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R7 Brasília

Polícia apura caso de sargento que ameaçou 'arrebentar' aluno de colégio cívico-militar no DF

Segundo o Palácio do Buriti, episódio é um 'caso isolado' e não reflete a realidade das escolas que seguem esse modelo 

Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília

Vídeo circula nas redes sociais e mostra policial dizendo que vai 'arrebentar' adolescente
Vídeo circula nas redes sociais e mostra policial dizendo que vai 'arrebentar' adolescente

A corregedoria da Polícia Militar acompanha o caso de um policial que aparece em um vídeo intimidando um aluno do CED 01 da Estrutural. A escola cívico-militar do Distrito Federal tem sido palco de desentendimentos entre professores, estudantes e a gestão militar. Na última terça-feira (3), a vice-diretora, Luciana Martins, foi exonerada do cargo após criticar um tenente da PM.

Nas imagens, o sargento discute com um aluno dentro de uma sala. O militar manda o estudante "baixar a bola" e, logo depois, afirma que vai "arrebentar" o jovem. Em outro trecho do vídeo, os estudantes também são disciplinados no corredor da escola. "Vocês estão vendo, né, a opressão que nós sofre [sic] aqui?", diz o estudante que grava a cena. Assista ao vídeo:

Em nota, a assessoria de imprensa do Palácio do Buriti informou que o caso está sob investigação e que o episódio não "representa a realidade dos colégios cívico-militares". "A PMDF adotará as medidas administrativas cabíveis ao caso e ressalta que se trata de um caso isolado em que as circunstâncias serão apuradas, visto que toda atuação do policial militar no ambiente escolar é pautada pela legislação, a qual é estabelecida por meio de regimentos e portarias", informou.

As cenas foram gravadas durante um protesto na quinta-feira (5), quando os alunos saíram em defesa da vice-diretora, Luciana Martins, exonerada após o vazamento de um áudio em que ela critica o tenente Aderivaldo Cardoso, diretor disciplinar da escola.


Segundo uma funcionária da escola, que prefere não se identificar, as aulas estão acontecendo regularmente, mas parte dos alunos não voltou às atividades. "Na sexta, um terço dos estudantes não foi à escola por medo de retaliações e em apoio aos colegas. Hoje [segunda-feira (9)], ainda não estavam todos. E os estudantes que foram intimidados não retornaram mais às aulas", disse a servidora ao R7.

Desentendimento entre gestores

A exoneração da educadora foi publicada no Diário Oficial do DF na última terça-feira (3). Em nota, a Secretaria de Educação informou que ela foi afastada do cargo porque está sendo investigada em procedimento administrativo. No entanto, a pasta não informou se o motivo da investigação tem relação com o desentendimento com o militar. 


Após a repercussão dos vídeos em que o militar ameaça o aluno, a Secretaria de Educação voltou a dizer que o "modelo das escolas cívico-militares já está consolidado com sucesso no Distrito Federal" e que uma nova vice-diretora foi indicada para a assumir a função de Luciana, nesta segunda-feira (9).

A educadora disse ter sido alvo de perseguição por parte de Aderivaldo Cardoso, diretor disciplinar da escola, e que a dispensa dela ocorreu sem comunicação prévia. "Fiquei sabendo [da exoneração] pelo Diário Oficial. Só depois da publicação o diretor da regional me ligou. Pelas leis, eles teriam que motivar a decisão; eu não tenho nenhum processo disciplinar, e, se tenho, não chegou para mim. Não tive direito ao contraditório e ampla defesa", disse, afirmando que a convivência com os militares se tornou hostil nos últimos meses.


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Sobre o áudio, Luciana justifica que foi um desabafo com uma amiga e que foi gravado fora da escola. "Posso ter exagerado no áudio. Era uma conversa pessoal, no sábado de manhã, um desabafo que foi vazado, em que eu questionava as atitudes dele."

Ela ainda alega que não é adversária da gestão militar, mas diz que existem "excessos" no tratamento dado aos estudantes. "Não culpo os policiais. Nunca fui contra [a gestão compartilhada], pelo contrário, votei favoravelmente no plebiscito que legitimou este projeto e reconheço os benefícios. Apenas não aceito tudo calada e questiono os excessos."

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A reportagem também procurou o tenente Aderivaldo Cardoso, que disse ter pouco contato com Luciana desde que assumiu o posto na escola, há três meses. Ele também está afastado das atividades, mas por questões de saúde. A Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal saiu em defesa do militar e disse que o fato de a educadora ter sido exonerada não tem relação com o áudio vazado.

"A professora mencionada na reportagem foi exonerada porque não se alinhava com o que a comunidade elegeu, que é o projeto das escolas militares, que foi submetido a votação, escolha e, por fim, foi implantado na Estrutural por decisão democrática da própria comunidade", diz a nota. A Polícia Civil também acompanha o caso.

Denúncias de repressão

Em novembro, a escola protagonizou outra polêmica, quando alunos fizeram cartazes com desenhos, textos e charges que relatavam casos de racismo, discriminação e violência de policiais contra pessoas negras no Dia da Consciência Negra.

Segundo a vice-diretora, a gestão militar da escola teria questionado os trabalhos e pedido para que os cartazes fossem retirados. "Eles perguntaram se não tinham um tipo de fiscalização sobre o professor de história. Desde essa época em que tivemos problemas com os cartazes os policiais não me deram mais paz", disse ao R7.

O CED 01 atende cerca de 1.100 estudantes dos ensinos fundamental e médio e Educação de Jovens e Adultos e foi um dos primeiros a receber o modelo de gestão compartilhada, em fevereiro de 2019.

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