Logo R7.com
Logo do PlayPlus
R7 Brasília

Plano Safra e crise do Pix: falhas na comunicação do governo prejudicam imagem de Lula

Lula tem pior avaliação em três mandatos; segundo especialistas, sem rumo definido, comunicação do governo fica ineficaz

Brasília|Carlos Eduardo Bafutto, do R7, em Brasília


O anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na tarde de sexta-feira (21) da liberação, via MP (medida provisória), de cerca de R$ 4 bilhões em créditos extraordinários, para manter as linhas de crédito do Plano Safra 2024/2025, veio na esteira de mais uma crise causada por tropeços na comunicação do Ministério da Fazenda. A mais recente até então era a que ficou conhecida como “crise do Pix”.

Segundo especialistas, essas e outras falhas podem ter relação direta com a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrenta sua pior avaliação em três mandatos. O petista tem 24% de aprovação.


No caso do Pix, houve críticas dentro do próprio governo. Na ocasião, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse ser preciso alinhar as medidas com a comunicação. “Não pode publicar para tentar explicar depois. Explique antes e depois publique”, afirmou.

Já a medida anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernado Haddad, na sexta-feira ocorreu após reações do agronegócio e de parlamentares à suspensão das linhas subsidiadas do Plano Safra. Após o anúncio do corte, feito na quinta-feira (20), representantes do setor afirmaram que a suspensão colocaria em risco “a continuidade da produção agropecuária” e indica má gestão do governo num momento de alta dos juros. O Plano Safra é um programa do governo federal para apoiar o setor agropecuário, com a oferta de linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas.


Para o cientista político André César há muitas vozes no governo que nem sempre vão na mesma direção. “Há um problema estrutural que é a questão do ‘gigantismo desse governo’. Houve a tal da frente ampla com diversos partidos para ganhar a eleição. Mas governar é diferente. A disputa por espaços, com setores do governo se acotovelando, somada atropelos da comunicação acaba atrapalhando a avaliação”.

Na avaliação de André César, em seus dois primeiros governos, o presidente Lula tinha uma marca forte que era o Bolsa Família. “Hoje não há mais nenhuma”, afirma. “E a má comunicação vem também da dificuldade de implementar políticas públicas efetivas”, acrescenta.


O especialista pondera que sem um rumo definido dentro do governo, de nada adianta trocar o ministro da Secom. Em 14 de janeiro, o publicitário Sidônio Palmeira tomou posse como ministro-chefe da secretaria no lugar de Paulo Pimenta. “Não adiantaria contratar o melhor marqueteiro do mundo se o governo não tem o que entregar. É um problema de base”, afirma. “E não acho que haverá avanços nessa segunda metade do governo Lula”, acrescenta.

Outro especialista ouvido pelo R7, o analista político Daniel Pinheiro, afirma que “a figura carismática de Lula” já não é suficiente. “Embora tenha funcionado em campanha, desta vez, ao contrário dos dois primeiros mandatos, temos uma população que apesar de tê-lo eleito, tem urgência em algumas questões, especialmente no campo econômico”, pontua. “Assim, o governo ficou muito vulnerável, pois tem comunicado muito pouco as medidas efetivas e não tem trazido de forma prática, didática e objetiva resultados positivos ao público”, acrescenta. Somado a isto, a visível alta em alguns preços, especialmente preços em produtos sensíveis como a carne (que foi promessa de campanha) ou o café, que domina a pauta do brasileiro nos últimos dias, dá uma sensação ainda maior de um contexto ruim", afirma.


Pinheiro afirma que o governo não tem conseguido se conectar com a população. “Seja por uma confiança muito grande de que o carisma do Lula repetiria os feitos em governos dele anteriormente, seja por uma crença de que as mudanças viriam rapidamente, quando na verdade bastaria ver que encontraria muitas barreiras no Legislativo”.

Para o analista político, o maior desafio para Lula neste momento é mostrar resultados efetivos, “se descolando do discurso demagógico ou de frases de efeito. É preciso mostrar de forma clara os esforços e resultados já alcançados”, analisa. “Se continuar a deixar a incerteza dominar, é provável que a popularidade caia ainda mais, e se torne um processo mais difícil de reverter, comprometendo não só uma reeleição, mas o próprio governo, caso se intensifique”, alerta.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.