Ocorrências de ‘rachas’ quase dobram este ano no DF; pelo menos 40 pessoas foram presas
Número registrado até novembro é o maior desde 2019, aponta levantamento exclusivo do R7; especialista alerta para riscos da prática
Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília
As ocorrências no Distrito Federal em 2024 de corridas ilegais, também conhecidas como “rachas” e “pegas”, e a quantidade de pessoas presas por essas práticas alcançaram as maiores marcas desde 2019, segundo dados levantados via Lei de Acesso à Informação pelo R7.
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A Polícia Civil abriu investigação sobre pelo menos 16 episódios ocorridos até novembro (quase o dobro de todo o ano passado, quando foram nove episódios) e prendeu 40 pessoas em flagrante.
Além disso, os rachas deixaram pelo menos seis pessoas feridas e uma morta neste ano no DF (o maior número dos últimos anos ao lado de 2021).
O episódio fatal aconteceu em agosto, quando Lettycia Maria, 20 anos, perdeu a vida após o carro em que ela estava bater em um poste na altura do Park Way, na Epia (Estrada Parque Indústria e Abastecimento) Sul. A suspeita é que o namorado dela, motorista do veículo, estivesse disputando um racha.
Segundo os dados fornecidos pela Polícia Civil via Lei de Acesso à Informação, desde 2019 são 70 ocorrências por rachas, o que resultou na prisão em flagrante de 163 pessoas. Cinco pessoas ficaram feridas, e duas morreram nesse intervalo.
A Polícia Civil alerta que o CTB (Código de Trânsito Brasileiro) prevê penalidades para corridas ilegais e exibições não autorizadas de manobras perigosas.
Participar de rachas é crime e infração gravíssima, que acarreta em suspensão do direito de dirigir e apreensão do veículo, além de possibilidade de recolhimento do documento de habilitação e remoção do veículo. A pena para quem pratica corridas ilegais é detenção de seis meses a três anos.
Para inibir essas disputas, a Polícia Civil realiza fiscalização e monitoramento com câmeras de segurança em pontos estratégicos. “As câmeras de segurança, pardais e outros mecanismos de monitoramento instalados na cidade são ferramentas eficazes para registrar infrações de trânsito. Esses dispositivos podem capturar imagens e vídeos que auxiliam na identificação de veículos e condutores envolvidos em práticas ilegais. A identificação precisa do motorista depende da qualidade das imagens e de procedimentos investigativos complementares conduzidos pela PCDF”, explica a corporação.
Riscos da prática
O especialista em trânsito Wellington Matos diz que racha é aquela corrida combinada na hora, quando os motoristas estão na rua, se encontram e fazem o racha. E o pega é a corrida combinada, com data e local marcado.
Matos frisa que a disputa de corridas ilegais coloca em risco outras pessoas. “Infelizmente, quem normalmente tem a vida ceifada é alguém que não tem nada a ver com a história. É um outro veículo que estava apenas passando no local e é atingido”, lamenta.
Segundo ele, se as pessoas tivessem punições efetivas, as práticas poderiam ser reduzida. “O ponto importante seria a educação. Precisamos formar melhor os nossos condutores. Precisamos ter motoristas que tenham realmente conhecimento da lei, que saibam lidar com ela, que entendam de direção defensiva”, diz.
O especialista alerta para a banalidade das disputas, que muitas vezes começa “porque um [motorista] olhou atravessado para o outro”. Ele também alerta para o aumento da prática entre o público mais velho.
“Hoje, inclusive, a gente percebe uma situação bem adversa. O jovem de 16, 17 anos, antes estava louco para tirar carteira [de motorista]. Hoje eles usam carros de aplicativo, e quem realmente disputa essas corridas são pessoas mais velhas”, comenta.
Para Matos, é necessário uma atuação estratégica e em diversas frentes para combater o crescimento de corridas ilegais. “Muitas vezes, a gente coloca na conta da fiscalização, mas a fiscalização não pode estar em todos os lugares. Temos um número limitado de agentes. Por isso, o monitoramento por câmeras pode auxiliar, assim como o uso de radares”, defendeu.
O especialista acredita que é na educação e conscientização que está a resposta para a redução das infrações. “São poucos os crimes de trânsito que podem evoluir para o crime doloso [quando há intenção de matar], e o ‘racha’ e o ‘pega’ podem, porque você assume o risco. Se a pessoa percebesse a punição que tem, que pode chegar a dez anos, a prática poderia diminuir. Por isso, é tão importante uma educação efetiva na formação do condutor, e desde criança, ainda na escola”, disse.