Presidente da Funai é alvo de protestos e deixa evento em Madri
Marcelo Xavier estava em assembleia sobre povos indígenas quando ex-funcionário da Funai o chamou de 'miliciano'
Brasília|Alan Rios, do R7, em Brasília
Um ex-funcionário da Funai hostilizou o presidente da fundação, Marcelo Xavier, em um evento na Espanha. Ricardo Rao protestou contra Xavier durante assembleia sobre o desenvolvimento dos povos indígenas da América Latina e Caribe, culpando o atual chefe da entidade pelo assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips.
A Funai emitiu nota afirmando que buscou providências junto à Polícia Judiciária da Espanha e vai entrar com ações judiciais por crime contra a honra e de indenização por danos morais. "Tais atitudes são irresponsáveis, violentas e antidemocráticas, inviabilizando, assim, qualquer tipo de diálogo sadio e producente". Confira a íntegra ao fim do texto.
Em vídeo divulgado pelo ex-funcionário nas redes sociais, Ricardo Rao grita contra Marcelo Xavier no auditório. “Esse homem não pertence aqui. Não é digno de estar entre vocês”, acusa. Rao ainda critica o Itamaraty e chega a chamar o presidente da Funai de miliciano e bandido.
Marcelo Xavier e outras três pessoas que o acompanhavam deixaram a sala sob protestos. "Ele é responsável pela morte de Bruno Pereira. É responsável pela morte de Dom Phillips. Você é um miliciano, bandido. Vai embora mesmo", disse Rao. Quando o indigenista e o jornalista britânico desapareceram, Xavier disse que eles tinham errado em não comunicar aos órgãos de segurança a viagem ao Vale do Javari, no Amazonas, o que foi contestado por outras entidades.
Caso Bruno e Dom
O indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips desapareceram no dia 5 de junho, após terem sido vistos pela última vez na comunidade São Rafael, nas proximidades da entrada da Terra Indígena Vale do Javari, região com o maior registro de povos isolados no mundo. A área sofre pressão há anos pela atuação de narcotraficantes, pescadores, garimpeiros e madeireiros ilegais que tentam expulsar povos tradicionais da região.
Bruno era servidor da Funai, mas estava licenciado desde que foi exonerado da chefia da Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato, em 2019. Dom morava em Salvador, na Bahia, e fazia reportagens sobre o Brasil havia 15 anos para os jornais The New York Times, The Washington Post e The Guardian.
Não é a primeira vez que Xavier é alvo de manifestações. Em junho, servidores da Funai que atuam em todo o país fizeram greve nacional contra o presidente do órgão, acusando-o de promover uma gestão “anti-indigenista” na instituição. Delegado da Polícia Federal, Marcelo Xavier chegou ao comando da Funai em julho de 2019, apoiado pela bancada ruralista.
Funai se manifesta
Fundação Nacional do Índio (Funai) vem a público manifestar repúdio aos ataques verbais proferidos contra o presidente da fundação, Marcelo Xavier, nesta quinta-feira (21), em Madri, na Espanha, durante a XVI Assembleia Geral Extraordinária do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (Filac).
A Funai lamenta o ocorrido e destaca que tais atitudes são irresponsáveis, violentas e antidemocráticas, inviabilizando, assim, qualquer tipo de diálogo sadio e producente, que deve ser sempre pautado no respeito entre as partes. A fundação entende que não se constroem políticas públicas na base de ofensas e argumentos destituídos de fundamento e provas. Tais atitudes não são compatíveis com o Estado Democrático de Direito.
A fundação informa ainda que, sobre o caso, foram tomadas providências junto à Polícia Judiciária da Espanha. É importante ressaltar que, por motivos de segurança, o presidente da Funai optou por sair voluntariamente do local do evento, dada a atitude hostil e agressiva do manifestante. Inclusive, os lamentáveis ataques serão objeto de ação judicial por crime contra a honra e ação de indenização por danos morais.
O manifestante que proferiu de forma agressiva os ataques verbais foi funcionário da Funai até o ano de 2020, tendo sido exonerado na ocasião por não ter cumprido as condições de estágio probatório. Por fim, a fundação reforça que, enquanto instituição pública, calcada na supremacia do interesse público, não coaduna com nenhum tipo de conduta ofensiva, repudia qualquer forma de desrespeito e segue aberta ao diálogo com os diferentes setores da sociedade.