguém, falava pouco e tinha um sorriso meio abafado, meio amarelo. Conversava muito pouco com os colegas, não era muito de entrosamento", disse outro morador.