Polícia do DF investiga grupo que movimentou R$ 32 milhões em fraudes bancárias
Nove mandados de busca e apreensão foram cumpridos na manhã desta terça-feira; ao todo 18 pessoas são investigadas
Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília
A Polícia Civil do Distrito Federal investiga um grupo que movimentou R$ 32 milhões em fraudes bancárias com empréstimos abaixo dos juros do mercado. Nesta terça-feira (8), pelo menos 50 policiais civis cumpriram nove mandados de busca e apreensão contra oito pessoas que supostamente integravam a organização criminosa. O grupo era liderado por uma professora da rede pública de ensino do DF. Ela foi presa na primeira etapa da Operação Rainha do Gado, em junho deste ano.
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No entanto, o advogado de defesa da docente, Og Pereira, disse que ela é a principal interessada na apuração dos fatos e que, “por isso mesmo, vem prestando total colaboração para com todas as autoridades, desde o início das investigações”. “Além disso, por confiar plenamente Justiça, tem certeza de que, ao final, restará provada a sua inocência e dos seus familiares”, afirma (veja nota completa abaixo).
Segundo a polícia, muitos dos envolvidos são da família da professora. Ao todo, 18 pessoas são investigadas. A operação é conduzida pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia) que apura o caso há um ano e meio. Segundo as informações da delegacia, o grupo tinha um esquema fraudulento de empréstimos em bancos com a cobrança de porcentagem de participação sobre o valor obtido na instituição financeira que girava em torno de 5% a 20% do montante emprestado.
O esquema envolvia gerentes de um banco público e de bancos privados, que facilitavam a obtenção dos empréstimos com a cobrança de juros abaixo do mercado, por meio de concessão de financiamentos imobiliários. Os fraudadores também contavam com documentação falsa, que era entregue com conhecimento de gerentes das agências bancárias.
Atuação do grupo
Os alvos da operação desta terça-feira são corretores, fraudadores e intimidadores.
Os corretores eram responsáveis por oferecer condições de crédito ilícitas aos beneficiários finais dos empréstimos, agindo como uma espécie de aliciadores de clientes para o grupo criminoso.
Os fraudadores agiam criando a documentação falsa utilizada para basear os créditos obtidos. Eles falsificavam notas fiscais, procurações, escrituras de imóveis, dentre outros documentos, para fundamentar o empréstimo concedido.
Por fim, os intimidadores são os integrantes mais perigosos do grupo, responsáveis por ameaçar os clientes que tentavam desistir de obter o empréstimo fraudulento.
As informações colhidas pela investigação apontaram que os intimidadores possuem ligação com criminosos com histórico de tráfico de drogas, estupro, roubo e furto, e se utilizavam dessa conexão para ameaçar e coagir os clientes que tentavam desistir do empréstimo fraudulento.
Movimentação milionária
De acordo com informações de relatórios de inteligência financeira produzidos na primeira fase da operação, o grupo movimentou a quantia de R$ 32.789.750 em transações atípicas, apesar da renda mensal declarada da professora líder do grupo ser de R$9.433,34.
Com a segunda fase da operação, verificou-se a movimentação de outros R$ 12 milhões supostamente ilícitos, em período inferior a um ano, gerando um total movimentado de R$54.543.627,00 nos últimos cinco anos.
De acordo com a polícia, a análise do perfil das contas envolvidas, mostrou que a maior parte das movimentações, tanto a crédito como a débito, foram transferências entre servidores da Fundação Educacional do Distrito Federal, principalmente professores e agentes de serviços gerais.
A investigação apontou ainda a suposta alteração de contracheques de servidores do Governo do Distrito Federal, para aumento temporário da margem de crédito dos beneficiários do esquema.
Ainda segundo a polícia, a líder do grupo alterava contracheques do GDF através de um programa de computador, aumentando o salário bruto do beneficiário do esquema para que sua margem de crédito fosse maior e iludisse a instituição financeira responsável pela concessão do empréstimo, gerando um crédito acima da capacidade financeira do servidor.
Crimes contra o sistema financeiro
Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos nesta terça-feira em Brazlândia (DF), Gama (DF), Arniqueiras (DF), Ocidental (GO), Valparaíso de Goiás (GO) e Águas Lindas (GO). Além dos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro, por crimes contra o sistema financeiro, ordem tributária e contra a administração pública. As penas para esses crimes podem chegar a 50 anos de prisão.
Operações legais
Apesar das informações da polícia, ao R7, o advogado de defesa da professora da rede pública do DF, disse que a operações eram legais e que “não existe ‘prejuízo’ de 54 milhões e nem prejuízo nenhum para nenhum banco”. “Nenhuma instituição financeira e nem para os tomadores dos emprestimos, já que todos os bancos vêm recebendo em dia os empréstimos nos quais a professora atuou como mera consultora financeira”, alega.
A nota também informa que “as pessoas endividadas já estavam endividadas antes de contraírem os novos empréstimos, ou seja, os novos empréstimos não causaram nenhum prejuízo a essas pessoas, pelo contrário, representaram um ‘fôlego’, um pequeno alívio durante um longo período de graves dificuldades financeiras”.
“As operações bancárias foram todas legais e aprovadas pelas normas que regem os empréstimos bancários, ou seja, não houve nenhuma ilegalidade nas operações bancárias. Várias pessoas estão sendo investigadas no mesmo inquérito, por condutas que não foram praticadas pela professora. São pessoas que a professora nem sequer conhece de nome, ou seja, a imagem da professora está sendo associada a pessoas e situações sobre as quais ela não tem o menor conhecimento, acarretando a ela suspeitas injustas por atos que ela não praticou”, afirmou.
A defesa ainda acrescentou que no fim do processo, será provada a inocência da professora e dos seus familiares.