'O Brasil não concorda com uma invasão', diz Mourão sobre ataque russo à Ucrânia
Vice afirmou que o Brasil respeita a soberania ucraniana e que Ocidente busca paz; 'Putin não respeita apaziguamento', declarou
Brasília|Lucas Nanini, do R7, em Brasília
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou nesta quinta-feira (24) que o Brasil não está neutro em relação ao ataque russo sobre a Ucrânia e que “deixou muito claro que respeita a soberania” do país invadido. “Então o Brasil não concorda com uma invasão do território ucraniano.”
Forças terrestres da Rússia entraram na Ucrânia a partir de vários pontos, nesta quinta-feira, informou o serviço de guardas de fronteira da Ucrânia. A ação ocorreu horas depois de Putin anunciar o início de uma operação militar. Pelo menos três soldados ucranianos morreram durante a invasão, informaram guardas de fronteira. Eles detalharam que as vítimas foram mortas na fronteira com a península anexada da Crimeia, no sul do país.
Mourão disse que o Brasil tem cumprido seu papel dentro na ONU (Organização das Nações Unidas), respeitando os princípios básicos do direito internacional, de não intervenção e para assegurar a soberania da Ucrânia. “Por enquanto nós não temos nenhuma outra coisa a fazer além disso daí. Vamos ver o que vai emergir das reuniões do Conselho de Segurança da ONU, porque senão a ONU também perde sua razão de ser.”
Ele também falou sobre a preocupação com a segurança dos brasileiros que estão na Ucrânia e disse que a continuidade das ações russas no país pode trazer consequências para toda a Europa ocidental. “É lógico, tem preocupação com todo mundo. E isso vai ser uma confusão. Se realmente essa invasão prosseguir da forma como ela está ocorrendo, vai haver um êxodo em massa dos ucranianos. É um povo, uma nação, com 40 milhões de habitantes, na direção da Europa ocidental, vai ser um pandemônio.”
A embaixada do Brasil em Kiev, capital ucraniana, informou que cerca de 500 brasileiros estão no país. O órgão diplomático pediu que essas pessoas, principalmente as que estão no leste e outras regiões em condições de conflito, mantenham contato diário com a embaixada.
Caso algum brasileiro precise de auxílio para deixar a Ucrânia, "deve seguir as orientações da embaixada e, "no caso dos residentes no leste, deslocar-se para Kiev assim que as condições de segurança o permitam".
Nesta quinta, o Ministério das Relações Exteriores pediu a "suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática". "O governo brasileiro acompanha com grave preocupação a deflagração de operações militares pela Federação da Rússia contra alvos no território da Ucrânia. O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil", pontuou o Itamaraty.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro esteve com Putin para tratar de assuntos comerciais. O chefe de Estado brasileiro também conversou com empresários russos. Após a viagem, Bolsonaro afirmou que não conversou com o líder russo sobre a crise com a Ucrânia.
“Esse assunto não foi tratado com o Putin. A missão tinha objetivo específico. Alguns levaram para um lado, de que estou apoiando A, B ou C, de que não devia fazer isso e que deveria fazer aquilo. Não fomos para tomar partido de ninguém”, comentou o presidente, durante transmissão ao vivo nas suas redes sociais.
'Tem que haver o uso da força'
Hamilton Mourão defendeu que haja uso da força para evitar avanço sobre o território da Ucrânia. Ele disse que simples sanções econômicas não surtirão efeito. "Vamos lembrar que o Iraque passou mais de 20 anos sob sanção econômica, nada mudou. O Irã está há não sei quanto tempo sob sanção econômica, também nada mudou."
O vice-presidente declarou que a invasão por parte de tropas russas à Ucrânia é parte de um plano de "expansão imperial" da Rússia e que o presidente Vladimir Putin não está interessado na paz. "O mundo ocidental está igual ficou em 1938, com Hitler, na base do apaziguamento. E o Putin, ele não respeita apaziguamento, essa é a realidade."
A comparação com a Alemanha de Adolf Hitler prosseguiu, Na visão de Mourão, se nada for feito, Putin vai querer invadir outros países do leste europeu, e os países ocidentais precisam tomar medidas mais enérgicas.
"Tem que haver o uso da força, realmente um apoio à Ucrânia, mais do que está sendo colocado. Essa é a minha visão. Se o mundo ocidental pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o próximo vai ser a Moldávia, depois serão as nações bálticas, e assim sucessivamente, igual a Alemanha hitlerista fez no final dos anos 1930".
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A fala de Mourão vai na mesma direção do que declarou o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, após a invasão a seu país. Ele também comparou a intervenção com as ações da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. "A Rússia atacou a Ucrânia de uma forma covarde e suicida, como a Alemanha fez na Segunda Guerra Mundial", declarou o presidente durante um discurso no Facebook.
Tem que haver o uso da força%2C realmente um apoio à Ucrânia%2C mais do que está sendo colocado. Essa é a minha visão. Se o mundo ocidental pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra%2C o próximo vai ser a Moldávia%2C depois serão as nações bálticas%2C e assim sucessivamente%2C igual a Alemanha hitlerista fez no final dos anos 1930
Mourão afirmou que a ação das tropas russas sobre a Ucrânia pode indicar uma ruptura no modelo de relações internacionais e colocar em risco a segurança de todo o mundo. Ele afirmou que o desrespeito à soberania do país invadido abre um precedente para novas intervenções de países mais poderosos sobre nações com menor poderio.
"O sistema internacional pode ser rachado, abalado, e nós vamos voltar para o tempo das cavernas, onde cada um faz o que quer e bem entende e não há respeito entre os povos, entre as nações. O conceito de soberania se dissolve a partir de um momento em que um estado mais forte julga que ele pode meter a mão no estado mais fraco e continuar tudo como dantes", declarou.