ONU critica 'resposta inicial lenta' do governo para encontrar Bruno e Dom Phillips
Porta-voz do Alto Comissariado afirmou que governo deve garantir a segurança de jornalistas e de defensores dos direitos humanos
Brasília|Sarah Teófilo, do R7, em Brasília
Porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani afirmou nesta sexta-feira (10) que a resposta inicial foi "lenta" em relação ao desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista britânico Dom Phillips. Ela disse ainda que "o governo precisa empregar todos os esforços possíveis para ajudar a localizar esses dois homens".
"Agora, saudamos que após decisão judicial as autoridades tenham empreendido mais meios para procurar esses dois homens. Mas, inicialmente, a resposta foi lenta e eu entendo que foram os grupos da sociedade civil, incluindo as populações indígenas, que estavam na liderança para tentar descobrir o que aconteceu com eles", afirmou.
Quando perguntada sobre a fala do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que chamou de "aventura" a ação de Bruno e Dom Phillips, Ravina frisou rejeitar "qualquer tipo de discurso de ódio contra jornalistas, defensores de direitos humanos e outros". "Chamamos as autoridades para que protejam e empoderem jornalistas, defensores de direitos humanos, indígenas, reconhecendo seu papel importante na divulgação das informações, principalmente, nessas áreas remotas", ressaltou.
Antes das falas, a porta-voz leu um comunicado no qual dizia que a ONU está preocupada com "a contínua falta de informações sobre o paradeiro e o bem-estar do jornalista britânico Dom Phillips e do defensor dos direitos indígenas brasileiros Bruno Araújo Pereira no Vale do Javari, uma área remota na Amazônia ocidental do Brasil".
No comunicado, ela pediu que as autoridades brasileiras redobrem os esfoços para encontrar os dois. "Com a urgência tendo em vista os riscos reais aos seus direitos à vida e à segurança. Portanto, é crucial que as autoridades nos níveis federal e local reajam de forma robusta e rápida, inclusive, empregando plenamente os meios disponíveis e os recursos especializados necessários para uma busca eficaz na área remota em questão", afirmou.
Bruno e Dom estão desaparecidos desde o último domingo (5), depois de irem a uma comunidade ribeirinha. Eles deveriam ter chegado na tarde do mesmo dia à cidade de Atalaia do Norte, no Amazonas, mas depois de terem entrado no barco que utilizaram, não foram mais vistos.
Na segunda-feira (6), a Coordenação da Organização Indígena (Univaja) informou que os dois estavam desaparecidos havia mais de 24 horas e que faziam o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte. Na quinta-feira (9), a Justiça do Amazonas decretou a prisão temporária de Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, por suspeita de envolvimento no desaparecimento de Bruno e Dom.
No comunicado, a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas elogiou os grupos da sociedade civil que têm coordenado esforços para localizar os dois e frisou uma preocupação com "o contexto mais amplo de constantes ataques e perseguições enfrentados por defensores de direitos humanos, ambientalistas e jornalistas no Brasil".
"As autoridades têm a responsabilidade de protegê-los e garantir que possam exercer seus direitos, inclusive, à liberdade de expressão e associação, livres de ataques e ameaças. Reiteramos também nossos apelos pela proteção dos direitos dos povos indígenas no país, particularmente aqueles em isolamento voluntário ou contato inicial. As autoridades devem adotar medidas adequadas para garantir seus direitos à terra, territórios e meios de subsistência tradicionais", relatou.
Sem esforço
Em uma petição enviada ao Supremo Tribunal Federal nessa quinta-feira (9), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil afirmou que "apesar de veicular publicamente que está trabalhando neste sentido, o governo federal não está, de fato, empreendendo os esforços necessários".
"Desde que tomou conhecimento do fato, o movimento indígena e seus aliados têm movido, incansavelmente, esforços para encontrar Bruno e Dom, bem como oficiou, imediatamente, todas as autoridades e órgãos competentes brasileiros, informando as graves circunstâncias do desaparecimento, alertando para a urgência da intervenção do governo federal e a necessidade de ações conjuntas", relatou.