PM que ameaçou 'arrebentar' aluno em escola do DF será afastado
Caso também é investigado pela Promotoria de Justiça de Defesa da Educação do Ministério Público do Distrito Federal
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
O policial que ameaçou "arrebentar" um estudante do CED 1 da Estrutural vai ser afastado das atividades, informou a PMDF (Polícia Militar) nesta terça-feira (10). A escola cívico-militar tem sido palco de desentendimentos entre professores, estudantes e a gestão militar nos últimos dias. Na semana passada, a vice-diretora, Luciana Martins, foi exonerada do cargo após criticar um tenente que atua como diretor disciplinar da escola.
Segundo a PMDF, o episódio é um caso isolado que "não corresponde com a filosofia do projeto e com o comportamento dos demais profissionais". "Sobre a possível ameaça envolvendo um policial militar e um aluno da escola, informamos que o caso será apurado e que os responsáveis serão afastados das atividades", informou a corporação.
Leia também: Governo quer criar 89 escolas cívico-militares em 2022
Nas imagens, o militar discute com um aluno dentro de uma sala e manda o estudante "baixar a bola". Em seguida, afirma que vai "arrebentar" o jovem. "Bota a mão pra trás, você. Tô falando sério. Tu não é machão? Lá em cima tu não é machão? No meio dos outros tu não é machão?", diz o policial.
Em outro trecho do vídeo, os estudantes são disciplinados no corredor da escola. "Vocês estão vendo, né, a opressão que nós sofre [sic] aqui?", diz o estudante que grava a cena. Assista ao vídeo:
O caso também é investigado pela Proeduc (Promotoria de Justiça de Defesa da Educação) do MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal). "A situação já vinha sendo acompanhada e a Proeduc está atenta para garantir o funcionamento adequado das escolas de gestão compartilhada", informou. A CLDF (Câmara Legislativa do Distrito Federal) também acompanha o caso.
Os desentendimentos no colégio cívico-militar se desdobram há pelo menos um ano, mas foram acentuados após a exoneração da vice-diretora da instituição. Luciana Martins foi dispensada do cargo na semana passada, após o vazamento de um áudio em que ela critica o tenente Aderivaldo Cardoso, diretor disciplinar da escola.
Leia também: Escola é notificada por instalar câmeras em banheiro
Em nota, a Secretaria de Educação informou que Luciana foi afastada do cargo porque está sendo investigada em procedimento administrativo. No entanto, a pasta não explicou se o motivo da investigação tem relação com o desentendimento com o militar. Outro nome foi indicado para ocupar a vaga na escola.
Exoneração
A educadora disse ter sido alvo de perseguição por parte dos militares, e que a dispensa dela ocorreu sem comunicação prévia. "Fiquei sabendo [da exoneração] pelo Diário Oficial. Só depois da publicação o diretor da regional me ligou. Pelas leis, eles teriam que motivar a decisão; eu não tenho nenhum processo disciplinar, e, se tenho, não chegou para mim. Não tive direito ao contraditório e ampla defesa."
Sobre o áudio, Luciana justificou que foi um desabafo com uma amiga e que foi gravado fora da escola. "Posso ter exagerado no áudio. Era uma conversa pessoal, no sábado de manhã, um desabafo que foi vazado, em que eu questionava as atitudes dele."
Ela ainda alegou que não é adversária da gestão militar, mas disse que há "excessos" no tratamento dado aos estudantes. "Não culpo os policiais. Nunca fui contra [a gestão compartilhada], pelo contrário, votei favoravelmente no plebiscito que legitimou este projeto e reconheço os benefícios. Apenas não aceito tudo calada."
A reportagem também procurou o tenente Aderivaldo Cardoso, que disse ter pouco contato com Luciana desde que assumiu o posto na escola, há três meses. Ele também está afastado das atividades, mas por questões de saúde. A Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal saiu em defesa do militar e disse que o fato de a educadora ter sido exonerada não tem relação com o áudio vazado.
"A professora mencionada na reportagem foi exonerada porque não se alinhava com o que a comunidade elegeu, que é o projeto das escolas militares, que foi submetido a votação, escolha e, por fim, foi implantado na Estrutural por decisão democrática da própria comunidade", diz a nota.
Cartazes geraram desconforto em militares
Em novembro, a escola protagonizou outra polêmica, quando alunos fizeram cartazes com desenhos, textos e charges que relatavam casos de racismo, discriminação e violência de policiais contra pessoas negras no Dia da Consciência Negra.
Segundo a vice-diretora, a gestão militar da escola teria questionado os trabalhos e pedido que os cartazes fossem retirados. "Eles perguntaram se não tinha um tipo de fiscalização sobre o professor de história. Desde essa época, em que tivemos problemas com os cartazes, os policiais não me deram mais paz", disse Luciana ao R7. Em 2019, a gestão militar também foi criticada por apagar um grafite com o rosto de Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul.
O CED 01 atende cerca de 1.100 estudantes dos ensinos fundamental e médio e educação de jovens e adultos e foi um dos primeiros a receber o modelo de gestão compartilhada, em fevereiro de 2019.