PF apura se fraude em cartões de vacina serviria para investigados ficarem fora do país em golpe
Corporação diz que fraude em vacinação poderia ter servido para que investigados ficassem fora do país em caso de golpe
Brasília|Augusto Fernandes e Gabriela Coelho, do R7, em Brasília
A Polícia Federal tem suspeitas de que a associação criminosa indiciada por fraudar os registros de vacinação contra a Covid-19 do ex-presidente Jair Bolsonaro e de pessoas próximas a ele tem relação com a investigação da corporação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Nesta terça-feira (19), Bolsonaro e mais 16 pessoas foram indiciadas pela falsificação de carteiras de vacinação. O ex-presidente, por exemplo, foi acusado pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informações. No relatório que embasou a investigação, a PF diz que os integrantes da associação criminosa poderiam ter se valido da fraude para ficar fora do país caso o golpe fosse consumado.
De acordo com a Polícia Federal, o grupo usou a estrutura do Estado para obtenção de vantagens ilícitas, no caso a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina.
Segundo a corporação, isso “pode ter sido utilizado pelo grupo para permitir que seus integrantes, após a tentativa inicial de Golpe de Estado, pudessem ter à disposição os documentos necessários para cumprir eventuais requisitos legais para entrada e permanência no exterior (cartão de vacina), aguardando a conclusão dos atos relacionados a nova tentativa de Golpe de Estado que eclodiu no dia 08 de janeiro de 2023”.
Ordem de Bolsonaro
O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, disse em delação premiada à Polícia Federal que o ex-presidente o ordenou a fraudar os registros de vacinação contra a Covid-19 dele. O ex-ajudante de ordens afirmou, ainda, ter entregado os documentos falsificados nas mãos de Bolsonaro.
A PF constatou que o ex-presidente “agiu com consciência e vontade” ao exigir que o documento dele fosse fraudado para que constasse o registro de vacinação contra a Covid-19. O ex-presidente negou à PF que tenha feito a solicitação.
A Polícia Federal indiciou Bolsonaro pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informações. Ambos os delitos estão previstos no Código Penal, e a pena máxima para os dois crimes somados é de 15 anos de prisão.
De acordo com a investigação, a partir da solicitação da pessoa que queria se beneficiar com o certificado de vacinação falso, Cid encaminhava o pedido de inserção dos dados falsos para o ex-major do Exército Ailton Gonçalves Barros, que repassava as informações do beneficiário e o pedido para o então secretário municipal de Governo de Duque de Caxias, João Carlos Brecha — que inseria os dados falsos no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde.
A Polícia Federal constatou que “não há nos autos elementos que indiquem que Mauro Cesar Cid, Ailton Barros e João Carlos Brecha se uniram em unidade de desígnios para inserir os dados falsos à revelia do então presidente da República Jair Bolsonaro”.